As datas redondas nos convidam a considerar o tempo como um ciclo que se encerra.

Esta semana é uma delas. Antecede uma data que está santificada no nosso amor ao Maranhão. Todos nós que vivemos estes dias somos privilegiados por Deus, porque nos trouxe a graça da vida para assistirmos a estes 400 anos, que no nosso olhar do passado está envolto na garoa do tempo. Eliot, o grande poeta inglês, num poema célebre, diz que no tempo passado está o tempo presente, no tempo presente o tempo futuro, no tempo futuro o tempo passado e o tempo presente.

A nossa imaginação se excita ao relembrar que, no domingo anterior à chegada, acontecia na Charlote, Regent e Sainte Anne, que traziam a expedição eclética de protestantes e católicos, para a aventura de estabelecer nesses então mundos perdidos o sonho da França Equinocial. Havia 80 anos, os franceses navegavam nestes mares, pirateando desde o plateau das Guianas até a rota que levava o açúcar e pau-brasil das terras de Pernambuco.

O Maranhão estava destinado a ter uma grande história, de heróis, santos e mártires, além de cobrir da glória dos poetas, do lirismo dos cantores de amores e redondilhas em louvor à cidade que iria nascer e cumprir um grande destino.

Essa singularidade começa quando se funda a cidade e na missa da posse conta o frade Abeville que se faz com as palavras: “Esta terra se funda em nome de Jesus Cristo”, dizendo que ele é seu dono e protetor.

E é ele próprio quem a batiza sob o símbolo da Cruz. Assim, estes 400 anos são 146 mil dias de evangelização civilizatória.

Chegam os holandeses e o comandante da Expedição diz sermos, aqui, o Jardim do Éden, o Paraíso descoberto. Aqui passa o padre Vieira que nos chama de “maracatins dos maranhões, gentes mais nascida e criada nas águas”. Foi ele uma língua de fogo contra os nossos costumes, mas perguntado já velho onde desejava morrer, disse ser “no Maranhão”. É ele mesmo quem diz que o Maranhão já está no livro das profecias de Isaias, no Velho Testamento”.

Todos os grandes nomes do Brasil por aqui passaram. Aqui se deu o primeiro grito de libertação da pátria no heroísmo de Bequimão, enforcado pelo seu amor à liberdade. Aqui tivemos a maior das revoltas populares, autêntica revolta do povo, a Balaiada, na qual aparece a figura de Caxias, que do Maranhão sai deputado e barão. Quem o acompanhava, com seus navios em Icatu? Tamandaré.

Temos o maior poeta brasileiro, Gonçalves Dias, a cantar nossa terra que “tem palmeiras onde canta o sabiá”, cujo canto aqui tem algo de divino e sons de cantares de anjos.

Grandes historiadores, romancistas, filólogos. Capistrano de Abreu reconhece ser João Lisboa o melhor historiador que escreve em português.

Jules Lapouge, no seu livro Fronteiras, diz ter chegado aqui num feriado. A cidade estava deserta e ele sentou-se num banco na Praça Benedito Leite. Ninguém, só a cidade. Ele foi envolvido por uma sensação do que era a obra da criação e disse: “São Luís é a mais bela cidade do mundo!”. Ninguém mais do que ele expressou o que é nossa cidade, São Luís, Patrimônio Cultural da Humanidade, aura de poesia, perfume de cravo do nosso amor.

Festejemos. Cada um em sua casa, reunido com sua família, louve a Deus pela cidade e o nosso privilégio de aqui viver estes tempos, com a brisa do vento leste o que nos vem da África, que João do Vale sintetizou no seu hino, rosa amarela, onde diz que “todo mundo quer cheirar”

Cidade de nome de Santo e Rei, povo de gente boa e bonita. Vamos cheirá-la e louvar…