Um chefe contra um líder

Por Joaquim Haickel

Algumas pessoas que eu respeito e considero vinham recorrentemente pedindo que eu parasse de fazer críticas ao governador Flávio Dino e a seu governo, e eu até estava disposto a atendê-las.

Minha mãe disse-me que nem todo mundo aceita a opinião de outras pessoas, ainda mais sendo opiniões tão negativas como as que eu expunha. Minha mulher, disse estar preocupada com alguma retaliação que o governador pudesse fazer contra mim. Minha filha disse preferir que eu me omitisse, pois segundo ela nada ganho dizendo o que penso. Meu irmão quer que fique completamente fora da política e não apenas fora das eleições. Por fim, meu bom amigo deputado Rogério Cafeteira diz que eu me excedo ao propagar minhas opiniões… Penso que eles podem até estar certos!…

Sabe, bem que eu até tentei, porém confesso ser um fraco no que diz respeito a controlar minha necessidade de dizer o que penso, ainda mais depois que eu vi os dois primeiros vídeos da propaganda política do governador! Em um deles usa a imagem do leão da Metro, um flagrante crime contra o direito autoral e no outro, ao invés de falar de suas propostas, ataca os adversários!…

Como já disse antes, nestes quase quatro anos, nunca disse que Flávio Dino ou seus secretários são corruptos, nunca os acusei de malversação, de prevaricação ou de peculato. Jamais disse que eles cometeram apropriações indébitas ou desviaram recursos públicos. O que sempre comentei foi sobre a falta de coerência do governador, sobre sua dificuldade em ter um raciocínio e um comportamento dignos de um estadista.  Sempre disse que ele e os seus auxiliares não conseguem até hoje se desvencilhar do palanque eleitoral nem da prática da política universitária. Sempre ressaltei sua hipocrisia, maniqueísmo, sectarismo, arrogância, prepotência e messianismo, defeitos capazes de aleijar qualquer pessoa, ainda mais um político.

Flávio Dino passou quatro anos perdendo um precioso tempo, tentando destruir seus adversários, quando deveria ter destinado tamanha energia e empenho dispendidos no afã de perseguir a quem se opõe a ele e a suas ideias, para trabalhar pelo Maranhão e por seu povo.

Obstinado em eliminar seus opositores, pensando que assim teria um reinado mais duradouro, mas sendo um mau aluno de história, não atentou para a lição que nos ensina que ações de extermínio político, mais que destruição moral através de discursos vazios, insultos ou até mesmo de alguns fatos, requer substituição do poder no mesmo nível do anterior, patamar que nem em dez mandatos ele conseguiria alcançar, pois o seu parâmetro de comparação é o de chefe e a pessoa a ser superada nem está no patamar de chefe, mas sim de líder, que seria, Zé Sarney! Essa inclusive é uma tarefa para a qual um mosquitinho qualquer não estaria preparado, a menos que fosse o Aedes Aegypti, vetor de quatro vírus de doenças graves, o da Febre Amarela, da Dengue, da Zika e da Chikungunya, que acometesse fatalmente um velhinho de oitenta e oito anos que ainda se movimenta no ringue político como um verdadeiro bailarino, mistura de Mohamed Ali, Joe Louis e o nosso Zulu.

Resumindo a ópera: Flávio Dino se constituiu no maior cabo eleitoral de Roseana Sarney, que havia decidido não mais se candidatar! Tanto ele fez que a trouxe de volta! E ela veio com força! Uma força que em sua maioria não é diretamente dela, mas sim de pessoas que abominam Flávio Dino! Abominam até menos ele, mas abominam muito seus indissociáveis predicados e adjetivos: Hipócrita, arrogante, prepotente, sectário, maniqueísta, messiânico, tirânico e perseguidor.

