Da Coluna do Sarney
O que é o Natal? Hoje, uma festa de confraternização universal, momento da fraternidade, a farra da mídia e do consumismo. Passamos mais um. Deus nos deu a graça da vida para abraçar amigos, reunir a família e, com o mundo globalizado, usufruir de uma alegria universal padronizada, entre o velho Papai Noel, luzes, fogos e festas.
Há um esquecimento quase total do verdadeiro simbolismo do Natal, uma data essencialmente religiosa. É o fundamento do Cristianismo. É a certeza de que o Deus de todas as coisas, que criou este planeta azul e o homem à sua semelhança, quis que não ficássemos sós na face da Terra, que tivéssemos a visão de que algo de transcendental existe em nossas vidas. Para isso, mandou que Cristo assumisse a condição humana e habitasse conosco este pequeno espaço, na vastidão do universo. Ele chegou. É chegado o Natal. É o sinal anunciado pelos profetas. Cristo nos ensinou regras de ouro. Trouxe uma mensagem e uma conduta de vida. “Todos somos irmãos”, criados por Deus, presos entre a vida e a morte. Deu-nos outra regra que é a síntese de todos os compêndios de conduta ética: “Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam.” “Amai-vos uns aos outros.”
Eu ainda vivi, menino, no interior do Maranhão, entre luzes de candeeiros e velas de devoção, o Natal bíblico. Todos reunidos à meia-noite, rezando, meu avô de Evangelho na mão, lendo os textos sagrados, anunciando a vinda do Salvador. A Missa do Galo, numa pequena igreja, onde todos se conheciam, ouvindo aquele sino pobre e solitário, na escuridão da praça, sem outras luzes senão das estrelas!
Esperando acordar no outro dia e encontrar, debaixo da rede, o presente de Papai Noel! Era um tambor artesanal de lata, pintado, vendido pelo funileiro da cidade. O cavalo de madeira tosca feito pelo santeiro escultor, pintado de azul, com bolas brancas. (Vejo os brinquedos eletrônicos de hoje. A maravilha dos monstros dinossauros que as crianças adoram.) Nada mais belo, ninguém mais feliz do que nós, meninos dos tempos dos tambores de lata e barquinhos de buriti.
Depois, é a marcha da eternidade. Uma geração de tantas transformações. A pergunta de Machado de Assis é quase lugar-comum, tantas vezes citada, mas é pertinente: “Mudou o Natal ou mudei eu?” Mudou o Natal. O homem não mudou. Continua sendo aquilo que Irven Devore dizia: um caçador. Outrora, atrás da presa, hoje caçando sonhos.
Caçar sonhos é uma grande proposta nestes dias de Natal, depois de Natal e fim de ano. Ver um Brasil sem desemprego, sem miséria, sem pobreza, sem violência. Um país unido, numa conduta cristã, a ética de uma vida em que o homem não seja o lobo do homem.
É possível? Tudo pode acontecer em nossa imaginação, no poder da esperança. Quem quiser ter esperança, venha a São Luís e acompanhe a “Natalina da Paixão”, cantando “vem, Jesus Cristinho, / vem Jesus Menino”.
E Ele vem.