Campanha barata

Os números apresentados à Justiça Eleitoral pelos candidatos à Prefeitura de São Luís mostram que a campanha deste ano está mais modesta. As doações estão mais escassas e os gastos, bem menores.

Pelo site do Tribunal Superior Eleitoral, TSE, a maioria das doações apresentadas até agora pelos candidatos veio dos partidos. Doações por pessoas físicas são raras. Há ainda na contabilidade os gastos de recursos próprios do candidato.

A campanha de 2016 se ajusta ao cenário de crise econômica. Quem mais gastou até o momento foi o candidato Edivaldo Holanda Júnior (PDT), que informou ter gasto cerca de R$ 520 mil, dinheiro conseguido pelo seu partido, e R$ 90,00 em doação de pessoa física.

Eliziane Gama (PPS) gastou até o momento pouco mais de R$ 302 mil, sendo que R$ 2 mil são de recursos próprios e o resto veio do PPS. Fora esses dois, somente um outro candidato tem gastos na casa de dois dígitos: Wellington, que disse ter gasto somente R$ 32 mil. Eduardo Braide (PMN), Rose Sales (PMB) e Cláudia Durans (PSTU) tiveram gastos inferiores a R$ 7 mil. Fábio Câmara (PMDB) e Valdeny Barros (PSOL) informam não ter gasto nada.

Para uma campanha, cujo limite de gasto é de R$ 4 milhões, os candidatos estão bem longe desse valor, pelo menos até agora, quando a campanha já vai chegar na metade.

Da coluna Estado Maior, de O Estado do Maranhão

COLUNA DO SARNEY: “O boi está triste”

A herança

O boi está triste. Sem sua madrinha, sua presença, que enchia a cidade de São Luís, tornou-se discreta, quase ausência. A tristeza do povo do Maranhão, que se tornou cotidiana, chegou a suas bases culturais, que sempre foram forças de resistência e de identidade, deste grito de alma que é em todo o Brasil o carnaval e aqui se expressa com toda a força nas festas juninas.

Essas tradições são bem brasileiras, por serem mestiças. Já falei muitas vezes da herança açoriana, mas há também, e muito forte, heranças indígenas e africanas.

Os Açores são ilhas perdidas – ou melhor, encontradas pelos portugueses em 1431, na época do infante Dom Henrique – no meio do oceano, a 1.600 quilômetros de Lisboa. Os portugueses se agarraram nelas, as cultivaram e plantaram. E criaram gado bovino. Em algumas ilhas ainda se distingue perfeitamente as relheiras, os sulcos gravados nas pedras pelos carros de boi através dos séculos.

O grande poeta Vitorino Nemésio, nascido na Ilha Terceira, deixou muitos registros de boi: “Fui criada com bezerros, / Costumadinha com bois: / O pior foram as farpas / Que me vieram depois.” E diz que sua terra “cheira a lava e a pelo de boi”.

Pois bem. Essa gente, vinda do Minho ou do Algarve para as ilhas, teve sua hora de partir também. Veio para Santa Catarina, para Pernambuco, para o Maranhão… e levou sempre consigo a lembrança de sua origem. É um povo que, como dizia Odylo, “põe flores na cabeça dos bois que vai vender e nomes de mulher nos barcos em que vai morrer”. A nostalgia explodiu em cores, em dança, no auto do engano.

Mas teve uma forte contribuição, sobretudo entre nós, da prática antiga de manifestar-se pela música e pela dança. Se não sabemos muito das culturas indígenas que nossos antepassados portugueses destruíram, em sentido literal ou figurado, sabemos muito das culturas africanas dos que foram escravizados, mas não se deixaram destruir. E sua presença no bumba meu boi começa pela cor das peles que formam esse contingente que se desloca, de um lado para o outro da ilha – ou do interior do estado – dançando, tocando e cantando.

