Deputado do PCdoB chama indígenas de “bando de veadinho”

O deputado estadual Fernando Furtado (PCdoB) foi flagrado, em áudio que vazou ontem nas redes, insultando indígenas da tribo Awá-Guajá, durante sua participação em uma audiência pública na cidade de São João do Caru, em julho deste ano, organizada pela Associação dos Produtores de São João do Carú (Aprocaru).

O parlamentar dirigia-se a uma plateia formada basicamente por trabalhadores rurais, que debatiam a desintrusão da terra indígena Awá-Guajá. Ao referir-se aos índios, Furtado os classificou de “bando de veadinho”, “boiola” e chegou a sugerir que eles morressem de fome “porque não sabe nem trabalhar”.

“Lá em Brasília o Arnaldo [Lacerda, presidente da Aprocaru] viu os índios tudo de camisetinha, tudo arrumadinho, com flechinha, tudo um bando de veadinho. Tinha uns três lá que eram veados que eu tenho certeza, veados. Eu não sabia que tinha índio veado, fui saber naquele dia em Brasília, tudo veado. Então é desse jeito que tá: índio já consegue ser veado, boiola, e não consegue trabalhar e produzir? Negativo!”, disse.

No seu discurso, ele também criticou “a política indigenista” do Brasil. Para o comunista, ela é equivocada.

“A política indigenista, no Brasil, ela é equivocada. Uma política que garante aos índios aquilo que eles não têm direito. Não tem direito porque índio não é melhor do que qualquer brasileiro desse pais. Índios têm regalia que os outros brasileiros que trabalham não têm”, completou.

Retratação – Em nota emitida logo após a revelação do conteúdo do discurso do deputado Fernando Furtado, o PCdoB emitiu nota, por meio da qual repudiou a atitude do filiado.

Segundo a Comissão Política Estadual da sigla, “as declarações do deputado ofendem não apenas índios e homossexuais, como também a história e o programa do Partido Comunista do Brasil”.

Consideramos a declaração do deputado uma falta grave […], razão pela qual a repudiamos publicamente. No entendimento do partido, trata-se de uma equivocada manifestação individual do deputado Fernando Furtado, pelo que se espera do parlamentar a devida retratação”, diz o comunicado.

Furtado foi procurado pela reportagem para comentar o assunto, mas recusou-se a dar entrevista, na Assembleia Legislativa. Ao G1 Maranhão ele disse que deve requerer à Justiça os áudios, para analisa-los e, só então, posicionar-se publicamente.

“Eu vou requerer na Justiça todos esses áudios e vou analisar e ver se realmente procede com o que está sendo veiculado. Caso sejam meus, eu darei uma declaração”, afirmou. Mas, mais tarde, mudou de ideia e soltou comunicado alegando ter-se deixado “levar pelo calor do momento”.

Mais – Fernando Furtado (PCdoB) é suplente de deputado estadual e só está no exercício do cargo devido a um acerto promovido pelo Palácio dos Leões: o governador Flávio Dino (PCdoB) convidou para sua equipe de secretário o deputado eleito Bira do Pindaré (PSB) e abriu vaga para o colega de partido.

Direitos Humanos reagem a declarações de comunista

A divulgação dos áudios do discurso do deputado Fernando Furtado provocou reação de órgão e militantes dos Direitos Humanos no Maranhão.

Em artigo publicado na tarde de ontem, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Seccional Maranhense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MA), advogado Antonio Pedrosa, lamentou não ter sido esta a primeira vez que o PCdoB se envolveu em polêmica com indígenas.

“O problema é que o discurso anti-indígena não é uma novidade no PCdoB”, diz.

O também advogado Diogo Cabral, que milita na área de Direitos Humanos, disse que entidades como a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e a Cáritas do Maranhão formalizarão denúncias contra o parlamentar. Eles pedirão sua cassação, por quebra de decoro parlamentar, e, no Ministério Público Federal (MPF), solicitarão seu indiciamento por incitação ao ódio e atentado a etnia.

“Foi uma conduta criminosa do deputado Fernando Furtado que destaca o ódio contra a etinia Awá-Guajá que tem sido exterminada. Esse discurso do ódio do parlamentar se alinha com a prática criminosa dentro de terras indígenas e reservas biológicas aqui no Maranhão”, disse, também em entrevista ao G1 Maranhão.