Aos procuradores do Município de São Luís

Por Bruno Duailibe

Procurador-geral do Município de São Luís

Admito que gosto muito de falar sobre a vontade, cuja acepção original revela tratar-se da maior força capaz de mover o ser humano e o universo à sua volta, mas que, atualmente, tem tido o seu significado esvaziado – como tantas outras palavras – passando a apresentar um sentido mais associado aos desejos que se concretizam no plano material.

Assim como nos afastamos dos verdadeiros significados das palavras, também pouco conseguimos decifrar os signos e profundas metáforas que estão presentes nos mitos que chegaram ao nosso tempo. Um deles é o que carrega a imagem de uma espada nas mãos de um herói.

Consoante explica a professora Lúcia Helena Galvão, na filosofia esse é o símbolo que expressa, por excelência, a vontade. Quem não se lembra de Excalibur? Tão famosa e gloriosa que seu renome perdura até os nossos dias. Nos diversos romances de cavalaria que retomam esse mito em torno do rei Arthur, várias explicações são dadas para a sua conquista. No poema de Robert de Boron, por exemplo, o herói alcança o trono puxando-a de uma pedra. 

Em outras narrativas Excalibur e a espada da pedra são descritas como armas diferentes. No livro de Howard Pyle, “Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda”, por exemplo, a conquista de Excalibur decorre de uma aventura num lago mágico guardado por uma dama com poderes especiais. Segundo se extrai do relato desse autor, muitos cavaleiros tinham tentado dela se apoderar, mas haviam perdido a vida nessa aventura, pois a buscavam para atender desejos seculares de vaidade e glória. Somente Arthur, nobre destemido e movido por valores elevados de pacificar a atual Grã-Bretanha, conseguiu empunhá-la. 

As mudanças no enredo não alteram o forte impacto que a imagem da espada produz em nosso inconsciente, nem a profundidade dos ensinamentos transmitidos por este mito. Por isso, mesmo desconhecendo as diferenças, intuitivamente sabemos que só o “verdadeiro rei” poderia vencer essas provas para a conquista da valorosa Excalibur. E a mensagem que se pode traçar é a de que todo e qualquer ser humano pode percorrer a trajetória desse herói que retira a espada das pedras ou das águas que escondem os aspectos materiais que circunscrevem a vida. Afinal, como nos alerta Howard Pyle, “[…] qualquer homem pode ser um rei na vida em que foi colocado, desde que seja ele que retire a espada do sucesso, do ferro das circunstâncias”. 

Essas histórias também permitem interpretar que, embora possa atender aos desejos materiais, a vontade é mais potente com objetivos humanos, altruístas, generosos. Nas palavras da professora Lúcia Galvão registradas no youtube, “A vontade com objetivos espirituais é o que mais divino tem de ser, ela floresce como a flor de lótus.” É, de fato, a vontade é uma determinação forjada em aço, inquebrável como Excalibur, capaz de abrir caminhos, atravessando qualquer matéria que venha a ela se opor.

Todo ser humano traz em si essa potência, de ver sentido quando ninguém mais vê, armando-se com uma capacidade de realização e de viver para além de si mesmo, simplesmente porque o seu ideal é o justo, é o belo, é o bem. 

A vontade nasce na alma e concretiza-se por um movimento perseverante e constante, ritmadamente, como o bater do coração. E envolvido por ela, os nossos veículos físico, emocional, mental e energético trabalham integrados. Nesse sentido, a vontade é o mais divino dos poderes que constitui o ser humano. 

Agora, sim.

Para mim, vocês, nobres Procuradoras e Procuradores, são amazonas e cavaleiros que conquistaram sua valorosa espada, empunhada em defesa dos valores associados à Justiça e à dignidade da pessoa humana para a concretização do direito à busca da felicidade a que todos fazemos jus. Vocês carregam consigo a vontade de abrir caminhos com coragem, rompendo com as mazelas, obscuridades, sofrimentos e sagram-se vitoriosos em cada desafio, entregando diariamente o melhor de si.

Essa vontade é lúcida e duradoura, sempre ascendente, em direção ao seu alvo. E guiados pelos princípios estabelecidos pela nossa Constituição republicana, não sustentam apenas um projeto estabelecido como prioritário para um curto período, mas soerguem, perseverantemente, pilares para que São Luís prospere hoje e no futuro, não obstante as vicissitudes de alguns momentos. 

É um propósito muito maior que está envolvido na escolha de dedicar-se a essa carreira da qual vocês fazem parte, já que zelam pelo que é meu, é seu, é nosso. Salvaguardam a nossa cidade. Sua atividade, enfim, está imbuída dessa vontade cristalizada por uma reta ação, idêntica a do rei Arthur e de outros heróis, na busca de uma cidade melhor para todos os ludovicenses. 

Tenham a absoluta certeza de que lá na frente, quando olharem para trás, perceberão que combateram o bom combate, que deixaram o melhor de si e o legado resultante no fortalecimento de tão importante instituição, que é a Procuradoria do Município de São Luís. 

Parabéns, Procuradoras e Procuradores do Município de São Luís, pelo seu respeitável dia, que é hoje, 19 de novembro!