COLUNA DO SARNEY: Jesus, seja louvado

Em 1964 passei em Lisboa, com Marly e Roseana, talvez o primeiro Natal fora do Maranhão. Na casa de Odylo Costa, filho, quando ele foi adido cultural em Portugal. Meu irmão de alma, faca poesia, viola e coração, em sua casa, com a santa Nazaré (sua mulher), e alguns intelectuais portugueses. A cidade estava bela, luzes e alegria em todas as partes. Comemos o “rojão”, o famoso porco de Natal cozinhado com pão, a “consoada” de Natal português, tudo regado a um bom vinho Colares de Eça de Queiroz. Nessa noite conheci um dos grandes amigos que tive na vida, Antonio Alçada Batista, grande escritor que devia ser o Premio Nobel português. Conversar com ele era como ouvir um Prelude ou Nocturne de Chopin.

Pois foi com ele, que quase duas décadas depois, na mesma Lisboa, no Tavares, tradicional restaurante português, relembrando aquele longínquo Natal de 1964, que ele me propôs um tema: “Sarney vamos falar sobre o mistério do menino Jesus, esse Deus que se fez homem e depois deu-nos um mistério maior, o da sua crucificação. Eu lhe respondi com o sermão de Vieira sobre o Natal – “Transeamus usque Betlhehem et videmus hoc Verbum” (“Vamos a Belém ver a palavra”.) Nós dois católicos chegamos à conclusão que o Natal era um mistério e como mistério fora da razão humana. É o domínio da fé, da crença, da aceitação, como aceitaram Maria e José.

Alçada já morreu, eu estou na década dos 80. Quantos Natais felizes, quantas lembranças boas, desde aquela em São Bento, na Missa do Galo, eu menino quatro anos, e recebi um dos mais belos presentes de Papai Noel, um tambor de lata, pintado de vermelho que minha mãe mandara fazer pelo funileiro do lugar. Não deixei sossegar o ouvido dos meus pais e avós, durante o dia todo e outros tocando tambor. Depois durante a vida a alegria de festejá-los com a família constituída, mulher, filhos, netos, bisnetos, noras, genros, irmãos, sem o toque das cadeiras vazias enchendo minha memória, na saudade de pais e avós.

O Natal é o mistério, nos olhos benditos desse menino recém nascido, que não podendo falar, olha com amor todos os homens e que, feito homens, nos ensina um código moral que traz aquilo que ele desejou a todos “a paz esteja convosco”.

A maior de todas as grandezas de mandamentos se resume no amor. Ele pregando que devíamos “amar o próximo como a nós mesmos”, “perdoar os nossos inimigos” não ter ódio, vingança, inveja e não herdar o gosto da graça da vida.

O mistério do Natal é esse, Deus deu a Ele mesmo a graça da vida. Escolheu seu filho para viver e a cada um de nós, também escolheu para essa graça e esse mesmo mistério da vida. Viver, a maior dádiva de Deus e aceitar as alegrais e as tristezas, as flores abertas de cores belas e murchas das tristezas. Tudo vontade de Deus. Dezembro é o mês da alegria do Natal, de Deus conosco!

Que tenham todos do Maranhão, cada um e sua família, um Natal Feliz e um Ano Novo de saúde, tranquilidade e amor.

Juntemos as mãos para, em comunhão, festejarmos juntos, como irmãos, filhos de Deus, a solidariedade e a Paz na Terra.

Louvado seja Deus e o Natal!

10 pensou em “COLUNA DO SARNEY: Jesus, seja louvado

  1. Excelente texto.
    A recordação da infância pobre em São Bento onde o pai era Juiz de Direito. Naquela época o salário de um Juiz era irrisório.
    Nesta crônica natalina Sarney evoca a viagem feita a Portugal em 1964.
    E nestas relembranças nos dá a conhecer as amizades de que já naquela época desfrutava no meio intelectual.
    Sarney sempre foi um martirizado pelas letras. Sua sensibilidade literária grita, fere e incomoda. Como homem de letras emociona e se emociona. Sente alegrias e dores alheias. E faz com que todos também participem destas alegrias e dores.
    Exímio criador de imagens.
    “Depois durante a vida a alegria de festejá-los com a família constituída, mulher, filhos, netos, bisnetos, noras, genros, irmãos, sem o toque das cadeiras vazias enchendo minha memória, na saudade de pais e avós.”
    Diferente de Picasso que retratava com o pincel pessoas, animais e edifícios para assim levar a sua mensagem a todos, Sarney usa as letras para nos mostrar, tal qual uma fotografia, imagens que o emocionaram e emocionam a todos.
    Lhano no escrever, Sarney cativa o leitor com seu estilo simples e agradável. Simples pela linguagem coloquial que utiliza, agradável por proporcionar momentos de deleite a todos os que tem a felicidade de ler este grande cronista.
    Atentem para esta beleza:
    “Viver, a maior dádiva de Deus e aceitar as alegrais e as tristezas, as flores abertas de cores belas e murchas das tristezas. Tudo vontade de Deus. Dezembro é o mês da alegria do Natal, de Deus conosco!”
    Uma belíssima crônica de Natal.

