A NASA divulgou esses dias uma imagem diferente da Lua. Tirada do satélite Deep Space Climate Observatory (DSCOVR), a um milhão de milhas da Terra, ela revela a face oculta da Lua passando na frente de nosso planeta. Ao contrário da face visível, essa não mostra as maria – os grandes mares, os planos de basalto que nos fazem ver figuras.
Todo poeta teve um namoro com a Lua. Não o satélite, mas esse círculo de luz esbranquiçado no céu, misto de solidão e beleza, a navegar nas noites mexendo com as marés, mulheres e crendices. Nenhum intelectual, nenhum artista, pintor ou músico deixou de ser seduzido, em algum momento, pela sua fascinação. Mas essa é uma geração que passou. Hoje a Lua não tem segredos, não inspira mais cantores nem poetas perdidos no dia ou na noite.
É apenas um pedaço da Terra que se desprendeu há milhões de anos, sem mistérios.
Em 1969 eu era governador do Maranhão e estava no Rio de Janeiro, na casa de Odylo Costa, filho, uma das melhores criaturas em talento e bondade que Deus botou no mundo. Reunidos, esperávamos a descida de Neil Armstrong. Um silêncio grande na sala. Os momentos de espera pareciam longos demais. As técnicas de TV não estavam tão avançadas, era o tempo do preto e branco. No momento exato do passo histórico, ninguém comemorou, como hoje se faz com os gols, mas sentimos um peso na garganta, como se quiséssemos chorar. O homem conseguia, enfim, matar nosso último encanto. A voz de Armstrong era de fantasma, numa frase convencional, montada pela NASA. Confesso que esperava uma coisa mais forte. Melhor Gagarin, com seu ingênuo desabafo revelador: “A Terra é azul!”
Meu avô, Assuero Ferreira, nordestino ranzinza, morreu algumas anos depois sem acreditar: “Nunca vi tanta gente besta como a gente de hoje, falando nessa história de que o homem foi à Lua.” Feliz ele que descansou com suas imagens intocadas. Depois foi o professor Ruben Almeida, grande historiador do Maranhão, solenemente, a pedir que se registrasse na ata de sessões da Academia Maranhense de Letras que ele denunciava “essa impostura dos americanos, que simularam a descida de um astronauta no deserto do Texas, dizendo que era Lua”.
Da corrida espacial surgiram grandes progressos que melhoraram a nossa qualidade de vida: satélites, aparelhos médicos, remédios, o boom das telecomunicações e a transformação tecnológica dos anos 70. Eu, de minha parte, guardei lições. Uma, com o alemão Von Braun, pai do programa espacial dos Estados Unidos. Kennedy o chamou para chefiar o grande projeto da conquista da Lua. “Quanto tempo?”, perguntou o presidente. “Dois anos”, disse Braun. Respondeu Kennedy: “Todos os recursos do nosso país serão colocados à sua disposição para encurtar o prazo em um ano e vencermos a URSS.” Braun retrucou: “Senhor presidente, meu prazo inclui todo esse esforço, mas é impossível diminuí-lo. Uma mulher para ter um filho precisa de nove meses. Se colocarmos todos os recursos humanos para ajudá-la, ainda assim, precisará de nove meses.” Certas coisas tem um tempo certo. Nascer e ir à Lua.
Contudo, meu herói nessa aventura foi o astronauta Aldrin. Antes de descer, pegou a hóstia que levava da Terra e humildemente comungou.
Ele sabia que Deus era o criador do homem.