Apesar de já ter sido autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a nova vacina contra dengue não chegará ao Sistema Único de Saúde (SUS) com a mesma velocidade de entrega para farmácias e clínicas privadas de vacinação. Segundo O Globo, integrantes do Ministério da Saúde afirmam que o imunizante desenvolvido pela farmacêutica japonesa Takeda ainda precisa passar por análises antes de ser incorporado à rede pública. O processo pode levar um ano.
A Qdenga foi aprovada pela Anvisa em março e, na época, havia previsão de que começasse a ser comercializada no segundo semestre deste ano. Algumas clínicas privadas de vacinação e farmácias já receberam o imunizante e outras aguardam a chegada das encomendas. A rede de farmácias São João já está com a agenda aberta para marcar a vacinação. Outras redes, como Panvel, já realizaram o pedido para o fornecedor e a previsão de início da oferta é para o final do mês.
A oferta pelo SUS, porém, deve ser avaliada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec). Segundo o órgão, são analisados “aspectos como eficácia, efetividade, segurança e impacto econômico da nova tecnologia com base nas melhores evidências científicas disponíveis.”
O secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde da pasta, Carlos Gadelha, contudo, afirmou ao Globo que o Ministério da Saúde prioriza implementar no sistema público produções brasileiras. No caso, o imunizante do Instituto Butantan, em desenvolvimento desde 2009, que, atualmente, está na fase final de testes. O estudo deve ser concluído em janeiro de 2024, o que poderia deixar a aprovação somente para 2025.
— Quando a gente pensa em vacinas, é importante destacar o papel central da produção nacional. Hoje, o Complexo Industrial da Saúde é estratégico e ajuda a salvar mais de 200 mil vidas. Por isso, a análise da vacina da dengue segue essa perspectiva de desenvolvimento tecnológico para cuidar das pessoas — afirmou o secretário, responsável por coordenar o processo de incorporação de tecnologias no SUS.
Entretanto, o tempo de espera pelo imunizante priorizado pela pasta preocupa profissionais da área da saúde. O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alexandre Naime Barbosa, alertou ao jornal O Globo que o número de óbitos no primeiro semestre é mais da metade de todas as mortes pela doença registradas em 2022, marcando um recorde na série histórica, analisada desde 1980.
— Isso poderia ser reduzido caso uma vacina fosse implementada. Esperar uma vacina do Instituto Butantan pode custar vidas, principalmente dos grupos mais vulneráveis. O Ministério deve ter sensibilidade para entender que essa vacina é necessária o mais imediatamente possível para alguns grupos — disse o infectologista.