      • De tudo você pode até me acusar. Menos disto.
        Eu nunca consegui nada na vida às custas de nenhum político. Desafio um político que possa dizer que me empregou ou que me favoreceu.
        DESAFIO!
        Trabalhei como servente de pedreiro na construção da Ponte José Sarney. Foi como ajudante de pedreiro que fiz o curso ginasial, hoje equivalente ao primeiro grau. Fiz concurso e consegui um emprego, tendo que ficar alguns anos em São Paulo. Continuei com muitas dificuldades os estudos e consegui concluir o Curso de Comunicação Social na UFC-CE. Sempre sozinho, sempre sem contar com a ajuda de ninguém, sempre sem usar o nome ALMEIDA.
        E hoje, por ter achado que uma crônica foi bem escrita me aparece o senhor para me chamar de puxa saco?
        Nunca pratiquei a arte da adulação.
        Discordo e muito do Sarney político.
        Mas possuo discernimento suficiente para separar o escritor do político.
        Eu não odeio Sarney nem ninguém.
        Se o senhor não gostou da crônica do escritor Sarney, que faça uma crítica.
        Feliz Natal

  2. Sarney é o típico sujeito que quer se mostrar pio e religioso, mas que em suas ações de homem público mostra o inverso, sempre mostrou, daí a alcunha de faça o que digo, mas não o que faço.

  3. Caro Gilberto! Tanto o texto do SARNEY,quanto ao comentário do INÁCIO,
    são ótimos,tirando o EXAGERO do JUIZ e seu filho ser considerado POBRE.
    Basta a condição de poder ” ESTUDAR”, já venceu a barreira e o abismo que é a POBREZA,né?

  4. Caro Saraiva
    Certamente você não é do tempo em que um juiz de direito morava em casa alugada em bairro de classe média baixa. A coisa chegou a um ponto tal que o estado passou a pagar o aluguel de uma casa melhorzinha para os membros do judiciário.
    Quando eu digo pobre eu não digo miserável.
    Miserável fui eu, mas mesmo assim consegui vencer a “barreira e o abismo” da miséria. Estudar, senhor Saraiva, não depende somente de condições financeiras. Depende mais de vontade. Se houver força de vontade e condições mínimas se consegue estudar. A vida está cheia destes exemplos.
    Sarney era pobre, tão pobre que foi morador em São Luís da casa do estudante.
    Uma casa que abrigava estudantes que não disponham de recursos sequer para morar numa república, coisa muito comum nos anos 50, como fez Ney Bello em Belém do Pará onde morava com vários outros estudantes numa república.
    Por sinal, conheci Ney Bello a quem reputo um espírito elevado. Por diversas vezes me ajudou e como não sou dotado da amnésia comum aos ingratos, aproveito esta oportunidade para agradecer as vezes em que me deu o que comer em Belém.
    Sarney foi um estudante POBRE, senhor Saraiva.
    Foi pela determinação e inteligência que conseguiu chegar aonde chegou, transformando-se na maior expressão política do Maranhão em todos os tempos.
    Discordo e muito do seu jeito de fazer política, de não ter feito mais pelo Maranhão quando na presidência da república, mas tenho pelo Sarney pessoa/escritor uma profunda admiração.
    Coincidentemente Sarney ocupa na ABL uma cadeira que foi do meu tio JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA.
    Acho que esclareci ter dito que Sarney foi um estudante pobre.
    E muito obrigado por ter gostado do meu comentário.
    Feliz Natal

  5. Prezado Sr. Inácio Augusto de Almeida,

    Não discorde do jeito do presidente fazer política não. Ele é o Sarney, ícone Maranhense, e, portanto, sempre alvo fácil para a discórdia dos adversários, o que é natural.

    Sarney foi menino pobre sim como todos nós e sua mãe teve que percorrer o Maranhão atrás do marido, mas nunca deixou o menino sem a educação devida e é aí a grande riqueza de qualquer menino: Educação.

    Ler as histórias, contadas por Sarney e comentá-la é um privilégio.

    A ponte José Sarney, onde você trabalhou, naquele tempo a oposição dizia que SARNEY ESTAVA FAZENDO UMA PONTE PARA LIGAR O NADA A COISA ALGUMA.

    Então, te parabenizo desejando um feliz 2013 dizendo: Se todos seguissem o exemplo dedicatório de Sarney às coisas da vida, à mãe, à patria, família, aos santos, aos escritos de Pe. Vieira, muitos Maranhenses já teriam sido Presidente do Brasil ou do Senado, pelo menos alguns dias.

    O futuro verá muitos algozes de Sarney o homenageando, in memoriam, mas antes disso estarão sempre lançando a 1ª pedra.

    O Presidente Sarney, desde 1978 não recebe um voto de Um Maranhense. Ora

    Parabéns Inácio, pois foi injusto aquele que o chamou de puxa-sacos, por você ter comentado uma crônica de natal, mesmo que fosse escrita por qualquer alfabetizado…

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