“Uma coisa inédita”, diz Sarney sobre afastamento de Eduardo Cunha

O tempo das amoras

Da Coluna do Sarney

Quando cheguei à Câmara dos Deputados pela primeira vez, como suplente, o presidente da Casa era Carlos Luz, que se envolveu no episódio do Golpe de 1955, desfechado pelo Marechal Lott. Afastado, sofreu um impeachment e foi substituído por Flores da Cunha. Deste eu guardo recordações indeléveis, desde a primeira vez que me viu no plenário e perguntou-me: “Donde vens?” “Do Maranhão”, respondi; e ele retrucou: “Isto aqui já é jardim de infância?” Eu tinha 25 anos de idade, e estava deslumbrado com aquele cenário do Palácio Tiradentes do ano de 1955.

cunhaAli via os ídolos do nosso partido e outras figuras notáveis da política brasileira. Via Octávio Mangabeira, Gustavo Capanema, Vieira de Melo, Carlos Lacerda, Afonso Arinos e tantas figuras, cujos nomes o tempo foi apagando. Lembro-me também de Raimundo Padilha, grande orador; de Raul Fernandes, que Lacerda chamava a raposa de Valença; de Luís Viana; de Magalhães Pinto; de Rondon Pacheco; de Oscar Dias Correia; de Pedro Aleixo; de José Bonifácio; de Aliomar Baleeiro; de Bilac Pinto e de um dos maiores estadistas que conheci, Adauto Lúcio Cardoso, homem de grande integridade e referência moral de todos os tempos no parlamento brasileiro.

Com eles ao longo do tempo convivi, de alguns deles tornei-me amigo e por eles fui escolhido, em 1958, vice-líder da UDN, sendo líder Carlos Lacerda. Era a famosa Banda de Música, onde eu tocava reco-reco.

Foi então eleito presidente da Casa, numa rebelião da Ala Moça do PSD, Ulysses Guimarães. Depois Ranieri Mazzilli, que foi presidente sete anos e presidia a Casa com um ar de imponência e um peito que Lacerda dizia ser de tenor italiano. O último presidente que tive na Câmara foi o Bilac Pinto, de quem também fui grande amigo.
Na minha memória, vinham os presidentes do Império: Pedro de Araújo Lima (Marquês de Olinda), Martim Francisco de Andrada, Limpo de Abreu (Marquês de Abaeté), Zacarias de Góis, Araújo Viana (Marques de Sapucaí), Paulino de Souza, Gomes de Castro — parente de meu bisavô, a quem Ruy Barbosa reconhecia como um dos maiores oradores e com quem teve grandes e acirrados debates, inclusive sobre a anistia. E os que não foram presidentes, como o próprio Ruy, e Joaquim Nabuco!

Tantos homens, tantos talentos!

Depois fui para o Senado, já tendo sido governador do Maranhão, passando por todos os postos da política, inclusive sendo presidente da Casa por quatro vezes, durante oito anos; e ao deixar a vida partidária era o parlamentar mais antigo da história da República e o segundo incluindo o Império. Fui vice-presidente e presidente da República. Quando saí do Senado tinha a impressão de ter deixado um parlamento que não era mais o do meu tempo. Vi tudo e fui tudo na política.

Para completar, vejo agora uma coisa inédita, que jamais poderia imaginar: o presidente da Câmara foi suspenso e afastado do mandato, com uma série de acusações que eram impensáveis nos velhos tempos.

Mas a História é feita dessas grandes surpresas. O próprio ministro Teori Zavascki disse ser um caso “extraordinário, excepcional e, por isso, pontual e individualizado.”

Já diziam os latinos “O tempora, o mores.” Padre Newton, meu professor de latim, achava que a melhor tradução desse provérbio não era “oh! tempo, oh! costumes”, mas o tempo das amoras.

É o que estamos vivendo, o tempo das amoras.

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  1. Esse é o filho mais ilustre do Maranhão contemporâneo. Bota Flavio Dino no chinelo. Parabéns Sarney, nós te amamos.

  2. SONIA ABRÃO, FALA UM POUCO SOBRE AS DENUNCIAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO, E ACEITAS PELO JUDICIÁRIO CONTRA TUA CHEFE , ROSEANA SARNEY?

  3. Sabe por que é inédito, meu caro ex-presidente? É por que as eras mudam e aqueles tempos em que os políticos poderosos dominavam as instâncias do Judiciário, PF e Ministério Público (nem vou falar em TCU e controles) e faziam valer suas vontades estão ficando, pouco a pouco, para trás. Você viveu e foi ator protagonista daqueles tempos nefastos, onde político e empresário não iam para a cadeia. Que os bons ventos da mudança venham!

  4. O Beócio bajulador Falcão tem q falar por ele, o imbecil deve ser daqueles q não gostam de trabalhar e ter vida mansa.
    Agora depois de todo esse alvoroço esse cidadão Sarney quer dar opinião, depois de tanto se locupletar no poder usando o Ex-presidente Lula e a Presidenta Dilma hoje cospe no prato q lambeu, Traidor.

  5. José Sarney tem razão, Para quem já teve Tancredo Neves e Ulisses Guimarães no PMDB, Eduardo Cunha representa bem hoje o que existe de mais podre e imundo na política brasileira, Infelizmente Temer será presidente do Brasil, Pobre Maranhão vai sofrer nas mãos do governo mão de ferro.

  6. a boca fala do que o seu coraçao ta cheio. se o seu coraçao ta cheio de odio. na sua boca vai sair odio se o seu coraçao ta cheio de bondade vai sair bondade muitas das vezes nas nossas bocas nao saem palavras e sim vomitos e isso e ruim para si proprio…

  7. Sempre muito bom, viajar nas recordações políticas do nosso sábio Presidente Sarney.

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