O velho Nunes Pereira, um dos grandes antropólogos brasileiros, que conheceu bem as duas culturas – a da Casa das Minas, por direito de nascença, a dos amazônidas, pela dedicação de uma vida inteira – mostrou que a origem dessa Casa, e, por consequência, do tambor de Mina e do tambor de crioula, está no Daomé, e tem profundas diferenças das culturas nagô dominantes no resto do Brasil.

Com tanta herança cultural, com a coragem da resistência às piores adversidades, o povo do Maranhão vai aguentando um e outro momento de dificuldade, e vai voltar à alegria da festa.

Eh! Boi bonito! Viva São João, viva São Pedro, viva São Marçal! Viva meu bumba meu boi.

José Sarney

COLUNA DO SARNEY: Mundo triste

Há uns 15 anos, eu participava de um debate em Xangai, na China, de uma reunião do InterAction Council – organização que congrega 40 ex-presidentes da República e chefes de governo e tem por objetivo estudar e refletir sobre os problemas mundiais -, que tinha como agenda dois pontos: 1) “Segurança da Ásia”; 2) “Problemas do Futuro da Humanidade.”

Essas reuniões, que se realizam anualmente em diferentes países do mundo, convidam também para participar experts dos assuntos debatidos. Em Xangai estavam presentes, dentre outros, Henry Kissinger, ex-secretário de Estado, e McNamara, ex-secretário da Defesa dos Estados Unidos. Da Ásia estava o Lee Kuan Yew, que faleceu no último março, fundador de Singapura e grande autoridade em assuntos do Oriente. Eles discutiam a primeira parte da agenda. Sustentava Kissinger que a China, que nunca tinha sido potência naval, estava armando-se nesse rumo, comprando porta-aviões da desmontada União Soviética e construindo submarinos nucleares e outras armas, o que certamente constituía uma ameaça ao Ocidente, uma vez que, tornando-se uma presença hegemônica no Pacífico, repetiria o Japão de 1940. Daí surgiu um longo debate sobre a necessidade de defesa do Oriente, com o problema da rivalidade secular Japão-China. O Lee Kuan Yew teve uma participação brilhante, enfrentando os pesos-pesados Kissinger e McNamara.

O outro tema, “Problemas do Futuro da Humanidade” foi mais fascinante. Começaram a ser arrolados: 1) o controle de armas nucleares e foguetes transportadores (vetores); 2) as doenças desconhecidas que iriam aparecer e as transformações no corpo humano, inclusive a maior de todas as ameaças, modificações no DNA, capazes de destruir por acaso a espécie humana; 3) conflitos localizados de difícil controle; 4) o crime organizado; 5) o narcotráfico; 6) o problema da água; 7) o balanço alimentar em países pobres, notadamente na África; 8) o desenvolvimento da tecnologia das armas; 9) o controle demográfico; 10) um sistema de organizações supranacionais encarregadas de coordenar esse problemas; 11) Migrações massivas. Este último tema foi introduzido pelo brilhante ex-chanceler da Alemanha, Helmut Schmidt, que, como um profeta, descrevia o que estamos vendo agora, e que enche de lágrimas os olhos de todos os homens que assistem ao desespero dos que fogem de morrer numa guerra para morrer no mar.

Cada um colocou uma preocupação e a lista foi se alongando, sem deixarem de ter predominância as armas nucleares, as doenças desconhecidas, a explosão demográfica, as migrações massivas e o balanço alimentar.

Mas não me sai da cabeça, quando vejo o que acontece diariamente na Europa, no desespero dos refugiados, o erro da invasão do Iraque, estopim para desestabilização do Oriente Médio, com uma conflagração incontrolável, inclusive com o exército cruel e demoníaco do EI – Estado Islâmico -, ensinando às crianças a degola – e aquele soldado com o menino inerte nos seus braços, entregando-o àquele pai que perdeu tudo o que tinha: esposa e filhos.

Assim, com a violência diária que assola nossas cidades, os crimes mais hediondos, a insegurança total e a fuga massiva que termina afogada no mar, só nos resta dizer: “Que mundo triste!”