Colombo era um herói fanático. Possuído pelo demônio da alucinação, via um mundo desconhecido e mágico, onde cresciam terras no oceano, fazia cálculos e fórmulas de distâncias irracionais e tinha pesadelos de venturas. Não era navegador. Sua profissão era delirar. Os sonhos de suas viagens tropeçavam sempre em imensuráveis pretensões. No meio das dificuldades, mais uma: a Guerra de Málaga. Mas ele não desistiu. Acompanha a caravana real, para onde se desloca, Córdoba ou Sevilha, pedindo, pregando, incendiando as imaginações da corte. Isto era por volta de 1487. E o dinheiro começou a aparecer. Um recibo do tesoureiro González: “Dí a Cristóbal Colomo (!) cuatro mil maravedís que Sus Altezas le mandara, por cédula del obispo.”
Sua nacionalidade é contestada. Ora genovês, ora sem precisão de origem. Um documento, até agora inédito, recibo, também do caixa da rainha Isabel, a Católica, chamado Pedro de Toledo, o identifica como “português” e tem o testemunho do contador Alonso de Quintanilha, do conselheiro Maldonado e do confessor Frei Hernando de Talavera.
A América foi descoberta sob o signo das mulheres. Foi a rainha quem acreditou em Colombo. Foi ela quem lhe abriu os cofres e as portas. Diz-se que o grande feito do almirante não foi ter vindo, mas ter voltado. E o meu amigo Augusto Marzagão deu a Colombo mais um título: foi o primeiro economista do mundo. Quando chegou, não sabia onde estava; quando saiu, não sabia onde esteve. E tudo por conta do governo.
As mulheres da América foram, ao longo da conquista, um deslumbramento. Ricardo Werren, que publicou um livro de muito sucesso, “A Conquista Erótica das Índias”, nos fala dessa paixão. Os descobridores ficaram, de logo, transtornados com as índias nuas. “Aquelas mulheres eram muito formosas, com os seios livres e as partes do mesmo modo, sem véu”, diz um cronista da época. É que na Europa as mulheres, com todas as visões do pecado, cultivavam os vestidos. O acosso sexual, como está na moda dizer-se, foi o primeiro crime. Diz Werren que foi uma maratona, uma carga de cavalaria. Este contato, mais do que as guerras, com a disseminação de doenças, matou mais da metade da população indígena. As mulheres serviam como fêmeas concubinas dos intendentes das tropas, serviçais. Esta página de maldição, agora, é estudada. Há exemplos fantásticos. Aguirre, governador de Tucumán, conquistador do Chile, foi o mais procriador: teve 500 filhos e um número indeterminado de amantes!
Cortez, sobre quem pesará para a eternidade o massacre do povo asteca, feroz, inteligente e hipócrita, um homem “típico do Renascimento”, tinha uma fascinação para com as índias e foi um grande promíscuo. Continuava o velho costume dos conquistadores. Horácio já recomendava possuir as “escravas”. Lembro-me de uma carta do Marquês de Pombal a Melo e Póvoas, então governador da recém-criada província do Rio Negro (Amazonas), na qual recomendava aos soldados: “Juntem-se às índias para preservar o sangue português.” Desse relacionamento surgiu uma fusão de raças e culturas, que hoje tem uma característica própria no fenômeno da mestiçagem, marca do continente americano.
A América recebeu doenças, importou sementes e exportou as suas plantas originais, como a batata, o tabaco, o milho e o tomate, mas, como revanche, exportou também a sífilis, daqui originária, cuja primeira vítima foi o arcebispo de Creta!