Transporte público em São Luís é problema de modelo de mercado

Do blog do Linhares

Ainda no começo da gestão João Castelo sugeri ao então secretário de governo Othelino Neto que a abertura do mercado no setor de transporte público seria uma saída para a péssima qualidade dos serviços prestados no setor. Na época eu defendia a tese de que os espaços deixados pelas empresas de ônibus deveriam ser preenchidos pelas vans do transporte alternativo. A cada dia tenho mais certeza disso…

Nas últimas semanas tenho lido sobre as quezilas entre transporte alternativo e prefeitura. Engana-se quem acha que o problema se resume a isso. A disputa entre prefeitura e alternativos é apenas sintoma de um quebra-cabeça muito mais complicado.

A mentalidade arcaica dos donos de empresas de transporte público de São Luís, que nutre a péssima qualidade do serviço, é óbvia. A  grande maioria deles acredita que seus veículos devem rodar apenas em horário de expediente. Como se a demanda da população se resumisse a estes horários.

Quem pega, ou já pegou, ônibus em São Luís sabe: coletivo apenas de 7h30 às 22h30 de segunda a sexta. Se quiser ir à praia em fins de semana, feriados ou se arriscar a sair a noite vai se arrepender. Existe um abismo entre a demanda da população nestes horários e o serviço oferecido pelas empresas.

Não ouvi nenhum dos donos de empresa, mas ouso elucubrar sobre a lógica torta que deve basear esse déficit: “Em horários além do expediente a demanda é pouca. O sistema precisa de usuários para se manter. Logo, o sistema não se mantém funcionando em horários além do expediente”. O caso é que, se for este mesmo o argumento,  estão comentando um erro que se retroalimenta por um simples motivo: o usuário evita sair de casa em horários além “do expediente” justamente por saber que terá que ficar horas na parada esperando ônibus. Uma tarde de diversão na praia custaria, no mínimo, alto entorno de umas três horas de sofrimento embaixo de paradas e dentro de ônibus lotados.

E de quem é a culpa? Os apressadinhos logo irão culpar o prefeito ou os donos de empresa da vez. Contudo, a raiz está no modelo de mercado fechado, arcaico e defasado que temos em nossa cidade. E isso vem de muito, muito tempo. Em São Luís transporte público legal se resume a ônibus e táxis. A variedade, bem como os horários, oferecidos ao usuário são vergonhosos. E a melhor saída para aumentar a oferta em qualquer mercado que seja é abri-lo!

Apesar de ser um apoiador da gestão Castelo, creio que o trato com os ditos “alternativos” poderia ter tomado rumos diferentes. Pois bem, logo no começo da gestão falei com Othelino. Disse-lhe que a vida de quem pegava ônibus a noite, nos fins de semana e feriados era triste. O secretario afastou-se da pasta e em seu lugar entrou Albertino Leal. Mais uma vez tentei explicar a necessidade de se abrir o mercado nestes horários e de dar aos alternativos a chance de oferecer um serviço que as empresas de ônibus estavam simplesmente se negando a prestar. Pois a SMTT (secretaria municipal de transito e transportes) apresenta um estudo sobre as maiores lacunas na oferta e a prefeitura baixa uma portaria e simplesmente autorizaria o serviço nestes horários.  A experiência serviria até mesmo como plano piloto para a reformulação do sistema pretendida pelo prefeito e iniciado no fim de 2011.

O fato é que não cheguei a conversar com o próprio Castelo sobre o caso por conta de críticas ferrenhas dos secretários de governo e transportes da época. Um deles chegou a dizer que poderia virar “máfia” como as de Rio e São Paulo. Vá lá…

A abertura do mercado e a concorrência pelos serviços em horários que transcendam o de “expediente” fatalmente iria forçar os empresários a mudarem sua mentalidade no que diz respeito ao horário comum. São coisas do mercado, sabem? Concorrência sempre faz as pessoas colocarem as barbas de molho..

João Castelo poderia ter ido além da renovação de quase metade da frota, do início da modernização do sistema e de pautar o debate eleitoral na tal da “reavaliação da concessão nos transportes públicos”. Mas, não foi… Caberá a Holandinha a tarefa solucionar o problema do mercado fechado no setor de transportes, e a única saída é a abertura.

2 pensou em “Transporte público em São Luís é problema de modelo de mercado

  1. Prezados Jornalistas,

    O CAOS no Sistema de Transporte e Trânsito tem a ver com a inoperância ou ausência de fiscalização, planejamento ineficaz, frota sucateada e, principalmente, falta de investimento no transporte coletivo de massa. É uma equação simples de enxergar, mas difícil de resolver.
    A Prefeitura precisa formular e materializar a Política Municipal Transporte e Mobilidade Urbana. A licitação dos serviços de transportes é imprescindível, porém é preciso definir o que queremos contratar, posto que o modelo atual não atende a Cidade. As tecnologias de transportes públicos estão criadas, os recursos estão disponíveis na Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbana falta, portanto, a decisão política e o projeto executivo.
    O BRT (Bus Rapid Transit) ou Ônibus de Trânsito Rápido é um sistema de transporte de ônibus que proporciona mobilidade urbana rápida, confortável e com custo eficiente através da provisão de infraestrutura segregada com prioridade de passagem, terminais de embarque e desembarque em nível de modo a possibilitar rapidez operacional. Outra importante solução é o VLT, com planejamento e projeto adequado, diferentemente do que foi vendido para a população recentemente.
    Lembrando que um novo sistema de transporte público não se cria sozinho. Sugiro a leitura da entrevista do ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa que com a sua gestão exitosa da Política de Mobilidade e Transporte, tornou-se o embaixador mundial do transporte sustentável.
    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/50729-governos-devem-cobrar-caro-pelo-uso-do-carro.shtml

  2. Concordo em genero, numero e grau com o leitor Carlos Rogerio. A ausencia de planejamento é o principal problema do caos em São Luis. Não adianta colocar mais onibus se ficarem todos presos nos engarrafamentos. Os “alternativos” so vem a precarizar mais o transporte coletivo, o que se vê nos alternativos formalizados que fazem transporte para o maiobão, são vans sucateadas sujas amassadas com pneus carecas e com varias “gambiarras” mecanicas para reduzir custos e motoristas sem preparo para transportar pessoas. O Transporte alternativo só tras beneficios para politicos demagogos e de visão miope interessados em votos e não no bem comum da população. Pergunto, esses “alternativos” pagam impostos? transportam estudantes idosos com subsidios? circulam em horarios da baixo movimento? os profissionais possuem capacitadade tecnica operacional para transportar pessoas? Planejamento e novas tecnologias de transporte essa é a solução para mobilidade urbana.

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