Diante do discurso de Rodrigo Janot de que não quer assumir um terceiro mandato no comando da PGR (Procuradoria-Geral da República), o presidente Michel Temer avalia um nome alternativo para ocupar o cargo a partir de setembro.
O desejo do peemedebista é que o novo procurador-geral seja alguém ligado a Janot, para passar a ideia de “continuidade” dos trabalhos da Lava Jato e evitar desgaste.
O comandante do órgão é o responsável final pelo ritmo de investigações de políticos com foro privilegiado na operação, que são denunciados pela PGR e julgados no Supremo Tribunal Federal.
Auxiliares de Temer admitem, em caráter reservado, que nome próximo ao atual procurador-geral seria ideal também para dar “previsibilidade” ao andamento das ações que investigam oito de 28 ministros do governo.
Nesse cenário, o Planalto já vislumbra um perfil que atende a esses requisitos: Blal Dalloul, secretário-geral da PGR desde junho de 2016.
Em setembro, Temer vai indicar ao Senado Federal o substituto de Janot pelos próximos dois anos.
O presidente deu indícios de que respeitará a lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República –que organiza votação interna e entrega a relação dos três mais votados à Presidência da República. Mas não nomeará necessariamente o primeiro colocado, como é de praxe desde 2003.
Os rumores de que o Planalto tem simpatia pelo nome de Dalloul são vistos com desconfiança por procuradores porque ele não se declara pré-candidato e, segundo interlocutores, nunca mostrou intenção de concorrer.
Os críticos dizem que, como procurador regional, Dalloul teria dificuldade em disputar a PGR, visto que a lista tríplice é tradicionalmente formada por subprocuradores, apesar de não haver restrições para a candidatura.
O Planalto já criou um discurso de vacina para essa tese e diz que Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa eram procuradores regionais quando foram nomeados ao STF, o que daria legitimidade a um procurador-geral da República de mesma origem.
Apesar das projeções, assessores de Temer afirmam que, caso haja risco de não aparecer nome “aceitável” para o presidente na lista tríplice, pode haver pressão para que o próprio Janot fique no cargo até 2019.
Integrantes do Ministério Público ouvidos pela reportagem apostam que o governo está interessado em buscar um nome menos afinado com a Lava Jato –e com Janot–, para tentar enfraquecer as investigações.