De O Estado
O cantor, compósito e multi-instrumentista maranhense Fred Arrais, do ministério “Diante do Trono”, integra agora o cast da Sony Music e, apesar do período de pandemia, tem cuidado da carreira preparando novas canções e regravações. Ele revela que ainda está se adaptando aos novos tempos e às múltiplas possibilidades do mundo digital, mas diz que é uma questão de tempo e que contará com o apoio da gravadora. Nesta entrevista, o artista fala sobre a música cristã, os parceiros de trabalho e os novos projetos.
Você tem uma história intensa com a música cristã no Brasil, sendo uma referência para artistas de diferentes gerações. Conte como começou a sua relação com a música?
Comecei muito cedo. Sou filho de pastor e ao término dos cultos, já sabe né? Eu corria para os instrumentos, fazia um barulho gigante, enquanto os irmãos da igreja tentavam conversar. Logo, peguei o violão do meu pai e comecei a aprender os primeiros acordes em casa e me apaixonar pelas possibilidades que a música traz. Depois disto, foi uma fase boa de tentar reproduzir os solos, arranjos de ministérios e bandas que exerciam grande influência nas igrejas naquele tempo. Toquei bateria por um tempo, violão, bandolim, percussão, até que comecei a cantar e compor minhas próprias músicas e tocar guitarra.
Sua participação no “Diante do Trono” como guitarrista proporcionou uma experiência vasta e tornou-o uma referência para tantos músicos. Como foi essa sua passagem pelo ministério?
Sempre tive um carinho muito grande pelo “Diante do Trono”, na pessoa da Ana Paula Valadão e do pastor Gustavo Bessa, amigos que a caminhada ministerial nos trouxe e também professores, que mesmo de forma espontânea nos ensinaram muito. Bem, eu era um jovem maranhense tentando algo na música, mas a realidade jogava contra mim. Eu morando longe do centro, sem influência nas rádios, sem uma gravadora relevante e amigos influentes, só me restava uma coisa: Crer e trabalhar. Movido por fé e paixão, gravei meu primeiro disco em um estúdio local e caí dentro dos retiros, cultos de jovens e conferências no Norte e Nordeste do país. Foram 10 anos assim. Deus me surpreendeu e pude ouvir minhas canções sendo cantadas nas maiores igrejas do Brasil. No meio disso, pude conhecer e ministrar na Igreja Batista Lagoinha em conferências “Diante do Trono” e cultos de adoração, onde pude estar mais próximo do DT, até que recebi em Dallas, no Texas, da Ana Paula, o convite para integrar o time no primeiro projeto imersão. Após isto, fui sendo chamado para os projetos seguintes. O “Diante do Trono” é uma escola.
Por uns anos, você teve a oportunidade de estudar e desenvolver seus dons no exterior. Essa experiência seguramente te trouxe maturidade, uma nova visão, novas oportunidades. O que você pode contar-nos sobre este período?
Sou do tempo das vídeoaulas, de ter que ficar rebobinando fitas VHS infinitamente para conseguir pegar arranjos mais difíceis, escalas e novidades musicais. Na parte musical, sou autodidata, ensinado por muitos professores que nunca me conheceram e, talvez, nem saibam o quanto contribuíram na minha vida musical. Tive apenas um professor de bateria, o Zé Luis de Oliveira. Um gênio. Cresci muito nos US participando de projetos inspiracionais com a Gateway Worship. Todo ano, antes da Gateway Conference, vamos lá para mesas redondas, discussões sobre ministério, saúde ministerial e network entre líderes de louvor do mundo todo. Sou grato por esta porta que se abriu e anualmente oxigena minha visão ministerial. Também passei um tempo com minha família em Kansas City e ali fizemos um curso no IHOP KC( International House of Prayer). Ali, aprendemos muito sobre oração, vida espiritual saudável e adoração.
