COLUNA DO SARNEY: Exportar ou morrer

Há certas afirmações fortes e bombásticas que são ditas e ficam. No geral, sínteses de emoções momentâneas. Delas é feita a história dos homens e a estória da História.

A mais célebre das nossas palavras-gestos foi a de dom Pedro e está ligada à fantasia da Independência. Para fixá-la, num tempo em que a imagem era a pintura, Victor Meirelles nos deu aquele cavalo fogoso, montado por um jovem ardente que desembainhava a espada na colina do Ipiranga, perto de abandonada pousada, e gritava aos ermos para não ser escutado por ninguém, apenas pelos ouvidos do futuro: “Independência ou morte”.

Esse dom Pedro é uma figura. Se quiséssemos defini-lo na linguagem popular do Nordeste, diríamos que era um “arretado”. Sangue quente, tocado pelos calores do Brasil, não atendeu à determinação das cortes de Lisboa de ir para Portugal, bradou o “Fico”, cortou vínculos de pátria e família e fundou o único império que existiu nestas Américas.

Otávio Tarquínio de Sousa, seu biógrafo, nos diz que a viagem paulista em que tomou a decisão da independência está ligada também aos sofrimentos do imperador, que, além da contrariedade às ordens de Lisboa, tinha o desconforto e a saudade dos amores da Marquesa de Santos. Assim, antes do grito, escrevia à amada que estava “pingando”. Não tinha nada do pai, dom João VI, nunca banana, esperto, com idéias arrumadas, pensando num reino sólido, preocupado com as artes e com as ciências.

Dom Pedro puxara mais à mãe, Carlota – estouvada, liberada, metida sempre em complôs e confusões contra o marido e sonhando ser a rainha do Prata. Como sua mãe, ele era aventureiro, estabanado e tinha compulsão para ter amantes.

Gostou do Brasil. Ao modo da antiga nobreza, ávida de sentimento de posse. Abdicou para não perder o trono, salvando-o para seu filho. Ao embarcar para o exílio e ouvir os lamentos do Marquês de Barbacena, que reclamava por estar abandonando os amigos, reagiu indócil: “Você não pode se queixar. Está de bolso cheio – cheio do dinheiro que roubou para tratar do meu casamento com dona Amélia.” Era o mesmo dom Pedro que dissera ao Marquês de Quixeramobim sobre Gonçalves Ledo, quando este o defendia: “É a terceira vez que o compro e de todas me tem servido bem.”

Em terras lusitanas, dom Pedro salta no Porto, inicia a luta contra seu irmão dom Miguel, vence a parada e torna-se Dom Pedro I do Brasil e Dom Pedro IV de Portugal. Morre no Palácio de Queluz – onde nascera – aos 34 anos, de tuberculose, doença que o acompanhava desde as lutas do Porto. Deixa os filhos – Dom Pedro II, no trono do Brasil e, no de Portugal, Dona Maria da Glória.

“Independência ou morte” é a mais forte das mensagens brasileiras. Caxias comandou na ponte de Tororó: “Sigam-me os que forem brasileiros”. Fernando Henrique, “Exportar ou morrer”. Washington Luís, “Governar é fazer estradas”, e o Barão de Itararé, “Quando pobre come galinha, um dos dois está doente”.

Fiquemos com o padre Xavier, que, no dia 7 de setembro de 1822, gritou três vezes, no Teatro Ópera de São Paulo, para dom Pedro: “Viva o primeiro rei do Brasil”. Depois, vieram o Pelé e o rei Momo.

3 pensou em “COLUNA DO SARNEY: Exportar ou morrer

  1. Caro Gilberto!Realmente,tem umas frases BOMBÁSTICAS:Diz SARNEY,
    “LULA, que é um patrimônio do País,da história do País,por toda sua vida,
    por tudo que ele tem feito”.LULA,diz:” O SARNEY tem história no Brasil
    suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum”
    pelo visto,é como diz a oração de São Francisco”é dando que se recebe”
    são os sábios,né, e o POVO ?

  2. Caro Gilberto!Realmente,tem umas frases bombásticas:Diz SARNEY,
    “LULA, que é um patrimônio do País,da história do País,por toda sua vida,
    por tudo que ele tem feito”.LULA,diz:” O SARNEY tem história no Brasil
    suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum”
    pelo visto,é como diz a oração de São Francisco”é dando que se recebe”
    são os sábios,né, e o POVO …?

  3. Sarney se revela muito mais cronista quando escreve livre, deixando a pena correr ao sabor das emoções, passando a todos relembranças suas e de todos os que tiveram a felicidade de viver os anos dourados da São Luís antiga, onde todos se conheciam e vivenciavam a boêmia no seu sentido maior.
    São Luís do Papagaio, do Erasmo Dias, favor não confundir com um maluco paulista, do Bernardo Almeida, do Othelino Nova Alves, do Ribamar Bogéa, do Vladimir, a quem todos nós carinhosamente chamávamos de Conversinha.
    São Luís do senadinho, um banco que ainda existe e que fica defronte o relógio da Praça João Lisboa, onde à noite as maiores inteligências se reuniam para discutir política. E lá sempre estavam Mário Cavalcanti de Almeida, Renato Flecha, Clineu César Coelho e tantos outros iluminados.
    São Luís do Dominguinhos, do Djalma Brito, do Tácito Caldas. São Luís do Hotel Central onde as tardezinhas se reunia a inteligência maranhense e onde um menino sempre curioso aparecia para filar sorvete.
    São Luís do Dr. Mário, o eterno defensor dos pobres e desvalidos. Advogado de renome nacional, mas que se levantava de madrugada para ir soltar um boêmio que tinha brigado com um oficial do exército na Zona do Baixo Meretrício. E isto em plena época da ditadura.
    Sarney se torna muito mais cronista quando viaja por este tempo que está dentro dele e de todos nós.
    Todo o humanismo que há dentro dele explode quando mergulha no túnel do tempo que o leva aos melhores anos da sua vida, anos em que era ainda um sonhador a imaginar-se político e com solução para todos os problemas do Maranhão. Do Brasil, não, porque naquela época não sonhava chegar ao Palácio do Planalto como chegou.
    Este Sarney cronista emociona e leva o leitor junto com ele para uma viagem por um tempo que nunca devia ter passado.
    O Sarney de citar frases, de fazer referências a datas e fatos históricos fica longe do Sarney dos devaneios, dos sonhos, das quimeras.
    Escreva sonhando, cronista Sarney, escreva sonhando e nos leve junto nestas suas viagens fantásticas por esta São Luís dos mil encantos, por esta terra mágica, por esta cidade que eu tanto amo.

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