COLUNA DO SARNEY: Caxias e o Porto do Itaqui

Eu sempre digo que nasci no século XIX. O Maranhão na minha juventude ainda era quase igual ao tempo da Colônia e do Império. Minha primeira lembrança – devia ter uns três anos – era de uma fileira de índios Canelas entrando em Pinheiro para comprar pólvora, café e açúcar e vender peles de caças: veados, onças, gatos do mato, antas, raposas. Ainda remanescia a lembrança dos enfrentamentos entre índios e brancos, um recente ataque à Prefeitura com alguns mortos. A luz era de candeeiro e lamparinas.

Quando nos mudamos para São Bento, onde fui alfabetizado, havia o avanço do petromax (quem sabe hoje o que era o petromax?). Uma camisa produzia luz por querosene comprimido, bombeado de hora em hora. Eram colocados em postes e um funcionário saía a bombeá-los para não apagar. Às nove horas eram retirados. Nem geladeira, nem rádio, nem televisão, que não se sonhava naquele tempo.

De quando fui Governador, em 1966, há 47 anos, os jovens daquele tempo, que têm hoje mais de 60 anos, não se lembram como era o Maranhão. Em São Luís, a Ullen, o serviço de energia, possuía quatro motores movidos a lenha e um a óleo cru, num total de cinco megawatts. A energia se restringia à cidade que terminava praticamente na Rua dos Remédios.

Minha geração de poetas e sonhadores resolveu colocar no debate político os problemas do Maranhão. Resolvemos implantar o planejamento. Para sairmos da miséria precisávamos de energia, transporte e comunicação.

Meu primeiro objetivo era o porto, o Porto do Itaqui que se sabia existir, mas não se sabia como chegar lá. Então resolvi não só fazer o porto, como a estrada e para isso construir a Barragem do Bacanga. Foi uma guerra e uma epopeia. Mas a vontade de transformar o Maranhão vencia qualquer dificuldade.

Recordo que escrevi o discurso que Jânio Quadros fez quando era candidato a presidente em 1960 e lá coloquei a promessa de fazer o Porto do Itaqui, construir e fazer a São Luís-Teresina e uma companhia de telecomunicação, que foi a primeira do Brasil em Estado, a Telma, depois Telemar e hoje Oi. Jânio renunciou e somente pude tornar as promessas realidade em 66, no meu governo. Andreazza, ministro dos Transportes de Costa e Silva, era meu amigo e o trouxe ao Maranhão. Montei um barracão onde seria o Itaqui, era só mato ali.

Ele trouxe todo seu staff, inclusive o Almirante Clovis,da Diretoria de Portos, Rios e Canais, encarregada dessa área. Fiz uma exposição ampla sobre Porto do Itaqui. Então o almirante Clovis disse: “Governador, compreendo seu idealismo. Mas o Brasil mudou. Não se pode gastar dinheiro público em obra que não tem estudo de viabilidade econômica. O Maranhão não tem nenhuma capacidade de exportação nem necessita de um porto dessa dimensão. Só se faz obra com certeza de sua necessidade e não é o caso do Itaqui”. Não perdi a calma. E repliquei: “Almirante, o senhor está enganado. Este porto tem estudo de viabilidade”. Ele respondeu ríspido: “O senhor está desinformado. O Itaqui não tem estudo de viabilidade”. Contestei de novo: “O senhor é que está desinformado. O Itaqui tem estudo de viabilidade”.

Eu tinha me preparado para um debate sobre o Itaqui. Meus 36 anos me animavam. E o almirante me surpreendeu com uma discussão de viabilidade econômica. Apelei. O almirante Clovis lançou-me o xeque-mate: “Governador, diga-me onde está. Mostre-me”. Respondi: “Almirante, o Duque de Caxias foi presidente da Província do Maranhão e em sua mensagem à Assembleia Legislativa afirmou que era necessário construir o Porto do Itaqui, porque o de São Luís estava assoreado, e não acredito que o Duque de Caxias ia fazer uma obra sem estudo de viabilidade!” Foi uma risada geral. Eu continuei: “Almirante, uma obra reclamada a mais de um século, necessária por todos os motivos e nós querendo um relatório sobre sua viabilidade? A viabilidade é a maior já constatada no Brasil. Mais de um século esperando solução”. O Andreazza riu muito, me abraçou e determinou ao almirante, seu subordinado. “O governador tem razão, vamos fazer a obra recomendada pelo Caxias”. Aí quem riu fui eu. Quem iria contestar o duque de Caxias em pleno movimento militar de 64? O xeque-mate foi meu.

Estava ganha a parada. E imediatamente foi autorizada a obra. Deixei o cais do porto comercial e o de combustível funcionando. Com ele em construção trouxe a Vale, o terminal de minérios. Aí é outra história e outra grande luta, contarei depois.

Dizia o Pedro Calmon, um dos maiores historiadores do Brasil, biógrafo de D. Pedro II, que a política não tem memória “porque se tivesse não era política”. Hoje fico com orgulho pelo que fiz, vendo o grande porto, 2º do Brasil, 1.600 navios por ano e exemplo de tecnologia e modernidade.

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  1. O presidente Sarney que é bisneto de Deputado Estadual (Dep. Guilherme) e Neto de Assuero, homem de bravura e líder nordestino, precisa escrever muito mais, pois há a necessidade de ouvir de quem viveu o momento e ainda vive e quer ensinar.

