COLUNA DO SARNEY: O Liceu e sua glória

É uma notícia animadora verificar que este ano o aniversário do Liceu foi lembrado. Esse fato não é somente motivo de relembrar o velho e tradicional estabelecimento de ensino que, com 176 anos é orgulho do nosso estado. Perguntado por um repórter o que tinha a dizer sobre essa data, fui sucinto e procurei dizer tudo: “A História do Maranhão passa pelo Liceu. Sinto grande orgulho de fazer parte dessa história”.

É que por ali passaram como alunos e como professores os maiores nomes que fizeram a glória do nosso estado, desde o seu primeiro diretor, Sotero dos Reis, o grande gramático, autor da História da Literatura Portuguesa, hoje uma raridade bibliográfica, em cinco volumes.

Em 1945 entrei no Liceu Maranhense e fiz parte da primeira turma que se diplomava no prédio novo, onde até hoje funciona, depois de sair de sua velha morada na esquina da Rua do Giz com a Rua Henrique Leal. Mas o Liceu teve muitas casas. Foi fundado em 1838 numa sala do Convento do Carmo, na Praça João Lisboa. Para obras passou hospedado sete anos no Convento das Mercês, em 1898.

Começou como Liceu de Artes e Ofícios, mas logo suas cadeiras abrangiam todos os ramos do conhecimento, a começar pelo “Marítimo”, naquele tempo da navegação à vela, onde se estudava “navegação, trigonometria esférica e observações astronômicas”, para se aprender aquilo que hoje se compra por 200 reais, um GPS…

Entrei no Liceu em plena Segunda Guerra Mundial e o Maranhão era uma base dos aliados, com a cidade cheia de americanos e eu ajudava o padre Sales, reitor do Seminário de Santo Antônio, na celebração da Missa Dominical, que ele celebrava para poucos soldados americanos, na Base do Tirirical. Fui duas vezes presidente do Centro Liceísta, comandei o Colégio com José Maria Cabral Marques, no desfile com espada desembainhada, nos 7 de Setembro em que o Colégio desfilava.

Grandes nomes no Maranhão ainda

eram professores. Nascimento de Morais, que só dava 10 nas provas orais (tinha prova oral, com ponto sorteado!), de quem fui companheiro de redação no Imparcial e ele escrevia com o pseudônimo de Bras Sereno. Antonio Lopes, a quem sucedi no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. A professora de História da Antiguidade, Flor de Liz Nina e o nosso diretor, o velho Mata Roma, poeta, cujos sonetos eram recitados e faziam lágrimas nos corações românticos, como o Martírio de Tântalo: “Tão perto desse corpo e não te abraço/ Tão perto dessa boca e não te beijo”.

Eu fazia o curso clássico. Estudava-se latim, grego, italiano e o padre Newton, o grande mestre, nos fazia traduzir os poetas latinos Catulo e Ovídio, dos Tristes.

Ah! Haja saudade, na definição de Cassiano Ricardo, vontade de ver de novo, da nossa classe, meus colegas, Dayse Falcão, Maria da Graça Jorge. Elimar Figueiredo, Terezinha, Regina Borges, Djanira, Chafi, Carlos Alberto, Deomar Desterro e todos os que começavam a aventura da vida. Gerações passadas, berço de gerações futuras. Como eram belas as moças de saia azul e blusa branca, os meninos como eu, de farda de talabarte e túnica comprida ao modo militar. Liceu de glórias… Por ali passaram muitos que fizeram a história do estado: professores, governadores, cientistas, políticos e até um presidente da República.

Parabéns, meu Liceu, pedaço de mim, amor de mármore, que é eterno.

2 pensou em “COLUNA DO SARNEY: O Liceu e sua glória

  1. PENA QUE ATÉ O LICEU ESSE GRUPO MALDITO DOS SARNEYS CONSEGUIU DESTRUIR, JÁ FOI UMA GRANDE ESCOLA, COM ENSINO DE QUALIDADE, FOI, NÃO É MAIS.

  2. Bonito! Gostei muito… Acho que o Sarney perdeu muito tempo na política, se desgastou atoa. Poderia ter saído da política há 15 ou 20 anos e se tornado um escritor de memorias. Não o fez, sua ganancia foi maior!

    Uma pena !!!

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