Sarney elogia “sereias que desfilam em nossas praias”

Os ventos e marés de Setembro

Da Coluna do Sarney

Os tempos mudam e as marés também. Quando eu era moço, as marés maiores do Maranhão, que assustavam as palafitas, causando estragos assustadores, eram as marés de agosto. Aquelas que invadiam tudo, destruindo as pobres casas de paus de mangue e palha das palafitas, dos mais pobres entre os mais pobres da cidade.

praiaMuitas regiões de palafitas desapareceram aterradas. Algumas delas na Liberdade, Avenida Kennedy e Areinha. Ali era uma imensa zona palafitada que se estendia desde as bordas da Quinta do Barão até quase a beira do Bacanga. Quando eu era governador, eu e minha equipe fizemos aquela Avenida e saneamos toda a área, possibilitando a primeira saída da cidade fora da Rua Grande, abrindo a Avenida do antigo Galpão, hoje Caixa de Água, até o Quartel do 24° BIL.

Transferimos os moradores dali para o Anjo da Guarda, bairro que fundamos, com a Avenida dos Portugueses, que sai da Barragem do Bacanga e vai até o Itaqui. O nome de Anjo da Guarda foi colocado por nós e formamos um grupo que executou a transferência da população, uma tarefa difícil feita por Marly, Myrtes Haickel e Joaquim Itapary.

Escrevi, com o tema das luas e marés de agosto, um romance de juventude, que era um dramalhão. Quando terminei reli e tomei a decisão de jogá-lo na maré – e assim tive como leitores os peixes.

Agora, depois de tantas décadas, vejo que as marés grandes foram transferidas para setembro, que naquele tempo era o mês dos ventos fortes, os alísios nordestinos, que traziam as caravelas portuguesas e de outros países da Europa até o Maranhão, por ser uma viagem mais curta, levando apenas 28 dias, facilitando a construção da nossa bela cidade, dos mirantes e azulejos, trazendo de Portugal como lastro as pedras de cantaria e os belos portões de pedras lavradas. O mais bonito deles, o da Quinta do Barão, antiga Barão de Bagé, casado com a filha do José Gonçalves da Silva, o Barateiro, o homem mais rico do Maranhão, que mandou grande estoque de farinha e ajudou nossas tropas na Guerra do Paraguai.

As marés moram sempre no fascínio de nossa gente. São elas que regulam a vida dos nossos pescadores, da gente de nossas praias, com a influência da lua, que mexe com a gravidez das mulheres e a menstruação das virgens.

Os franceses aqui chegaram vindo de Cancale, que tem praias belíssimas, como a pequena Plage de Port-Mer, onde come-se ostras e mexilhões dos melhores da Europa.

E defronte tem o Mont Saint Michel, de onde foi atirado o Diabo. Lá também as marés de setembro são tão grandes quanto as do Maranhão – pertinho, em Saint Malo, está a usina maremotriz da Rance, única no mundo.

Chegaram os ventos de setembro e as grandes marés e a cidade de São Luís está mais linda, com as sereias que desfilam pelas nossas praias.

2 pensou em “Sarney elogia “sereias que desfilam em nossas praias”

  1. Será q Sarney tá se referindo ao potencial de inundação do mar com a comporta colapsada da Barragem do Bacanga ?
    Dia 27 vai haver um eclipse e maré muito alta !
    É verdade q a Usina de Lá Rance é maremotriz e quase tínhamos a maremotriz do Bacanga como a primeira da América Latina !
    O Banco Mundial detonou o projeto !

  2. a que ponto chega o descaso de Sarney com o povo do Maranhão, mais precisamente os mais pobres dos pobres como ele mesmo descreve, tenta romantizar a miséria alheia, logo ele que foi senador, presidente da república, presidente do senado e do congresso nacional, além de governador do estado, e ainda fala dos pobres que habitavam palafitas de pau de mangue e palha quando era jovem, foi tudo isso que eu falei, teve poder nas mãos, elegeu a filha várias vezes governadora, conseguiu eleger até poste para governar o Maranhão, e não fez nada pelos mais pobres dos pobres, ao contrário, usa a miséria de um povo sofrido para tentar criar uma literatura pífia.

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