Pedrinhas, os oportunistas e a Batalha do Jenipapo
Antes de ser magistrado, sou brasileiro – e maranhense. Faço esse registro, ainda que desnecessário, para que todos compreendam que sei exatamente até onde posso ir com as minhas reflexões.
Como cidadão brasileiro, tenho cumprido, com rigor, as minhas obrigações para com o Estado, conquanto, desse mesmo Estado, não receba a necessária contrapartida, como, de resto, acontece com a maioria dos brasileiros, que pagam impostos para testemunharem, agora sem estupefação, pois que nada mais nos surpreende, o desvio do seu dinheiro para as finalidades mais diversas, inclusive para enriquecimento ilícito de uns poucos e insensíveis oportunistas e privilegiados.
Compreendo que, credenciado pela minha história , depois de quase trinta anos servindo à magistratura do meu Estado, sempre com dedicação plena e com a devida retidão, posso, sim, nessa condição e resguardado pelo meu sagrado direito de opinião, dizer o que tenho dito neste blog, sempre com muita responsabilidade, porque sei da repercussão de tudo que escrevo, conquanto admita que, muitas vezes, a repercussão vai além do imaginado por mim, como se deu, por exemplo, com o artigo Capacidade de Discernimento, veiculado em blogs do Brasil inteiro, com destaque para revista eletrônica 247.
Feito o registro, passo às reflexões.
O político brasileiro- respeitadas as raras exceções – é assim mesmo: oportunista. Não importa a gravidade da conjuntura. Ele só se manifesta se perceber que pode auferir alguma vantagem eleitoral. É dizer: sai da toca ou se esconde, sempre de acordo com os seus interesses, de acordo com as suas conveniências políticas. Estão, sempre, de olho nas próximas eleições. Todos os passos são calculados. Não abrem a boca, não se manifestam, não sorriem ou choram, se não for por conveniência. Se for conveniente, sobem em jegues, beijam as criancinhas, abraçam os desvalidos, tiram fotos com transeuntes, tudo de acordo com o script; com imagens registradas para ser exibidas no horário eleitoral, feito para ludibriar, enganar, iludir, vender a imagem que lhes convém, para parecerem, aos olhos dos incautos eleitores, o que na verdade não são, não foram e nem serão.
Claro que, admito, que há exceções – poucas, raras, raríssimas, mas admito que há. Espécime rara, todavia. Pelo menos até quando ascendem ao poder. Depois, parece tudo igual, agem como os seus iguais, esquecem o discurso, partem para realização dos seus projetos pessoais, que, de regra, se traduzem na tentativa de se perpetuar no poder, sejam quais forem os meios, afinal, como eles próprios dizem, em política o feio é perder; ganhar vale a pena, sejam quais forem as armas utilizadas. Se necessário, se aliam aos inimigos de outrora ou rompem com o aliado histórico. Nessa lida não há santos; todos são assumidamente pecadores, em nome de uma causa maior e mais relevante, na visão deles, que é a manutenção do poder. Poder a qualquer custo. Pouco importa o preço a pagar.
A essas conclusões chego pela minha experiência de vida e em face de tudo que tenho testemunhado nesse mundo, com os olhos de quem quer ver. Digo isso, ademais, porque, sem surpresa, tenho lido na imprensa a cautela da presidente da República, em face dos recentes acontecimentos no Maranhão, pois que teme perder apoio político; não deseja, pois, contrariar o grupo político que está no poder. É dizer: o que importam mesmo são as eleições vindouras. Se, para auferir vantagens, o caminho é o silêncio, então silenciemos; se, ao reverso, o que dá votos é a tagarelice, então falemos pelos cotovelos, mas tudo calculadamente, meticulosamente medido, afinal o que importa mesmo é não correr riscos.
O que deseja a presidente, e aí pouco importa ideal ou ideologia, é manter um palanque duplo no Estado, para manter os 70% de votos que amealhou no segundo turno das eleições passadas.
Agora, ao lado do mutismo presidencial, vejo uma comissão do Congresso Nacional visitando o complexo de Pedrinhas, como se não fosse do conhecimento de todos eles a situação do cárcere maranhense. Bem, mas agora, pensam, há os holofotes da imprensa, e, calculadamente, é importante que uma comissão do Senado se faça presente. Todavia, não se iludam, Pedrinhas não significa nada para eles; nem Pedrinhas e nenhum outro cárcere do Brasil, afinal a prisão tem como destinatários apenas os miseráveis. E se hoje sabem que existe a Papuda, é porque alguns “graduados” lá aportaram, frustrando as previsões mais otimistas.
Tudo muito bem pensado. Mas não nos iludamos. Tudo passa, tudo passará, e eles voltarão à rotina do Congresso, como se Pedrinhas nunca tivesse existido.
Há quem diga, com menoscabo, que o nordestino é, sobretudo, um tolo; há outros tantos que o imaginam um pobre acomodado.
