“Por absoluta impossibilidade de continuar a fazer. Por escolher o existir, renuncio”, diz Anna Graziella

Anna Graziella fala sobre intervenção do Judiciário

CARTA DE RENÚNCIA

Ilustríssimo escritor e acadêmico Benedito Buzar,
(Presidente do Conselho Curador desta instituição)

Nos últimos três anos, neste monumento que abriga parte significativa da história do Maranhão e do Brasil, cujas primeiras edificações datam de 1654, dediquei todas as forças de minha juventude para fazer desta Fundação da Memória Republicana Brasileira uma instituição que se tornou maior do que as querelas e disputas da política adulterada pela vileza humana.

Aqui presenciei cenas que mudaram por completo minha minguada compreensão em torno da vida e dos desafios que a vontade de fazer enfrenta, atada às responsabilidades de um cargo público. Não foram poucas as vezes em que, acompanhada da minha incansável equipe, tive meu ímpeto juvenil derrotado por lágrimas que triunfavam sobre minha face, ao conhecer de perto a realidade deste bairro abençoado por Nossa Senhora do Desterro. Nem foram raras as ocasiões em que fui condecorada com sorrisos e abraços de crianças que reerguiam as minhas forças e me impulsionavam a prosseguir a jornada.

No entanto, na data de hoje, comunico aos senhores sobre a impossibilidade de continuar a presidir esta instituição. O meu gesto decorre da mais absoluta humildade em reconhecer as palavras do Eclesiastes:

“há um tempo para todo o propósito e para toda a obra”.

O tempo e as circunstâncias encerram aqui a minha obra.

Após 21 dias, nenhuma definição oficial foi tomada sobre as novas finalidades desta Fundação. Transcorridas as primeiras duas semanas do ano, e sem nenhum comunicado oficial do novo governo, tomei conhecimento em uma entrevista concedida a um veículo da imprensa nacional acerca da intenção do governador do Estado, Flávio Dino, de privatizar este órgão. Em seguida, novamente lendo os jornais e as mensagens da Internet, soube que o órgão não seria mais privatizado e que voltaria a funcionar, mesmo com todos os nossos funcionários exonerados desde o dia 2 de janeiro e, trabalhando sem nenhuma perspectiva de receber algum salário, até a última sexta-feira, dia 16.

Em reunião realizada, na segunda-feira, 19, fui interpelada por secretários de Estado que tinham como objetivo principal investigar se existe neste órgão “culto à personalidade do ex-presidente José Sarney”, quando os milhares de visitantes que aqui vinham todos os dias são testemunhas da existência de apenas um corredor, no Convento das Mercês, abrigando objetos e informações referentes ao único e fundamental período em que o Brasil foi governado por um maranhense. Lamentavelmente, não houve compreensão e interesse sobre os programas, as ações culturais e educativas que representam a importante contribuição social deste órgão.

Neste dia, fui mais uma vez surpreendida pela cena em um telejornal sobre a possibilidade de que este lugar fosse transformado em um Memorial das Vítimas da Ditadura Militar.

Ontem, dia 20 de janeiro de 2015, também não recebi nenhum comunicado de que o governador havia nomeado um administrador para a Fundação da Memória Republicana Brasileira. Hoje, dia 21 de janeiro, em um ato de inequívoca arbitrariedade, fui impedida por policiais militares de cumprir meu expediente de trabalho, ao arrepio da lei.

Diante dos fatos acima citados e por reconhecer, como advogada e cidadã, que mesmo diante de uma determinação da Lei nº 9.479 de 21 de outubro de 2011, não posso mais exercer as minhas atribuições legais é que renuncio a esta Presidência.

Neste lugar, onde o maior orador sacro da Língua Portuguesa, o Padre Antônio Vieira, proferiu o Sermão a São Pedro Nolasco, quero expor uma razão ainda maior, aquela que me move a existência. Do magistral pregador, repito as palavras:

“Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos nos dias em que fazemos. Nos dias em que não fazemos apenas duramos.”

Por absoluta impossibilidade de continuar a fazer. Por escolher o existir – justificado e enobrecido unicamente pelo fazer – é que renuncio agora à Presidência desta honrada Fundação.

São Luís, 21 de janeiro de 2015.
Anna Graziella Santana Neiva Costa

22 pensou em ““Por absoluta impossibilidade de continuar a fazer. Por escolher o existir, renuncio”, diz Anna Graziella

  1. Quanto será que ela pagou pra escreverem esse texto pra ela??? Quem será que escreveu??? Huuummmmm…

    • Meu caro, não conheço a moça e portanto não posso elogiar ou contestar sua competência em redigir um texto. Porém, até onde sei a mesma é advogada. E se um advogado não for capaz de redigir um texto, não será capaz de exercer sua profissão. Caso contrário, como faria com as petições e outros documentos?