Para nós, fica claro que, apesar da música ser algo presente em sua vida, o chamado pastoral também foi forte e isso acabou levando-o ao Piauí para o desenvolvimento de um ministério local. Fale-nos deste seu projeto ministerial e inclusive das questões de engajamento social que sua igreja promove
Sim, o chamado pastoral foi algo que eu fugi por muito tempo! Na minha cabeça, eu era artista e ponto final, mas a maturidade vai chegando e a gente começa a entender que o Deus da multiforme graça se manifesta de várias maneiras e em muitos dons. Fui aprendendo que ser pastor é estar disponível para todos, amar a todos e construir o Reino de Deus onde estiver. No ano de 2018, eu e Flávia decidimos parar tudo e nos doar por uma missão no Piauí. Fundamos a Igreja Angelim Teresina. Em dois anos de igreja, tivemos um impacto muito positivo e muitos testemunhos de vidas alcançadas. Criamos alguns projetos sociais, como o “Jesus Delivery”, que leva alimentos e cultos para pessoas em situação de pobreza, “Kids Day”, que é um dia de culto, lanche e presentes para crianças carentes da cidade de Teresina e o” Natal solidário”, que na sua versão mais recente serviu mais de 800 refeições, doações de roupas e uma mensagem de esperança a muitas famílias de um bairro carente de nossa cidade.
Depois de alguns anos lançando conteúdos de forma mais espontânea, você passa a integrar o cast da Sony Music e isso, claro, denota que você quer desenvolver um novo ritmo em seu projeto musical. Explique o que esta decisão acarreta para sua carreira musical e quais suas expectativas.
Esta decisão veio como um presente de Deus para 2020. Descobri que, mesmo no meio de momentos difíceis como nesta pandemia, boas notícias sempre virão. Eu tenho o hábito de compor sempre, mesmo sem nenhum projeto a vista e percebi Deus me dando canções e direções para um tempo mais presente na música. Então, a chama da criatividade foi acendendo novamente em mim, canções foram sendo geradas e a Sony veio pra juntos imprimirmos um ritmo maior, mais forte e focado na minha vida musical.
Já pode adiantar sobre os novos projetos? O que podemos esperar pela frente?
Acredito, como artista, que as pessoas estão em busca de canções que traduzam seus sentimentos e anseios, e ser vulnerável neste processo, é imperativo. Vou cantar minha vida, minha história. Podem esperar canções inéditas, regravações de músicas minhas com amigos, vídeos cheios da presença de Deus e, com certeza, um tempo novo.
Qual a sua visão da música cristã produzida no Brasil atualmente?
Eu vejo muita influência norte-americana na maioria do que fazemos. Sei que a globalização é isto, mas não podemos perder a nossa identidade. Acredito que podemos e temos muito a aprender com eles, mas o Brasil é único e temos muito para exportar também. Precisamos ser mais moderados nas versões e compor mais. Não podemos ser um eco do que acontece no mundo, Deus nos deu uma voz! Vamos usar a nossa voz Brasil!
Na playlist do Fred Arrais, o que não pode faltar?
Quando faço meu devocional eu tenho ouvido sempre os álbuns mais calmos do Baruk, Leonardo Gonçalves, Elevation Band e Hillsong. Nos meus passeios, caminhadas ouço Keith Urban, John Mayer, U2, Mutemath, Norah Jones, John Legend. São artistas incrivelmente talentosos.
Todo mundo tem sonhos, metas, objetivos. Pode nos contar alguns de seus desejos futuros do ponto de vista da música?
Eu quero deixar a minha marca. Alcançar aqueles que precisam de esperança, escrever canções que traduzam o coração das pessoas para Deus e atingir o potencial máximo dos dons que Deus colocou em minhas mãos.
Finalizando, como você tem lidado com as grandes mudanças que o mercado da música tem vivido nos últimos anos? A transição entre os formatos de consumo de música já é algo natural para você?
Bem, no começo da transição para o digital foi um susto grande. Eu negava, achava que CD ainda iria durar, etc. Mas, conversando com um amigo de São Paulo, muita coisa abriu na minha mente e percebi que no lugar de enxergar com desconforto, estavam nascendo possibilidades poderosas e muito democráticas com o mundo digital na música. Logo, comecei a produção de materiais e o estudo a respeito. Mas tenho muito a aprender e sei que a Sony vai me ajudar nisto.