Não concordo com o direcionamento que a mídia e a opinião pública têm dado para a discussão a respeito do bullying escolar. E a capa da revista Veja desta semana – “Abaixo a tirania dos
valentões” – representa bem isso.
Antes que os críticos venham com “dez pedras nas mãos”, esclareço que não sou a favor da violência – e, mais do que minhas palavras, minhas atitudes falam por mim.
Mas sinceramente não consigo admitir essa apologia desmedida à fraqueza.
No trato do assunto, tem-se demonizado os valentões e supervalorizado os efeitos que as ameaças, as piadas e os apelidos dos tempos de escola podem ter na vida de quem sofre com isso.
A sociedade tem sido conclamada a abraçar e proteger nossas crianças dessas ameaças.
Mas as ameaças, meus caros, vêm também de crianças!
Não são adultos – ou adolescentes – contra crianças. São crianças ameaçando e achincalhando crianças.
Como na natureza, isso é seleção natural, similar à do leão, que dono do território, é ameaçado e posto dali para fora por outro, mais forte e, muitas vezes, mais jovem.
Penso que, antes de eliminar esses valentões do convívio social, temos que preparar nossas crianças para enfrentá-los. Temos que mostrar que elas não estão sozinhas, que podem (e devem) reagir e que terão apoio quando o fizerem.
De outro lado, penso que também devemos estar atentos para não apoiar os valentões. Temos que mostrar aos nossos filhos que a violência não é uma boa saída para os problemas e que devemos conviver bem também com os diferentes.
Do contrário, estaremos estimulando a criação de covardes, que, no futuro, não terão “peito” para encarar de frente os problemas que advirão. Estaremos transformando crianças de futuro brilhante em pessoas de auto-estima baixa, que pensam não conseguir superar desafios, e que estarão sempre arrumando desculpas para justificar as derrotas.
O bullying é, portanto, um problema a ser resolvido em casa, a partir das ações dos próprios pais; e na escola, com o apoio do olhar atento dos educadores.
A Justiça e instituições afins não têm nada que ver com isso.
Ou preparamos nossas crianças para vencer desafios, ou nos preparemos nós, para pagar pelas conseqüências que essa supervalorização dos fracos trará no futuro.