  2. Tarde demais, nem vou discutir o texto, coisa de intelectual que escreve as besteira de Sarney. Graziella deveria ter feito este pedido, no dia de sua demissão. Comissionada, sem direito algum deveria ter pulado fora, antes, muito antes. Não tinha passado esse vexame de ser barrada, ninguém é dono de cargo, o direito é do governo, fica quem ‘ele’ quiser, bota quem ‘ele’ quer.
    Dona Anna Graziella vai ter muito tempo para estudar pra concurso do Estado, ai sim, passando vai ser funcionária concursada…

  3. Aposto se ela sabe o que é trabalhar, acordar 6 horas, ter compromisso, se preocupar… Ops… Renunciar é melhor.

  4. Impedida?? Kkkk aposto o dia enquanto exercia a função de chefe da casa civil se foi pelo menos uma vez nesse lugar kkk chora na cama que é lugar quente.

  5. A verdade é que o museu de Sarney não é bem visto pela maioria da população maranhense. Então que se devolva as obras ao seu dono e se faça algo útil no local.

  6. Quanto machismo nestes comentários! Não poderia ter sido ela mesma quem escreveu?
    Ah, já sei! Costumamos a julgar por aqui que somos capazes de fazer!!
    Brilhante texto!
    Ass. uma feminista ocasional.

        • Q texto ridículo, de tão dramático está parecendo choro da Maria de novela mexicana. Sentiria vergonha de pedir demissão sob um dramalhão desse. De fato parece coisa de gente mimada. Não lamento sua saída pq não conheço seu trabalho, tbm não fico feliz, pelo mesmo motivo (como disse não conheci seu trabalho). Porém, lamento o que vejo, um pedido de demissão acusativo, onde se tem uma vítima hiper dramática. Será que ela já tentou amadurecer na vida?

  7. Laudo aponta risco de desabamento e incêndio na Fundação Sarney

    Foi constatado também que o sistema de alarme de incêndio não funciona e o edifício não possui luminárias ou sinalização de emergência

    Publicação: 23/01/2015 08:56 Atualização: 23/01/2015 09:15
    *Com informações do Site O Globo

    De acordo com o laudo do Corpo de Bombeiros do Maranhão concluído na última terça-feira, aponta que há sérios riscos de incêndio e até de desabamento de parte do prédio do Convento das Mercês, onde funciona a Fundação da Memória Republicana Brasileira, onde têm objetos, livros, quadros e outros pertences pessoais do senador José Sarney (PMDB-AP). No total, há 13 observações sobre irregularidades no casarão. O Corpo de Bombeiros deu prazo de 30 dias para que a Fundação melhore a segurança.

    Foi constatado também que o sistema de alarme de incêndio não funciona e o edifício não possui luminárias ou sinalização de emergência. A situação se agrava pelo fato do piso e o forro serem inflamáveis.

    No ano passado o convento recebeu 71 mil visitantes e, neste ano, até sexta-feira passada, 970 pessoas. Na conclusão do laudo foi apontado que as instalações do Convento das Mercês não apresentam totais condições de segurança contra incêndio e pânico. O prazo dado pelo Corpo de Bombeiros foram de 30 dias, se não forem atendidos os requisitos para adequação do prédio, o imóvel poderá ser multado ou interditado.

    O governador Flávio Dino (PCdoB) eleito discute o que fazer com a Fundação. Nesta semana, ele nomeou um administrador para cuidar da entidade. A Fundação transformou-se em uma estatal por decreto da ex-governadora Roseana Sarney (PMDB), em 2011.

    O governo demitiu todos os 48 servidores comissionados que trabalhavam na fundação. Os gastos anuais com a entidade superam R$ 3 milhões.

  8. Cheeegaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    Acabou ! vai mamar na teta de outro governo!!!!

  9. Tomara a Deus que o governador já eleito (mas ainda em campanha) comece de fato a governar o estado. Acho que os problemas pessoais com os Sarneys devem ser resolvidos nos ringues de vale-tudo, sem prejuízo ao erário. O referido museu pode até ser chamado de “elefante branco” já que não é comum à nossa gente cultivar o respeito pela memória. Provavelmente se o prédio abrigasse obras ou informações de algum outro presidente de outro estado, como São Paulo ou Rio por exemplo, ou as luvas do Michael Jackson, as chuteiras do Neymar, os charutos do Fidel Castro, o povo contemplaria. Mas se entende essas posturas arrogantes e extremamente deselegantes, elas manifestam a ânsia reprimida pelo poder durante tanto tempo. Por falar em tempo: Dentro de um ou dois anos o novo governo deverá sentir os primeiros golpes das pedradas da opinião publica, já que agora é vidraça. Boa sorte a moça!!!

  10. Sua excelência, o, Governador perdeu um pouco do brilho de sua gestão ao criar este problema na Fundação da Memória Republicana, poderia adiar um pouco esta decisão um tanto infeliz.

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