Por Mário Fernando
Bares e restaurantes silenciados. Noivas adentrando o altar sem o canto nupcial. Familiares reunidos sem o “direito” de ouvir música. Festas infantis sem o embalo animado para o ir e vir das crianças. Músicos silenciados no exercício do seu trabalho. Não importa se o evento fora previamente autorizado por atender ao requisito do número máximo de participantes, importa se há música. Amúsica é arbitrariamente silenciada quando deveria ecoar para minimizar as incertezas desse tempo presente. Serão, a princípio, 8 dias de silêncio imposto ou o marco para nosso silêncio como artistas que vivemos da música no Maranhão?
Associar aglomeração com a música tocada no seio familiar ou a música cantada por um artista em um local com número reduzido de pessoas é, minimamente, desconstruir toda a simbologia da música. Não é justo incorrer no erro de silenciar nossos lares, nossos pequenos eventos e nossas apresentações artísticas em bares e restaurantes maranhenses já tão penalizados nesses árduos tempos pandêmicos. Música “não chama aglomeração” se o evento é restrito a um público previamente determinado.
O artista, assim como qualquer outro trabalhador, exerce sua profissão para garantir seu sustento e sua dignidade como cidadão. Exercer a cidadania pressupõe ter a liberdade para usufruir de condições mínimas no exercício do laboro. Nós, músicos maranhenses, somos pais, mães, estudantes, investidores, operários e empresários do ramo. Como pais e mães – e, sobretudo, profissionais – precisamos prover o sustento da nossa família, ter condições mínimas para exercer nossa profissão. É possível, nesse cenário de vetos que nos silenciam, sermos livres e nos intitularmos cidadãos plenos?
Ser músico exige estudos constantes. Somos estudantes do gênero musical. Para o exercício da profissão como músico, nós dedicamos nosso tempo aos estudos da música. Não nos tornamos profissionais ao acaso. Somos fruto de exaustivas horas de estudo e muito treino. Precisamos de qualificação constante para que não sejamos excluídos pelo próprio ramo artístico. Para atender a essa demanda, investimos (sejam músicos iniciantes, sejam aqueles que têm mais experiência profissional – assim como eu que exerço minha profissão há 18 anos) tempo e recursos em instrumentos e equipamentos que precisarão ser substituídos, obviamente, pelo desgaste do tempo de uso. Desse modo, os artistas que hoje conseguem viver somente do trabalho musical jáfizeram grandes investimentos financeiros. Nós, operários da música, carregamos e montamos equipamentos, temoshorário para cumprir e recebemos pelo nosso trabalho.Todo esse trabalho representa nossa profissão como músicos e, por isso, reivindicamos nossos direitos como cidadãos que cumprem seus deveres sociais e legais a ter liberdade para exercer essa profissão.
Calar a música é calar pais, mães, estudantes, operários e investidores do ramo musical. Calar a música não é apenas silenciar eventos. Calar a música é, acima de tudo, silenciar profissionais que enfrentam, muitas vezes, a marginalização no seu próprio trabalho. Esperemos que nosso trabalho não seja responsabilizado por promover “aglomerações”, haja vista haver o cuidado excessivo dos locais onde nos apresentamos para que isso não ocorra. Queremos, portanto, exercer nosso trabalho com a dignidade que nos intitula músicos profissionais.
Mario Fernando
Músico Profissional
@mariofernandooficial