Quando a intransigência é necessária

Alexandre Antonio Vieira Vale*

A que futuro se destina a nação que jamais decide enfrentar, com a intensidade, a seriedade e a urgência necessárias, suas próprias mazelas? Em que medida as percepções dos indivíduos que integram uma sociedade, relativas a aspectos éticos e valores morais, são decisivas na construção de uma realidade mais justa e equitativa?

Toda ação transformadora deve começa pela adequada caracterização dos problemas que se propõe a combater. Sendo assim, devemos chamar o crime, de crime; a fraude, de fraude; a falta de ética, de falta de ética; a corrupção, de corrupção; o patrimonialismo, de patrimonialismo; a violência, de violência e a omissão, de omissão.

O que deve ser combatido pelos cidadãos, individual e coletivamente, tem nome, ambiente de manifestação, dinâmicas particulares, causas e efeitos que devem ser caracterizados com a mais absoluta precisão, se de fato desejamos suplantá-lo.

Nesse sentido, há um aspecto da cultura social e institucional brasileira que me causa profundo incômodo: o hábito de jamais confrontar, com rigor e sem fazer concessões, o que se demonstra, para dizer o mínimo, abjeto, desprezível, errado e torpe.

Em decorrência disso, resta a sensação de que em nosso país sempre prevalecem os acordos espúrios, forjados na conveniência dos poderosos; a omissão justificada das formas mais absurdas para aplacar as consciências; a covardia que revela a indignidade e a inépcia de certas autoridades constituídas; a indiferença de agentes públicos que são incapazes de ver a realidade para além de sua própria condição de privilegiados; um mutismo que escancara a mais absoluta falta de comprometimento com a busca atroz por dignidade que marca as vidas de milhares de pessoas em nosso país.

De múltiplas formas e por meios sempre condenáveis, injustificáveis, opta-se habitualmente por desviar o foco do que realmente importa; ignorar, de propósito, o que pode fazer a diferença; não modificar atitudes, ações e comportamentos danosos à coletividade; postergar indefinidamente o que hoje pode ser feito de altruísta, justo e nobre.

A tarefa de construir um país em que a dignidade de todos os seus cidadãos seja o aspecto mais importante requer de cada um de nós, no plano individual e coletivo, o indispensável agir ético, em todas as circunstâncias, sem jamais ceder, por nenhum motivo, ao que pode nos beneficiar de maneira injusta e deplorável.

* Auditor estadual de controle externo do Tribunal de Contas do Estado do Maranhão. Especialista em Administração Pública