NOTA DE PESAR
O Maranhão perdeu um dos mais brilhantes intelectuais de sua geração. Escritor, historiador e pesquisador, Jomar Moraes nos deixa o exemplo de trabalhador incansável, que dedicou toda sua vida ao Maranhão. Os títulos e honrarias que recebeu, os cargos que ocupou e sua vasta obra publicada são a demonstração do seu talento e de sua paixão pela literatura. À esposa, Aldenir, e toda a sua família, meus sinceros sentimentos e solidariedade. Hoje é um dia muito triste para todos nós.
Roseana Sarney,
ex-governadora do Maranhão
Grande Jomar, eu gostava de conversar com ele, tinha uma boa cultura geral e enxergava o mundo de uma forma muito lúcida. Estava meio triste após a morte do irmão Jacir , outro CABA BOM. Tive o privilégio de ser amigo dos dois.
Pena que , por ser muito ligado a Sarney, não deverá receber as mais do que merecidas homenagens do atual Governo do Estado.
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Tanto ódio assim pode dar câncer, sabia?
Muito modesto com a sua sapiência. Você conversava com ele e parecia até que não tinha todo aquele manancial e grande acervo de conhecimento, de tanta simplicidade; gostava de ligar pra ele quando possuía alguma dúvida a despeito de história e literatura do Maranhão. Me falou certa feita por telefone que iria reeditar o seu magistral livro “Guia de São Luís do Maranhão”, posto que precisava de atualizações. O célebre “Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão”, de autoria de César Marques, que ele relançou em sua 3.ª edição, com críticas e complementações foi um trabalho exaustivo e fabuloso. “Ana Jansen, a Rainha do Maranhão”, uma compilação de vários ensaios sobre a poderosa matrona maranhense, outra obra de sua autoria de grande importância para nossa cultura. Os seus estudos sobre Gonçalves Dias e Sousândrade e o relançamento de várias obras de grandes vultos maranhense, in Documentos Maranhense, como “Obras de João Francisco Lisboa”, que maravilha! E “Apontamentos de Literatura Maranhense”, uma abordagem contextual sintetizada que leva em conta os fatores políticos, sociais e econômicos da nossa terra e da nossa vida literária. Dizia, com sua modesta peculiar, que não passava de simples apontamentos.
Nunca esqueço de dizer-me que tinha uma biblioteca composta de aproximadamente 30.000 títulos, dos quais ainda não teria lido todos, mas com uma boa margem de segurança, regozijando-se, sabia que já tinha folheado pelo menos quase a totalidade daquelas obras. Tinha uma pena leve e elegante, sentiu na arte da palavra o fascínio da beleza.
Nunca esqueço, igualmente, pelos idos da década de 90, quando um renomado professor e pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco veio a São Luís fazer o lançamento de um livro sobre o genial matemático maranhense, Joaquim Gomes de Souza, no Ceuma/Renascença. Este muito entusiasmado em expor a sua inaudita obra, fazendo digressões a despeito do viés poético de Souzinha, as quais o Jomar discordava, concedeu aparte ao nosso polígrafo, que com muita contundência e elegância, dotado de excepcionais dotes de tribuno (verdade), lhe deu uma aula sobre a personalidade marcante do grande geômetra maranhense. Deixando o nosso ilustre visitante todo desconsertado naquela inesquecível noite, eis que imediatamente fez por bem encerrar aquela solenidade. Parafraseando o grande Erasmo Dias, “como o bardo das minhas Aldeias Altas, dizer: “Meninos, eu vi”.”
Visionário da sistematização do conhecimento sobre a cultura do Maranhão, um verdadeiro polígrafo, lhe roubando uma expressão que sempre gostava de usar em suas crônicas publicadas no jornal “O Estado”. As quais, até quando a sua saúde lhe permitiu publicar, eu não deixava de ler uma.
Por isso, em nome da nossa cultura, em nome das tradições que nos iluminam, dos que agora se ralam e se queimam nas lides intelectuais, como exemplo às gerações maranhenses de hoje e de amanhã, de amor ao estudo (que segundo ele, começou tardiamente), ao trabalho e a pertinácia na pesquisa. Faço um apelo, no sentido de que todos procuremos dar à memória de Jomar Moraes o testemunho mais firme e mais elevado da nossa admiração pela obra que produziu e do nosso reconhecimento pela marcada posição que nos deu na contextura histórica da cultura maranhense. Descanse em paz, grande Jomar.
Muito obrigada, sou filha dele Júlia Esmeralda