Da Coluna do Sarney

A minha geração já está no caminho do silêncio, desaparecendo nas estradas da eternidade, onde estão a fé ou o nada. Rilke, grande poeta, ao receber a notícia da morte de Rodin, o extraordinário gênio da escultura, reagiu com a afirmação de que “todos os admiráveis homens já morreram”.

Entre a comoção e a saudade, a nostalgia e velhas lembranças recebi o telefonema de Campelo, grande expressão da nossa geração, comunicando-me que o Haroldo Tavares morrera. Antes, ele mesmo avisara-me do seu grave estado de saúde. Perdia o Maranhão uma de suas maiores e melhores inteligências do nosso tempo. Vou fixar-me em sua rica personalidade e brilhante figura humana. Duas coisas nele eram permanentes: o convívio agradável e sábio, marcado pelo gosto das ideias, quando dava asas à imaginação, sonhando em mudar o mundo. Sua cabeça estava sempre voltada para a modernidade e inovação. Era um devoto da tecnologia, da pesquisa e da ciência, sempre em busca de descobertas. Tinha o bom vício da controvérsia, como estímulo à discussão, para melhor colher e expressar temas, soluções e sonhos.

Moço, não abandonava o violino e mais maduro o colocou atrás do planejar obras e ter uma visão sistêmica dos problemas.

Quando fui eleito governador do Maranhão tinha o objetivo de recrutar gente nova para pensarmos um novo estado.

Há tempos constituíramos um grupo básico, na visão de mudar o estado, mergulhado no atraso e no obscurantismo. Estudávamos nossa economia, nossa sociedade, nossos problemas, tendo conosco a figura genial de Bandeira Tribuzi, poeta, intelectual dos grandes e um homem público dos melhores, servido pela utopia generosa das ideias socialistas. Do grupo faziam parte também Nivaldo Macieira, Emiliano Macieira, Joaquim Itapary. No governo, ampliamos com muitos talentos, como Buzar, Eliezer, Jose Lins e Fialho. Convidava nossa geração de poetas a descerem das nuvens e chefiarmos um novo Maranhão. Em nosso programa de governo pregado na campanha, São Luís tinha um objetivo que ia além de melhorar a cidade: era o de dar ao estado uma cabeça que o integrasse, pois estava desarticulado, sem estradas, comunicação, uma banda ia para o Pará, outra para o Piauí e Nordeste, outra no Sul para Goiás. Haroldo viria a ser o homem para essa tarefa.

Já nos últimos momentos de fechar a escolha do secretariado, Wilson Neiva vem e me diz que Haroldo tinha voltado ao Maranhão. Convidei-o a integrar a nossa equipe. Achava uma sorte, pois juntaríamos a nós um jovem talentoso, agora com uma formação excelente, recurso humano raro, com qualificação no exterior. Como engenheiro era o homem certo para a Secretaria de Obras, tinha 33 anos (eu 35) e pronto a ter uma oportunidade de trabalhar para sua terra.

Foi uma sorte, Haroldo seria um auxiliar e conselheiro, voz competente e cheia de ideias, que nos meus cinco anos sempre esteve a meu lado e muito me ajudou.

Não vou detalhar obras nem realizações, o Maranhão sabe. Todas tiveram sua participação. Nada do que existe no Estado tem um pedaço da visão de nossa geração de poetas.

Leio que ele disse que queria nascer no futuro. Pois eu tenho saudades do futuro, quando iria ver seu extraordinário talento a serviço de nossa terra.

O Maranhão ficou menor com sua morte.