COLUNA DO SARNEY: O tempo, os anos

O tempo é uma invenção dos homens. O que existe é a eternidade, sem começo nem fim. Mas o ho-mem resolveu marcar a vida pelos anos. Nós, cristãos pelo nascimento de Cristo, no próximo dia 31, há 2014 anos, menos que uma gota de água na imensidão dos dias e das noites. Os judeus têm o seu calendário, os chineses idem, e nós este que seguimos, chamado de gregoriano porque foi São Gregório que conseguiu esta fórmula de 28 dias em fevereiro, de quatro em quatro anos 29 e mês de 30 e de 31 dias, tudo de modo a fechar a rotação da Terra em torno do Sol, nos 365 dias de um ano.

No tempo bíblico se vivia muito. E não são poucos os personagens que viviam séculos, o maior deles, Matusalém, avô de Noé, 969 anos e não sabia quantos filhos, netos e bisnetos tinha, porque todos eram avós e bisavós e já tinham morrido. Até 187 anos procriou e Noé, seu neto, até 500 anos. Todos os patriarcas, segundo a Bíblia, viveram muito e funcionaram demais.

Hoje, na sociedade digital, da comunicação em tempo real, a gente tem a impressão de que há uma compressão do tempo, porque tudo passa rápido e a gente sabe de tudo em tempo real. O ano passa como um raio e quando a gente pensa que é janeiro já é setembro e logo acaba um ano e começa outro. Aqui no Brasil querido, não se conta os anos por primavera, verão, outono e inverno. É Natal, Carnaval, Quaresma, São João, Julho das Férias, Semana da Pátria, feriado gostoso de meio de semana que a enforca toda, Finados e dezembro com os sinos do Natal que começam a tocar em outubro. E o ano acabou e começa tudo de novo.

As mulheres não gostam muito de conhecer o fim dos anos. Eu tinha uma tia solteirona, velha, que tomava conta da casa de um tio avô. Um dia, seu aniversário, eu perguntei-lhe: “Manana – esse era seu nome -, quantos anos a senhora está fazendo?” Ela me tomou pelo braço, entrou no quarto e me disse: “72 anos, agora vai dizer lá fora, seu abelhudo”. Eu tinha um amigo que a família toda preparou-se para comemorar os seus 70 anos. Data redonda, que marca a vida de todos nós, porque a partir daí começa a velhice mesmo. Ele se recusou a fazer 70 anos e proibiu a família de falar nisso. Uns dois anos depois, nós muito amigos, seus filhos, vizinhos, me procuraram: “Tio Sarney, veja se papai aceita completar 70 anos, nós estamos com a festa feita já há três”.

Não houve jeito. Nunca revelou a idade e quando se fazia o livro da biografia dos senadores, seu maior cuidado era ir para a Gráfica do Senado e subtrair uns dois.

A verdade é que é muito bom fazer aniversário e assistir a mudança de ano. Saulo Ramos, meu amigo que 2013 levou, sempre dizia: “A outra solução é pior. Melhor é confessar!”.

Em São Bento tinha um senhor muito respeitado que era casado com uma viúva que tinha uma enteada balzaquiana. Dizia-se que vivia com as duas. Mexerico da cidade. Uma doida, dessas que antigamente perambulavam pelas ruas, cantando, chegou na sua porta no fim do ano e começou a cantar e dizer palavrões: “Sua velha devassa, vá embora……”. Ela, Georgina, não se fez de rogada: “Seu Abílio, o senhor que dorme com a mãe e beija a filha, dorme com a filha e beija mãe, diz que eu que sou devassa! Agradeça o ano que passou e vá para a missa…..”

Todos souberam na cidade que a Georgina não era tão doida como parecia. Milagre do Ano Novo.

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