O brasileiro cordial
Da Coluna do Sarney
Sérgio Buarque de Holanda, em seu antológico livro Raízes do Brasil, divulgou esta expressão, fazendo uma análise sociológica e procurando justificar a maneira de ser do brasileiro. O brasileiro cordial foi uma expressão cunhada pelo poeta Ribeiro Couto, que a vinculava ao lado emocional, ao aspecto do ser social, sempre aberto a conciliar, sem levantar altares à deusa mitológica Adrastea, da vingança, fugindo da violência. Talvez o tipo mais aproximado da visão de Ribeiro Couto fosse a malandragem carioca, no seu gingado, bem característico do chamado “jeitinho brasileiro”.
É um fenômeno mais passional, consagrado na expressão tão usada e comum do “cordiais saudações”. Já Sérgio Buarque analisa de outro modo dizendo que nossa cordialidade não era essa de Ribeiro Couto e popular. Ela se vinculava mais à razão do core (coração), em latim.
De repente, depois dos acontecimentos de junho ano passado, da onda de protestos e do surgimento de um ódio que se refletia na transformação de movimentos pacíficos em demonstrações de anarquia, quebra-quebra, violência pessoal, muitas pessoas passaram a nos indagar se esse movimento era o fim do mito nacional do brasileiro cordial. Esfinge teria morrido ou nunca tinha existido?
A verdade é que a sociedade brasileira está nervosa. O maranhense em particular, sempre um ser pacífico, logo adere à onda nacional e se torna um homem irracional, pronto a reagir por qualquer coisa e mesmo sem respeitar a vida, o maior bem de Deus ao homem, e mata e morre. O mais dramático é que a juventude é a mais vulnerável. 70% dos homicídios são praticados por homens entre 17 e 26 anos e o mesmo percentual é a idade das vítimas. Assim, são os jovens que matam e que morrem. Eu credito essa onda de violência às drogas, principalmente ao crack, essa desgraça que desabou sobre a humanidade, principalmente sobre os adolescentes. Os traficantes, perdendo o mercado dos consumidores de cocaína, pelo seu preço alto, desenvolveram uma droga de baixo preço, o crack, para atingir as classes mais pobres, com o seu preço baixo. O crack invadiu os presídios, alucinou delinquentes e estimulou quadrilhas e tornou o crime mais hediondo, com casos que nos levam à revolta, pela crueldade.
Ao crime, seguiu-se a onda de protestos de rua, fechamento do trânsito, desarticulando a vida das cidades e prejudicando, principalmente os mais pobres, que não dispõem de transporte e dependem do transporte público. Alie-se a isso o péssimo estado das vias públicas, as prefeituras mais preocupadas com a política do que com o bem estar coletivo.
Agora, com a proximidade da Copa, o Brasil, país do futebol, diante dessas ameaças e desse novo estado de espírito que invadiu as ruas, fica discutindo aquilo que ele tanto desejava que era ser sede de uma Copa do mundo e sair campeão dela, o nosso tanto desejado HEXA, mais uma estrela na camisa verde-amarela.
Não vamos, também, isentar o poder público de ter criado um certo nervosismo em face do atraso das obras e a FIFA querer mandar mais que os governos. Mas as coisas estão marchando para a normalidade, nessa área. Agora, na agitação das ruas há muito de política, uns achando que a desordem ajuda a oposição, quando a raiva do povo com esses transtornos, o que deve trazer é condenação e desacordo.
Também é necessário pensar que a intranquilidade só favorece o crime e estimula a cada vez mais aumentar a violência. As manifestações pacíficas são democráticas, mas as violentas são totalitárias e não ajudam o regime do povo, para o povo e pelo povo, como definia Lincoln o autogoverno.
Finalmente, encerro este artigo de domingo num apelo pela Paz e um grande NÃO à violência.
Esse último parágrafo do texto foi hilário. Violência é o que ele pratica com o povo maranhense a 50 anos. Deixa o povo maranhense em paz Sarney!