Alguém que seja assim, por mais que faça algumas escolas municipais, asfalte alguns quilômetros de ruas e estradas, e faça muita propaganda, não consegue se impor como um verdadeiro líder, quando muito será reconhecido apenas como chefe. E chefe de uma aldeia de índios em sua maioria, migrantes e sazonais, advindos de outras tribos, para onde tudo indica, terão que voltar!…

Mudando um pouco o rumo da prosa… Haverá segundo turno e assim sendo o governador vai ter que rebolar para vencer a eleição!…

 

PS: Na foto que ilustra essa matéria vemos claramente a expressão de admiração que o chefe tem pelo líder!…

Servidor da CGU critica ataques comunistas à operação da PF

O servidor da Controladoria-Geral da União (CGU) Eden do Carmo Soares Junior usou as redes sociais para questionar a tese propagada por aliados do governo do Maranhão nas últimas horas de que José Sarney teria usado sua influência política para planejar uma operação, via Polícia Federal, contra Flávio Dino (PC do B). O servidor escreve que “o órgão não sofre de partidarismo” e que os gestores devem, sim, melhorar suas práticas.

Segundo o servidor, a operação Pegadores “foi conduzida por órgãos e servidores sérios, agentes de Estado, concursados, que não servem a este ou àquele governo”. Ele cita um argumento interessante de que “em 10 dias, não é possível” organizar uma operação que envolve órgãos, como CGU, PF e MPF da noite para o dia. Para os aliados do Governo, a troca no comando da PF (cujo comando é responsabilidade de Fernando Segóvia) foi determinante para a operação, e não os três últimos anos de ações delituosas na pasta da saúde, conforme atestou a PF.

Os tais defensores da tese de que era possível organizar uma operação de tamanha complexidade em 10 dias são definidos pelo servidor como “inocentes, imbecis e patifes demagogos”. A operação da PF no alto comando da saúde no Maranhão constatou desvios da ordem de R$ 18 milhões.

Pessoas ligadas à gestão da pasta eram executoras do esquema, de acordo com as investigações. Por causa das denúncias, o governador Flávio Dino usou as redes sociais para insinuar que o trabalho de apuração do escândalo de corrupção se trata de um plano arquitetado pela oligarquia Sarney/Murad (leia aqui).

Então tá…

Homenagem a Sarney na Ponte do São Francisco foi feita por um Dino

29_saoluisponte_maFoi o ex-governador Antonio Jorge Dino quem deu o nome do ex-presidente José Sarney (PMDB) à Ponte do São Francisco.

O caso – que agora voltou à tona depois de o deputado Othelino Neto (PCdoB) apresentar indicação ao Governo do Estado pedindo que a Ponte José Sarney seja oficialmente chamada de Ponte do São Francisco – já havia sido revelada pelo peemedebista em sua coluna, republicada neste blog.

No dia 17 de fevereiro, Sarney comemorava os 43 anos da ponte que leva seu nome com um artigo em sua coluna dominical publicada em O Estado (reveja).

Ele lembrou na ocasião a homenagem do sucessor – Antonio Dino foi seu vice e assumiu o governo em 1970, quando Sarney renunciou para disputar o Senado – e classificou a obra como “um dos meus sonhos realizados”.

“A Ponte do São Francisco era um dos meus sonhos realizados. Ela libertou São Luís de sua prisão histórica e abriu os braços para o outro lado, onde nada existia, possibilitando a criação da nova cidade – o bairro São Francisco, 400.000 habitantes em 40 anos – e dando condições de preservar o tesouro da cidade velha que a ponte salvou”, escreveu.

Ironia do destino, se foi um Dino quem deu a Sarney a honra de ter o nome registrado em uma das mais importantes obras viárias de São Luís, é também um Dino quem pode desfazer a honraria.

Apesar do sobrenome, contudo, os dois Dinos não têm parentesco, segundo contam pessoas próximas do atual governador.

El País: Sarney propõe combate à “proliferação de pequenos partidos parasitas”

20140412-183424.jpgDo Jornal do Brasil

O jornal espanhol El País publicou nesta sexta-feira uma entrevista com o deputado (SIC) brasileiro e ex-presidente José Sarney. A publicação descreveu o político como “pai de uma transição democrática com os militares, e não contra eles”.

Na entrevista, Sarney chamou atenção para os avanços econômicos e sociais no Brasil, acrescentando se tratar de preocupações que começaram em seu governo. Por outro lado, criticou o pequeno progresso no terreno político, que tornaria difícil a formação de partidos nacionais. Neste sentido, defendeu uma reforma política, como fim do voto proporcional e uninominal e o combate à “proliferação de pequenos partidos parasitas”, que teriam interesses locais e estariam sempre buscando comercializar seu apoio. “Ou reforma, ou revolução”, opinou. O ex-presidente também criticou o sistema constitucional, estrutura que chamou de “quase anárquica”, e afirmou que o país deveria adotar um regime parlamentar. Ele ainda classificou como preocupante a falta de lideranças.

