Carnaval no Maranhão é inigualável. Só tem aqui, mesmo sem Galo da Madrugada de Olinda ou O Pinto da Tarde de Aracaju. Mas temos o Cruz Diabo e o Siri na Vara, a Bandida e tantos outros.

O Rio de Janeiro pegou o Carnaval, onde ele tinha e tem o samba no pé e criou essa invenção de Desfile de Escola de Samba, espetáculo de luz e cor, belíssimo, mas sem alma dos antigos Carnavais, onde não faltava a picardia e o brincar Tete a Tete, na intimidade que cria esta festa popular. Afinal, o Carnaval é uma festa que tem o cheiro da despedida, porque ninguém quer que acabe, e segundo os conhecedores do assunto, despedida da carne, como diziam os latinos carne (carne) e vale (prazeres) que deu Carnaval. Por isso a turma se esbaldava para enfrentar os 40 dias da Quaresma, com abstinência de tudo, principalmente da carne, no sentido figurado e no verdadeiro da própria.

Dizem que os gregos o inventaram para celebrar as farturas das grandes colheitas e os romanos para não sofrer tanto na Semana Santa, somente criada no século XI, marcada pela lua do solstício de inverno, chamada de “eclesiástica”. Nós aqui recebemos esse costume vindo nas naus portuguesas, que por sua vez receberam de Paris, que exportou essa festança e a divulgou mundo afora. Lá o bom não era o sábado ou domingo, mas a terça-feira, o Mardi Gros, chamada de Terça-Feira Gorda. De lá vem essa dominação de gordo para o dia que você escolher no Carnaval, o melhor deles o sábado gordo.

Aqui no Maranhão o Carnaval tomou uma forma diferente. É o povo quem o faz. No passado com as batalhas de serpentina, com as guerras de farinha, pó, polvilho, maisena, urina engarrafada, tudo que pudesse sujar, fazendo surgir dessa bagunça os blocos de sujo.

Com a expansão da cidade o Corso, aquele desfile de carros, caminhões, carroças, desapareceu e nele brilhavam os caminhões da Zona do Meretrício, onde as pensões se representavam com destaque no desfile, as meninas com as saias enfeitando as grades do caminhão e o trombone anunciando a Chicó, Lolita, Honorina, Maroca e tantas damas recatadas, sabendo que não iam se despedir da carne.

E os bailes de máscara, chamado de dominós, feitos pelo celebre Moisés, que organizava como ninguém estas grandes brincadeiras, e que tinha na porta de entrada uma comissão para verificar se as mascaradas não eram prostitutas, para não desmoralizar o baile….

Não tinha o hábito do whisky, nem do rum, nem do conhaque. Era a meladinha mesmo – cachaça com tiquira -, gim com vermute para os mais sofisticados e cachaça mesmo para quem não tivesse posses para outras bebidas, e isso sem falar na cerveja geral.

Eu era governador, e recebi de dom Felipe Conduru, já velho, morando no Palácio da Arquidiocese, uma cartão no qual me advertia (ele foi quem me batizou em São Bento): “Senhor Governador. Não fale em Maranhão Novo, enquanto não acabar com essa devassidão que é o Carnaval. Dom Felipe, Bispo da Parnaíba”.

Era assim o mundo, dos brasileiros cordiais.

Não estou no saudosismo. Acho que hoje tudo é mais fácil, mais gostoso e melhor, mas nem por isso vou esquecer os velhos carnavais.

Roseana é carnavalesca, gosta de Carnaval, brinca Carnaval e restaurou o Carnaval do Maranhão, que ressuscitou na capital e no interior, que para mim, com frevo ou sem frevo, pagode ou axé é o melhor do Brasil.

Todos à folia, cantando “Eu conheço um gaguinho/ que gagueja demais,……….” e o Bicho Terra fazendo a zoada.