Aos desavisados anoto que o nordestino não é tolo e nem acomodado. O nordestino é, sim, sobretudo, um forte e bravo. Não fosse assim não sobreviveria a tantos reveses, a tantas promessas não cumpridas pela sua elite dirigente.
Engane-se, redondamente, quem pensa que ao nordestino, em face de suas dificuldades, só resta aderir, seguir a correnteza, receber e degustar o prato feito.
Não! O nordestino sabe o que quer, e se não é capaz de ir além nos seus ideais, é por falta de lideranças comprometidas com a sua causa.
O nordestino, como qualquer brasileiro, tem uma história de luta pelos seus ideais, ainda que, algumas vezes, não coincidentes com os ideais da maioria do povo brasileiro, em face mesmo das nossas peculiaridades.
Para ilustrar essas reflexões, e em tributo ao bravo povo nordestino, lembro um dado histórico, por muitos esquecido, que reafirma o quanto somos capazes de lutar pelas coisas que acreditamos, e que não somos o povo pobre e acomodado que muitos imaginam, incapaz de lutar pelas seus ideais.
Pois bem. Em 13 de março de 1823, em Campo Maior, PI, no lugar chamado Jenipapo, daí o nome Batalha do Jenipapo, houve um trágico confronto na Guerra da Independência, na qual brasileiros e portugueses se bateram entre as nove da manhã e duas da tarde. O resultado foi uma carnificina, com cerca de 200 brasileiros mortos e mais de quinhentos feitos prisioneiros. Os heróis da Batalha do Jenipapo estão em tumbas esquecidos pela História. Mas o registro que faço servirá para alertar aqueles que pensam que o nordeste apenas aderiu ao império do Brasil depois que a independência já estava assegurada no resto do Brasil.
É isso.
Excepcional!!!
Infelizmente, tenho que concordar com ele, e isso inclui tanto o Grupo Sarney como os aliados de Flávio Dino.
Muito bem.E que o judiciário do MA tem feito no combate a esses MAUS políticos?
Só faltou você incluir,também,o poder judiciário,né?
Caro desembargador, o poder judiciário , no qual você faz parte, envergonha mais esse país do que todos os políticos juntos.
Êh sempre importante separar o joio do trigo, esse desembargador êh exatamente o que descreve a seu respeito. Conheço- o desde a Companhia de Desenvolvimento Industrial quando tive a honra de chefia-lo na Assessoria Técnica da companhia . Funcionário importante íntegro responsável e sempre defensor da legalidade. Diferentemente de um ex colega da área ele retrata aquilo que todos nós estamos vendo e passando com a degradação opinativa do nosso estando insuflada por comunicadores perneta dos olhos e mente quando não conseguem,no mesmo tempo e fatos, tratá-los com a devida igualdade e seriedade. Formadores de opiniões ou propagandistas do imaginário salvador que em pouco tempo a par da misérias de vários munícipes teve em troca o,presente de uma cadeira na câmara federal, da mesma maneira que acusa os atuais gestores de usarem as riquezas do labor do povo em seus benefícios. Parabéns Dr Luiz
Porque? Porque a Polícia prende e a justiça solta, é? Seu ignorante!
Desembargador, eu lhe conheço . Você também é uma raríssima exceção no judiciário maranhense. Mundo habitado por magistrados corruptos, com padrões de vida muito além dos seus ganhos. Juiz com desvios de conduta , é muito pior do que político , suas decisões envolve o destino das pessoas.
Artigo bastante acertado. Mas esquece ou quer esquecer o ilustre Desembargador que o Poder Judiciario Maranhense se mostra o mais corrupto de todos os Poderes, o mais sujo e arrogante. Ali, Desembargadores e juizes, antes pobres, enriqueceram aos olhos da sociedade com salarios de apenas R$ 20.000,00 mensais que, diga-se de passagem, permite uma boa vida, mas nao permite enriquecimento, como vemos por aqui. O pior: tudo aos olhos da sociedade e como se nada estivesse errado. Na verdade, uma falta de vergonha!!
Deixa de frescura. Senta a caneta nos processos. É pra isso que somos tributados.O Maranhão agradece…
Oportunismo é sinônimo de brasileiro, não só políticos… Mas desembgadores, blogueiros… Etc.. Etc…
Caro desembargador José Luís Almeida, o Tribunal no qual Vossa Excelência faz parte, sempre foi condescendente e subserviente com os poderosos do Maranhão, independentemente das ações equivocadas ou não praticadas por gestores públicos, mormente os do clã Sarney. Isso é fato inconteste, lamentavelmente!
Jogar panos quentes em cima do que há tempos vem sendo conduzido de forma errada é muito lamentável. Vê-se que a sua tese reforça sutilmente o discurso orquestrado pelos áulicos da oligarquia Sarney.
muito boa a reflexão,isso serve de exemplo e mostra o quanto os nossos políticos se preocupam.
Tá, meritissímo, generalizando então, juiz maranhense é o quê? Responda aí algum corajoso…