O ex-secretário adjunto de Administração, Logística e Inovação Penitenciária da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (Seap) Danilo dos Santos autorizou, junto com seus subordinados, o aditivo de um contrato que já estava vencido há praticamente um mês para garantir a construção da entrada única do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, inaugurada pelo governador Flávio Dino (PCdoB) em novembro do ano passado (saiba mais).
O caso ocorreu em maio do ano passado. A empresa contratada era a Vitral Construções, uma das investigadas pela Polícia Federal na Operação Turing e apontada como integrante de organização criminosa montada por Danilo dos Santos na pasta.
A construtora venceu duas licitações na Seap: uma para construção de torres de controle e elevação do muro divisor do Complexo Prisional de Pedrinhas e outra para construção da entrada única do mesmo complexo.
O primeiro contrato foi assinado com validade de 120 dias; o segundo, de 90 dias, ambos no dia 22 de dezembro de 2015. Mas havia um erro nesses prazos e no dia 12 de janeiro de 2016 foram publicadas duas erratas, invertendo os prazos.
Com a confusão, servidores da pasta acabaram perdendo prazos para a publicação de aditivos de prazo. No caso da construção da entrada única, o contrato encerrou-se no dia 22 de abril de 2016, sem qualquer prorrogação.
Danilo dos Santos, no entanto, usou do poder que exercia sobre os subordinados para aditivá-lo, mesmo contra a lei.
Diálogos
Em diálogos interceptados pela PF no bojo da Operação Turin, o ex-adjunto aparece reclamando do erro dos funcionários – ele teme que tenha que arcar com as consequências – e, depois, aconselhando-se com Cesário Brandão sobre como proceder para aditivar o contrato vencido.
Cesário Brandão era o pregoeiro oficial da Seap, o mesmo que já havia sido denunciado por corrupção por uma servidora, esta transferida do posto pelo secretário Murilo Andrade (reveja).
No diálogo abaixo, ocorrido, segundo a PF, no dia 10 de maio de 2016, por volta do meio-dia, Danilo dos Santos conversa com Fabiano Leite, seu assessor especial. Ele mostra preocupação quanto ao encerramento do contrato, sem aditivo.
Danilo dos Santos – É isso que eu quero que tu entenda, a culpa é da equipe mas o Murilo não vai cagar na tua cabeça, nen na do escritório, vai cagar na minha.
Fabiano Leite – Eu sei pô é aquele negócio a gente tá com 3 dono de cachorro e o cachorro tá morrendo de fome a gente bota isso aí pra alguém ficar responsável e a culpa vai ser sua Danilo deixa eu falar a culpa vai ser sua porquê eu fiquei despreocupado porque mandei pra UGAM, o Fábio ficou despreocupada porque mandou pra Nice E aí morreu foi isso que aconteceu é aquele negócio cachorro com dois donos morre de fome foi isso que aconteceu um esperando pelo outro e a gente não se tocou de ir atrás
D – E agora? sim e agora?
F – E agora vai ter que pedir benção.
D – Tu tá fazendo um aditivo de um contrato vencido como é que você vai fazer medição essa semana?F – É isso é foda mesmo.
D – Cara tu tá entendendo a merda bicho? O contrato está vencido a mais de 20 dias bicho a gente já perdeu até o prazo do Diário Oficial, não sei onde vai dar, cansei de brigar sobre isso aí cansei de brigar sobre negócio de prazo contratual negócio simples simples, mas ninguém consegue acompanhar o prazo de contrato, não consegue ,não consegue isso aí ninguém consegue acompanhar, vamos ver o que vai dar, mais tarde a gente vai ver o que vai dar isso aí, mas isso vai dar merda pode ter certeza, falou.
O acerto
Logo depois, Danilo dos Santos começa a preparar o plano para resolver o problema.
Ele liga para Cesário Brandão, e pergunta de quanto seria a multa pela não publicação de um aditivo no Diário Oficial do Estado.
DANILO – E aí, Brandão. Deixa eu te dizer, qual o valor da multa quando tu não publica o aditivo do contrato no Diário Oficial?