    Bom seria se os oposicionistas de plantão entendessem Sarney, como o Lula entendeu. Poderíamos construir um Maranhão Melhor.

    Aqui da Roça, como dizem do interior, eu assim, observo. Mas, não tenho bola de Cristal.

    Mudança de postura boa seria, àqueles que foram feitos por Sarney, que colocou a UFMA, o CEUMA e a UEMA na capital para eles estudarem Direito, direito, como filhos de ex-governadores e ex-vices e tal, e hoje, o condenam a tipos mesquinhos e tendem à campanha do ódio político, obstante os filho da mata desprovidos de sistemas educativos de elite, como Direito e Medicina.

    Falam de Sarney, mas pior fizeram com Jackson Lago, senão, vejamos:

    Cercaram Jackson Lago e o abandonaram juridicamente à sua própria sorte, Jackson, médico, como se defenderia de pareceres jurídicos astutos e guardados para postagens nas oportunidades?

    Fica a pergunta e a interrogação.

    Ou teria sido de ontem, que o RCED não vale para cassar mandato? Claro que não e Acredito que à Lei vigente, ainda há muito pareceres preparados por quem sabe o que é a Lei. Vide caso do Embargos Infringentes no STF, grande lição do decano da mais alta corte jurídica.

    Em 2010, por 4 mil votos contribui para a eleição do governo atual do Maranhão. Foi bom ou foi mal… Não sei, pois como disse acima, não tenho bola de cristal!

    Sarney, longe de ser o mal que a oposição inflama, como jurista, filho de desembargador, neto de Assuero e bisneto de Deputado Estadual, Dr. Guilherme, é profundo conhecedor das letras, da poesia e do pensamento dos homens, principalmente daqueles que ele ajudou a Ser.

    Em 1870, o grupo Sarney já existia. No parlamento Estadual estava seu bisavô, Dep. Guilherme, parte de quem herdou a arte da Política e nas guerras contra Lampião estava seu avô Assuero, combatendo o cangaço nordestino. Então, entendam o Sarney, profundo conhecedor do Brasil.

    Nada acontece por acaso e um maranhão melhor é o que desejamos para nossos bisnetos.

    Francisco Pereira da Silva
    Presidente da Fundação Barracordense

  2. Francisco Pereira da Silva
    Presidente da Fundação Barracordense

    O Sr. FALOU COM CONHECIMENTO, GOSTEI DE VER.
    Abraços.

  3. Como seria bom que você ficasse do lado do povo, mas vejo que você pertence a oligarquia que governa o Maranhão junto com seus coronéis, será que você não tem vergonha de defender quem sempre oprimiu o povo maranhense?, Será que você não sabe que o Maranhão é tem uma das piores rendas per-capta do Brasil? a quem você quer enganar? Será que você não sabe que o Maranhão está nas mãos do narcotráfico? Há 15 anos no Maranhão quase não se falava em tráfico de drogas; a droga consumida na época era a maconha que vinha principalmente do estado de pernambuco, hoje o Maranhão, é rota do narcotráfico de cocaína e principalmente o tal crack, você sabe me explicar por que? eu te repondo, por causa da corrupção, por causa dos maus políticos! E até quando isso?

  4. caro blogueiro Gilberto Leda,a historia do maranhão se confunde com os 50 anos de poder exercido pelo Ze Sarney no Maranhão.Os Anti Sarney que estão por ai coincidentemente passaram pelo mesmo “progresso do maranhão” juntamente com esse mesmo Sarney que eles querem que o povo do maranhão expulsem do poder falando em renovação.Olho nos jornais ,blogues etc….Zé Reinaldo Sarney,Ministro Vidigal Sarney,Humberto Coutinho Sarney,Cleomar Cunha Sarney,Tratorzão Sarney,Waldir Maranhão Sarney,Raimundo Cutrim Sarney,Hernando Macedo Sarney,Rosângela Curado Sarney enfim vários outros da “FAMÍLIA” Sarney querendo mudança.Mudança de que?Mudança para quem?.Se o Eleitorado prestasse bem atenção o que eles querem mesmo é fatiar o Estado como fizerem no governo de Dr.Jackson Lago e na roubalheira de Ze Reinaldo Sarney para o bem da “comunidade familiar” deles.

  5. O Sr. Francisco da Barra parece insinuar que “alguém’ é filho de ex-vice-governador, mas engana-se, precisa se informar melhor.
    Sobre o senador Sarney, esforça-se por mostrar o que fez, mas a julgar pelo fato de que estados menos potenciais, a exemplo do vizinho Piauí, passaram à frente do MA, fica provado que fez menos do que deveria ter feito.
    Uma das coisas que fez e abusou de fazer foi perseguir os que não rezaram em sua cartilha, ao final, o grande prejudicado foi o povo do Maranhão. Lembro que nos 02 anos finais do gov. Zé Reinaldo, após o rompimento, ele prejudicou o estado e igualmente aconteceu nos 02 anos do Jackson. estas são obras que deixaram nosso estado de joelhos e o atrasaram na corrida do desenvolvimento.

  6. Senador o sr. tem toda razão e isto é verdade,sou um dos beneficiados pelas suas decisões que alavancaram o Maranhão do estado de pobreza mais do que hoje. Mas existe um senão: o senhor esqueceu de cobrar as conclusões de muitas Obras que poderiam enriquecer nosso Estado, por exemplo a conclusão da Norte sul, da ponte sobre o Parnaíba em São Bernardo e também em ter confiado em pessoas que nunca tiveram dignidade de homem.

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