A Estrada de Ferro São Luís-Teresina
Da Coluna do Sarney
O Maranhão é o único estado do Nordeste que tem grandes estradas de ferro ligando-o aos vizinhos. A São Luís-Teresina, ao Piauí e ao Nordeste, a São Luís-Carajás, ao Pará, e a Norte-Sul com mais de 3.000 quilômetros, que começa em São Luís no Estreito atravessando para Goiás.
Hoje, através da última, já exportamos pelo Itaqui ferro do Pará e grãos (soja) do Centro-Oeste e Planalto Central. Para lançá-la e começá-la apanhei muito, mas hoje os que a combateram são todos louvadores dela e batem no peito pedindo perdão. Se tivessem me deixado construí-la o Brasil seria outro. Mas a deixei pronta até Estreito e a ponte sobre o Tocantins 90% concluída. O Maranhão, hoje, dispõe dela, que é e será a grande via de escoamento do Brasil Central pelo Itaqui, o melhor porto do Brasil e um dos 10 maiores do mundo. Em torno de um grande porto sempre se constrói uma grande civilização.
A São Luís-Teresina, inaugurada em 1920, depois de uma luta da Associação Comercial – entidade que mais trabalhou pelo desenvolvimento do Maranhão. Esta, em 1903, através do dr. Palmério Cantanhede, notável engenheiro, apresentou projeto para construir uma estrada de ferro de São Luís a Caxias, porque o rio Itapecuru estava secando e não tinha condições de escoar a produção dessa região, 70% do estado, e as barcaças de 80 centímetros de calado não passavam mais, detidas pelo assoreamento. Ele foi e era a grande via, que povoou e por onde circulava a vida.
Em 1965, quando assumi o governo, a estrada de ferro estava abandonada e morrendo. Com a Revolução de 64, foi criado um grupo para estudar o sistema ferroviário brasileiro que de norte a sul estava sucateado e falido. Esse estudo mandou eliminar os “ramais e estradas inviáveis”. Foi incluída a São Luís-Teresina. Ia ser eliminada, como fizeram no Pará com a Belém-Bragança, a histórica “Bragantina”, que desapareceu, foi arrancada.
Ao mesmo fim estava destinada a nossa São Luís-Teresina. Logo ela que custara tanto trabalho a nossos estadistas, que lutaram para construí-la: os maiores Benedito Leite e Marcelino Machado.
Afonso Pena eleito presidente, instado por Benedito Leite, veio ao Maranhão. Benedito, espertamente, visando à construção da ferrovia, incluiu no seu programa ir de lancha a Caxias, pelo Itapecuru, para ver as impossíveis condições de navegabilidade do rio, já há 100 anos, sem água e cheio de croas de areia, que obrigavam as embarcações, muitas vezes, a tirar a carga e usar cabos de aço amarradas às árvores nas margens e puxados por dezenas de homens e bois para sair dos encalhes. Conta-se que na viagem a lancha ia subindo rápido e Benedito Leite foi ao maquinista e pediu: “Não apresse tanto senão perdemos a estrada de ferro”.
Pois bem, em 1966 o Geipot mandava arrancar a São Luís-Teresina, como disse, arrolado como “ramal deficitário”. Perdíamos a nossa única estrada. E naquele tempo não tínhamos nenhuma estrada de rodagem, só os velhos caminhos de carro de boi como estradas, melhoradas com piçarra, só funcionando no verão, no inverno era só atoleiro, nenhum asfalto.
O ministro da Viação era o general Juarez Távora, a quem apoiara como candidato, quando concorreu com Juscelino e perdeu. Fui a ele, e intransigente, respondeu-me sem rodeios, que a São Luís-Teresina estava no rol das estradas brasileiras que não serviam para nada, acabada, locomotivas velhas, trilhos imprestáveis, dormentes podres, deficitária e sem carga. Mostrou-me o estudo, tudo era verdade, e o Ministério estava com os americanos fazendo um novo modelo ferroviário para o Brasil. Aí tive de traçar o meu plano para salvá-la e salvei. Domingo próximo contarei essa batalha.
Foi um dos cochilos pesados do antigo regime mas está em tempo de reparar este erro; reparo este que será a grande vitória do Estado no setor.