A vice-líder em licitações da estatal federal Codevasf tem utilizado laranjas para participar de concorrências públicas na gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição e que repete o já enfraquecido discurso de que não há casos de corrupção em sua gestão.
Trata-se da construtora maranhense Construservice, com sede em Codó (a 300 km de São Luís). Desde 2019, o governo já reservou a ela R$ 140 milhões, tendo desembolsado R$ 10 milhões disso até agora.
Todos os contratos da empreiteira com a administração federal foram firmados após 2019, ou seja, no governo Bolsonaro. A empresa também só recebeu recursos federais na atual gestão, segundo dados do Portal da Transparência.
As duas pessoas registradas oficialmente como donas da empresa são as mesmas que, em 2015, foram ouvidas em uma investigação policial e admitiram que foram chamadas para constar formalmente como sócias na construtora mas que não mantinham nenhuma ligação pessoal ou empresarial entre elas.
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Empreiteira maranhense domina licitações no governo Bolsonaro
Os convites, dizem os sócios laranja, partiram de Eduardo José Barros Costa. Ele é sócio oculto da Construservice e também conhecido como Eduardo Imperador ou Eduardo DP.
Segundo apurações da Polícia Civil e do Ministério Público do Maranhão, Costa é suspeito de comandar uma quadrilha responsável por crimes em mais de 40 municípios do estado, pelo menos de 2009 a 2012, entre eles desvios de recursos federais do Ministério da Educação.
Costa é réu em ações nas Justiças Estadual e Federal que tratam dos supostos desvios e atos de corrupção e chegou a ser preso nas ações policiais relacionadas a esses casos —mas segue em liberdade.
Ele não aparece nos registros da Construservice. Mas em pelo menos uma ação trabalhista a Justiça do Maranhão o reconhece como sócio de fato da construtora.
Referência
Eduardo Costa é referência para políticos locais na hora de questionar obras da Construservice.
Em 12 de abril, o deputado estadual Vinicius Louro (PL) disse, na tribuna da Assembleia Legislativa maranhense, que telefonou ao “proprietário da empresa, da Construservice, Eduardo DP” para cobrá-lo sobre o andamento de obras em estradas.
O deputado disse à Folha que não conhece o quadro societário da construtora mas “todo mundo no Maranhão sabe que ele [Costa] responde por ela [a empresa]”, e declarou “falar direto” com Costa sobre obras da empreiteira.
Em inquérito que começou como desmembramento das investigações do assassinato do jornalista Décio Sá em São Luís (MA), em 2012, a polícia do Maranhão deflagrou em 2015 a Operação Imperador, cujo título é uma alusão ao apelido de Costa.
Costa não se tornou réu pelo assassinato, mas segundo as autoridades as apurações do caso revelaram que ele arregimentou um laranjal para constar nos quadros de sócios de construtoras usadas no esquema.