BRANDÃO – Salvo engano, se for auditado, 600 Reais.
DANILO – Não, não é se for auditado, eu quero saber, eles não já multam direto não?
B – Não, não, é por amostragem, entendeu?
D – Entendi… To entendendo. E aí, deu uma merda… Negada perdeu um prazo contratual da Vitral… Como é que é?
“Murilo vai ter assinar”
Segundo a Polícia Federal, minutos após esse primeiro contato, “DANILO e BRANDÃO voltam a tratar do contrato vencido da empresa VITRAL. BRANDÃO comenta sobre a eventualidade de o jurídico querer fazer o aditivo e ‘colocar a boca no mundo’, o que traria à tona as irregularidades do contrato da empresa VITRAL supramencionadas”.
Na conversa, apesar de ciente da irregularidade, o ex-adjunto da Seap garante que o aditivo será feito e que o secretário de Administração Penitenciária, Murilo Andrade, “vai ter que assinar”.
DANILO – Cara, o negócio aqui… O processo morreu lá na mão da Poliana… Os outros setores também, que tinham a obrigação de chamar a atenção para o prazo, não chamaram, e aí venceu, mas venceu muito, venceu dia 20… Do mês passado…
BRANDÃO – Negócio é o jurídico querer fazer um aditivo e botar a boca no mundo…
DANILO – Não, mas aí vai ter que fazer, a gente vai fazer, e… Murilo vai ter que assinar, papai…
BRANDÃO – Vamos ver o quê que dá… A gente nunca fez, vamos ver o quê que dá…
D – Vai ter que fazer né, a gente vai ter que fazer, mas vai dar uma merda… Isso vai dar uma merda… Só eu sei… Mas tá bom, vou ver aqui como a gente faz…
B – A gente publica, na hora que chegar a publica do jeito que tá…
D – Tá bom, bacana, valeu.
Crime
A conclusão da PF sobre o episódio é clara: houve fraude à Lei de Licitações e obtenção de vantagem indevida.
“Ao viabilizarem o aditivo contratual após longo lapso do encerramento do prazo, os integrantes da ORCRIM DANILO, FABIANO e BRANDÃO, concorreram em unidade de desígnios e com o domínio do fato para a prática do crime previsto no artigo 92 da Lei 8.666/1993, dando causa, possibilitando e/ou admitindo, modificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em favor do adjudicatário, durante a execução dos contratos celebrados com o Poder Público, sem autorização em lei, no ato convocatório da licitação ou nos respectivos instrumentos contratuais, ao passo em que o proprietário da VITRAL, IRAN, comprovadamente concorreu para a consumação da ilegalidade, obtendo vantagem indevida e se beneficiando, injustamente, das modificações ou prorrogações contratuais”.
Segundo dados do Portal da Transparência, a Vitral Construções tinha R$ 3,7 milhões em contratos com a Seap em 2016. Desse total, recebeu pagamentos de R$ 1,8 milhões (veja abaixo).
MAIS UM FACTOIDE?
deve ser…
Isso acontece em todas as secretarias do estado, é em decorrência da falta de experiência de assessores e a arrogância de muitos em querer fazer tudo com eles entende. Nesse governo não existe um acompanhamento por parte da Controladoria do estado nem menos do TCE, este está cego, mudo e surdo.
e o assessor jurídico da época o que diz????
indicado pelo Danilo… todos chancelados pelo Murilo
Isso acontece em todas as partes esse secretario ta sendo usado apenas,muito pelo fato de ser agente da PF ,o que faz com que o ele seja perseguido pelos delegados da mesma ,ja que o clima entre eles,agentes e delegados nunca foi amistoso .
Existe muita inveja tmb pelo fato de muitos Delegados ,almejarem um cargo como de secretario.
E os funcionários de carreiras dá Seap não tem nenhum competente para os cargos maiores são tudo importados de todo lugar Público e privado é pra ser sincero não vir uma placa das empresas que realizam essas obras em Pedrinhas. Martins Inspetor Penitenciário a 29 anos.
Contrato vencido é contrato extinto.