Em relação à economia, Sarney garantiu que a indústria foi modernizada e que o Brasil se internacionalizou. Entretanto, apontou que o crescimento “começou a se esgotar” por não ter a quantidade necessária de investimentos para modernizar a infraestrutura atrasada e nem os recursos para atender às exigências da classe média.

Quanto à política internacional, o deputado destacou que o Mercosul está paralisado e que o país “tem vivido de costas para a América Latina”. Perguntado sobre a situação crítica na Venezuela, Sarney disse que é “parte da hipoteca da Guerra Fria e das contorções da liberdade”. Completou assegurando que “no Brasil não há nenhum perigo de contágio do populismo bolivariano”.

Quando o Maranhão entrou na conversa, o ex-presidente ressaltou que “tudo o que significa criticar o Maranhão significa atacar o Sarney”. Segundo ele, é um estado paupérrimo, mas cresceu 15% em 2013, recebeu grandes obras de infraestrutura e conta com o segundo porto mais importante do Brasil.

O El País o perguntou, por fim, se ele seria novamente candidato ao Senado. Sarney sorriu e respondeu que”pessoalmente, preferiria descansar”. O jornal afirma ter ficado implícito que o político “voltará a arena”.

COLUNA DO SARNEY: Ponte do São Francisco: 43 anos

Amanhecia o dia 14 de fevereiro de 1970. Eu comemorava uma grande vitória. Tinha feito tudo para não deixar o Governo do Estado sem inaugurar a Ponte do São Francisco que o governador Antonio Dino colocou o nome de José Sarney. Abri a janela da pequena casa da Avenida Beira-Mar, onde morava, ali no pé da muralha. Isso porque o palácio estava sendo restaurado por mim para entregá-lo ao meu sucessor. Abri a janela e olhei para a ponte, toda embandeirada, referência nova que alterava o visual da cidade de São Luís.

Era um dia de sol, em pleno fevereiro. Estava feliz. Tinha asfaltado toda a cidade, que encontrei esburacada e quase intransitável. Abri a Avenida Kennedy, ligando o antigo Galpão da Rua Grande, onde hoje existe uma Caixa d’Água (também feita por mim). Abri a Avenida dos Franceses (todos nomes colocados por nós), reformulei o sistema de água da cidade, coloquei a energia elétrica de Boa Esperança e renovei a rede de distribuição de energia elétrica na cidade. Fiz a Barragem do Batatã. E estava então concluindo a Barragem do Bacanga. Estava pronto o Porto do Itaqui. Abri e asfaltei a São Luís-Teresina. Deixava criada a Universidade Federal do Maranhão e as cinco faculdades que formaram a Uema. Implantei a primeira TV Didática e Educativa do Brasil (então Cema). Construí a ponte do Caratatiua, a primeira a cruzar o Rio Anil. Implantei uma escola por dia, um ginásio por mês e uma faculdade por ano. Tirei o Maranhão da letargia em que se encontrava. Era uma nova mentalidade. A certeza de que marchávamos para um novo tempo estava na cabeça de todos. E marchamos. O Maranhão mudou. Por isso hoje somos o 17º PIB brasileiro e o 2º porto do país, um dos 10 maiores do mundo.

Eu ia deixar o Governo naquele próximo mês de março, dali a um mês (estávamos em fevereiro de 1970). Todo o Maranhão cantava o hino do Maranhão Novo. Tivemos posteriormente um presidente da República que devolveu a democracia aos brasileiros, trouxe a Vale para o Maranhão e construiu a Norte-Sul.

A Ponte do São Francisco era um dos meus sonhos realizados. Ela libertou São Luís de sua prisão histórica e abriu os braços para o outro lado, onde nada existia, possibilitando a criação da nova cidade – o bairro São Francisco, 400.000 habitantes em 40 anos – e dando condições de preservar o tesouro da cidade velha que a ponte salvou.

Quero soprar a velinha do seu 43º aniversário. Ela é minha querida filha, tem meu nome, mas, sobretudo ocupa um espaço de felicidade na minha vida. Ela é um marco na história da cidade de São Luís. Gerou uma nova vida para a São Luís, encheu os seus pulmões, tornando-se um exemplo que contrasta com o que aconteceu nos outros estados do Brasil. As terras do outro lado foram compradas para o Ipem, evitando a especulação. Um exemplo de honestidade e de seriedade na vida pública.

