COLUNA DO SARNEY: Esse destino…

(Foto: Alan Marques/FolhaPress)

A minha vida é marcada pelo destino, sempre me causando surpresas. Jamais pensei ser presidente da República. No meu jeito e no meu temperamento, jamais deixei de ser feliz com a graça de viver, um simples menino de Pinheiro, um maranhense apaixonado por sua terra, ligando a palavra felicidade à minha infância nos campos de São Bento, onde fui criança e pássaro. Por teias da vida, eis que surge o 14 de março de 1985 quando todos nós brasileiros fomos atingidos pela tragédia de Tancredo Neves. Eis que cai nas minhas mãos um universo de dificuldades para fazermos a travessia para a democracia. Foram anos difíceis, mas até hoje tenho a certeza de que a sociedade brasileira mudou. Coloquei o social na agenda das prioridades nacionais e hoje temos o período mais longo da história brasileira sem crises institucionais. Como dizia Rui Barbosa, não plantamos couve, plantamos carvalho.

Moacyr Neves, meu velho amigo e uma dessas figuras inesquecíveis das cidades, e a sua era São Luís, gostava de brincar com o mistério, lendo mãos e fazendo profecias. Num desses momentos em que achava brincadeira, disse que eu ia ser presidente duas vezes. Eu nunca levei a sério. Algumas vezes, depois que deixei a presidência da República, fui procurado por líderes e partidos para aceitar candidatar-me. Jamais aceitei nem conversa. Voltei ao Senado, depois de deixar a Presidência, por apelos julgando que era necessária a minha presença naquela Casa, onde sempre tive a posição de conciliador e de harmonizar crises. Vivíamos a crise do impeachment do presidente Collor. Voltei à política e dela jamais pude sair, porque, como eu mesmo disse no meu discurso em que assumi a minha cadeira na Academia Brasileira de Letras, a política só tem uma porta, a da entrada.

Um repórter, na minha última viagem a São Luís, perguntou-me se eu ia assumir a Presidência da República na interinidade da presidente Dilma. Eu respondi: “De onde você está tirando isso?” Ele me respondeu: “Ouvi numa rádio”. Aí, eu com bom humor retruquei: “Só se for para cumprir a previsão do Moacyr Neves”.

Chegando a Brasília a presidente, alguns dias depois, me chama para dizer-me do seu desejo de prestar-me essa homenagem. Caí de costas e lembrei-me outra vez do Moacyr e disse para mim mesmo: “Eu vou aceitar para salvar o Moacyr”.

E entrei no Palácio do Planalto de novo e outra surpresa: dar posse ao general Petternelli, que no meu tempo era capitão e agora é general três estrelas, uma das lideranças do Exército e agora o segundo do Ministério de Segurança Institucional. Muitos funcionários antigos ali me cercaram, bateram fotos e com carinho me trataram. Isso é a coisa mais importante da vida. O gosto das amizades e a deferência que o povo brasileiro tem comigo. Meus inimigos fiquem com mais raiva e mais me ataquem. Eu sempre cumprirei o mandamento de Cristo que me encheu de estrelas as minhas mãos: a todos eu perdoo.

No mais, ao sair, os jornalistas me procuraram e eu disse a eles: “Estou feliz, o Brasil é outro do que eu vi no Planalto há 27 anos. Dei a minha parte. Continuo dando”. E brincando, acrescentei: “Deixo esse segundo governo sem nenhuma inflação, sem crises militares e greves, a democracia plena e Dilma no comando, grande mulher e grande governança”.

12 pensou em “COLUNA DO SARNEY: Esse destino…

  1. Meu caro Gilberto!Como é interessante,sua excelência é tão APAIXONADO
    pelo MARANHÃO e é SENADOR pelo AMAPA/AP,pode?

  2. Uma coisa é certa: O nobre Senador é deveras muito inteligente na política. Conseguiu por duas vezes conquistar a respeitável cadeira no Palácio do Planalto.

    Dessa vez a própria Presidente da República veio pessoalmente apertar sua mão e afagar seu Ego no seu Estado de origem.

    E o PT e Lula em meioa tantas crises e denúncias rendeu-se à habilidade política de Sarney que como ele próprio define …”onde sempre tive a posição de conciliador e de harmonizar crises”.

    Só um detalhe: apenas o Senador não sabia de antemão que seria empossado no cargo de Presidente depois da visita de Dilma ao Maranhão… essa até o Mução sabia Senador!!!!!!!!!!!!!!!!!

  3. Porque tanta animosidade com uma pessoa que só nos fez o bem? respeitemos seus valores e os valores de nossa terra, até porque todos devemos a êle direta ou indiretamente. Portanto o tratemos com respeito.

  4. Te achava até um cara independente e decente. Mas vejo que não passa de mais um babão da família sarney. Não sei porque? Será que é pra arrumar um emprego no “O Estado do Maranhão” Viji……

  5. Sou a filha do Sr. Moacyr Neves, tomei conhecimento dos comentários sobre terem sido citadas as previsões do meu pai pelo Presidente Sarney. É sempre gratificante saber que as pessoas são lembradas pelos amigos.

  6. Não vejo razão alguma para que se desrespeite um ser humano desta forma, principalmente quando se trata de um presidente. É cometido de erro, todo aquele que critica um homem público, ofendendo-o ou com intuito de depreciar sua imagem. Talvez, muitos dos que ofenderam o Sarney nessa coluna, o fazem por despeito, pura deselegancia ou total desconhecimento político. Nunca fui Presidente da República do Brasil, mas acredito que além do peso do cargo, é humanamente impossível agradar a todos. Isso é demoocracia!!! E sim, todo maranhense tem muitos motivos para se orgulhar de ter tido um legitimo maranhense ocupando o cargo de Presidente do Brasil.

    Criticas respeitosas e embasadas sempre serão bem recebidas, haja vista que refletem o conhecimento. Todas as demais, principalmente aquelas de origem amoral, fatidica e sem noção, se perdem com o tempo e como bobagem que são, não valem de nada, nem acrescentam.

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