Sarney comenta fake news em artigo

O enterro da verdade

Da Coluna do Sarney

Falei, na última semana, da questão da verdade. Continuo minhas reflexões. Citei o grande Unamuno – e lembro o mais espanhol dos pintores, Goya.

Goya foi o retratista insuperável da corte espanhola, mas sua obra tem uma vertente de crítica social que cresce a partir da Revolução Francesa. As guerras pela independência e contra o absolutismo no começo do século XIX foram brutais. Ele as comenta em “Los desastres de la guerra”. No fecho da série, depois das violências dilacerantes que mostra, uma gravura se intitula “Murió la verdad”: o corpo de uma jovem de seios nus ilumina a cena, sendo enterrada por guras grotescas, a Justiça caída ao lado, suas balanças no chão. A jovem é La Pepa, apelido da primeira Constituição espanhola, feita em Cádis, que vigeu de 1812 a 1814 e de 1820 a 1823 – e no começo de 1822 foi, por um dia, a primeira Constituição do Brasil. Em 2012, na comemoração dos 200 anos de La Pepa – que marcou profundamente o século XIX e foi mais influente na América que a Constituição francesa -, fui convidado para fazer a conferência de abertura do grande evento. Foi uma manhã memorável porque a solenidade se realizou no Oratório de São Felipe Néri, a capela barroca onde foi escrita a Constituição, tendo ao fundo, ornamentando o altar-mor, lindo quadro da Imaculada Conceição, considerado uma das melhores obras de Murillo.

Para Goya a verdade era o símbolo dos grandes princípios políticos da Revolução Americana, cristalizados por Jefferson como direito à vida, liberdade e busca da felicidade, e da Revolução Francesa, liberdade, igualdade, fraternidade.

Dois professores de Harvard, Levitsky e Ziblatt, estudaram Como as Democracias Morrem. Identificaram alguns padrões: a rejeição pelos políticos das regras democráticas do jogo, a negação da legitimidade aos oponentes políticos, o encorajamento à violência e as restrições às liberdades, inclusive de imprensa. Cada um deles, por si, atestaria que a democracia está em risco. No cenário norte-americano, no último século, só Nixon se enquadrara num deles – e, agora, Trump se encaixa nos quatro. E um dos seus principais instrumentos seriam as fake news.

Dizia eu, falando sobre a comunicação no mundo digital, que nele “as fronteiras entre o original e suas cópias parecem ter desaparecido. Ao não distinguirmos mais os originais das cópias, todo o problema da alteridade parece se complicar. O que era antes verdadeiro, vaga hoje na incerteza. As informações ganham valor de verdade simplesmente por estarem na internet.”

É a antiga brincadeira do telefone sem o, em que uma frase é repetida ao longo de uma roda e, ao chegar ao primeiro autor, já é outra. Na internet, uma informação alcança milhões de pessoas num instante, sem exame crítico, aceita por vir da pessoa ao lado, diante da qual desarmamos os filtros do senso crítico. A verdade é atestada pela proximidade.

A interferência russa na eleição americana, que é fake news, segundo Trump, mas não é fake news, é verdade, foi feita não com uma grande mentira, mas com milhares de pequenos incentivos nas redes sociais aos preconceitos de grupos: aos carvoeiros desempregados, aos criacionistas desconfiados da ciência, aos brancos que têm medo de pretos, aos pretos com medo dos imigrantes… As fake news são pedrinhas lançadas morro abaixo que levam de roldão pedras, matos, florestas inteiras.

Mas nós devemos também meditar sobre que dizia o padre António Vieira: que o Maranhão era a terra da mentira – e como tem mentira!

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  1. Quando se fala em Fake News o Sr. Jose de Ribamar é um mestre, um homen que que é capaz de inventar uma morte de pra ganhar uma eleição, mostra muito o quanto ele é repugnante.
    Relembre:
    Às vésperas do segundo turno da eleição para governador do Maranhão, em novembro de 1994, um tal de Anacleto Reis Pacheco apareceu na televisão, no horário eleitoral, acusando o então candidato a governador, Epitácio Cafeteira, de ser mandante do assassinato de um ex-funcionário da Vale do Rio Doce, José Raimundo dos Reis Pacheco.
    A denúncia, ecoada nos programas eleitorais, teve efeito avassalador. A então candidata do PFL, Roseana Sarney, que estava 12 pontos atrás de Cafeteira, disparou nas pesquisas e ganhou a eleição com vantagem de 1% dos votos. “Essa calúnia foi decisiva para eu perder aquela eleição”, relembra Cafeteira em reportagem publicada pela revista Veja em novembro de 2001.
    A farsa foi desmascarada em seguida, quando o “assassinado” José Raimundo dos Reis Pacheco apareceu em público gozando de plena saúde.
    Por isso é que digo que em relação a FAKE NEWS isso existe ha mais de 30 anos, só mudou o nome, mas podem chamar de mentira, trapaça!..

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