Floresceu o bairro Calhau, todo o conjunto que ficou na margem direita do Anil, com todos os equipamentos de uma cidade moderna e abriu as praias para os pobres.

A ponte é jovem. Vejo-a bonita e recordo os ventos e o povo que comigo atravessava a pé as águas do Rio Anil. Daqui a 100 anos vai ter a festa da ponte. Hoje, só eu lembrei-me dela, e Bandeira Tribuzi que está no céu está cantando em sua homenagem a Louvação a São Luís.

Então, se lembrará o que ela significou para a grande cidade que vai cada vez mais crescer.

COLUNA DO SARNEY: A coisa

A coisa é mistério. Querer desvendá-la, tarefa a que só os mais de 90 anos da Folha podem aspirar: um convite a ficar “por dentro das coisas”, para falar “coisa com coisa”. Coisa de inteligência e possível numa campanha instigante de aniversário, digna de ver a coisa como a coisa é.

Na política, a coisa sempre foi motivo de grande especulação. Lembro-me de uma história que contavam quando Juscelino resolveu enfrentar o veto dos ministros militares à sua candidatura à Presidência da República. Reagiu, foi à Convenção do PSD e pronunciou a famosa frase: “Deus poupou-me do sentimento do medo”, da qual Autran Dourado afirmava ter sido o autor e a versão mais corrente é que a autoria seja de Augusto Frederico Schmidt.

Benedito Valadares, prudente e arguto, quando encontrou Juscelino, a quem tinha lançado na política, perguntou-lhe, irritado: “Você ficou doido? A coisa está mesmo preta, Juscelino.” Este revidou: “Não tenho mais medo de coisa nenhuma.” Daí surgiu a famosa frase de Valadares que Tancredo gostava de repetir: “O Juscelino está querendo ser Tiradentes com o pescoço da gente.” Era a antevisão da coisa, que não chegou naquele tempo, mas baixou em 1964.

Li, há muitos anos, em Tobias Monteiro, a teoria de que no Império existia uma “coisa” estranha. Quando uma situação de calmaria, um tempo de tranqüilidade se instalava, de repente, sem motivos aparentes, as nuvens se carregavam e surgia uma tempestade inesperada, a coisa que toldava o ambiente. E tudo ia para trás. No Rio de Janeiro, no tempo dos golpes, o comum para se aferir o termômetro da crise era a expressão: “A coisa está séria, a Vila Militar vai descer.” Vila era sinônimo da coisa. Agora, a coisa está nas Bolsas, nas notícias de corrupção e até na precaução que devemos tomar, com a cautela de um neologismo nascidos dos recursos tecnológicos: “Seu telefone está coisado.”

Shakespeare colocou nos lábios de Hamlet a dimensão desse conceito misterioso, enigmático e imponderável da coisa quando ele diz a Horácio: “Há mais coisa entre o céu e a terra do que sonha a tua vã filosofia.” O povo traduz na forma popular: “Há mais coisa no céu além dos aviões de carreira.”

O importante no compreender a coisa é saber a natureza da coisa. A coisa é concreta, mas a coisa de que falamos é substantivo abstrato. Ela existe, mas não existe. Vive em latência, não é nada, e é tudo. Defini-la é ter o sentido da indefinição.

Também existem outros tipos de coisa.

Tenho um amigo, austero ministro de um tribunal superior, que, nos tempos de jovem, fez uma música falando de outras coisas que dizia: “Muita coisa eu tenho a dizer/ tantas coisas eu tenho a falar/ mas não vim para te convencer/ eu vim só patati, patatá.”

O presidente da República, por exemplo, quando fala uma coisa é uma revelação do que vai acontecer. Mas, às vezes, não acontece, porque é da natureza da coisa ser o oposto da máxima absolutista: “Palavra de rei não volta atrás.”

Também serve para definições amargas. Clemenceau, o “Tigre” da Primeira Guerra Mundial, que era médico e político, desabafou, com sarcasmo: “As duas coisas mais inúteis que conheci na França foram a presidência da República (parlamentarismo) e a próstata.”