COLUNA DO SARNEY: Julho do Vento Leste

No Maranhão da minha mocidade era a classe estudantil quem comandava as lutas de ruas. A cidade de São Luís não chegava aos cem mil habitantes. Terminava na Rua do Passeio e o que existia dali para frente já era tido como subúrbio. A Rua Grande era a espinha central que se estendia, formando o Caminho Grande, passando do antigo Galpão – um mercado de hortaliças que existia onde hoje está uma caixa de água, em frente da descida para a Avenida Kennedy – e dali rumando para o Anil, já adiante, com as quintas de belas casas e fruteiras e grandes quintais.

Multidão no protesto de ontem (22) em São Luís

Multidão em protesto na capital

A primeira delas era em frente a onde hoje é a Igreja Universal, antigo Campo do Moto, terras da Fabril que se estendiam até o Caminho Grande. Até ali o calçamento era precário e seguia como estrada, onde passava o bonde que ia até o Anil, passando pelo João Paulo, o Outeiro da Cruz, Cutim do Padre e fazendo sua volta lá perto da fábrica dos Jorges (ainda conheci dona Graça, matriarca, e seus filhos e netos), hoje um grande colégio criado por Nice Lobão. O bonde era quase que o único transporte, além das carroças e cavalos. Carros eram seis a oito, táxis, com os choferes de paletó e gravata, conhecidos e respeitados na cidade, como gente importante.

O grande centro de reunião, onde todos também iam de terno e gravata, era o Largo do Carmo, local das fofocas e dos encontros, com os cafés, o mais célebre o do Chico, e o Moto Bar, onde o Serafim servia cerveja gelada e um pernil de porco com molho inglês.

O Maranhão ainda estava nos tempos da Colônia, com hábitos do Império e em plena República Velha, mergulhado em obscurantismo, decadência e sem ideias. O único divertimento dos moços era fazer versos e viver sonhando com uma Julieta como musa.

A única coisa a quebrar era a monotonia e os bondes velhos nos 11 de Agosto, dia dos estudantes.

Foi aí que surgiu entre os jovens poetas o sonho de mudar, com a minha geração, na qual eu tinha uma visibilidade muito grande como líder estudantil, como presidente do Centro Liceísta, depois da União Maranhense de Estudantes, do Diretório da Faculdade de Direito, da UNE. Era um desejo abstrato, ainda sem causa definida, mas com o sentimento de mudar o mundo. Tínhamos essa quase religião e para isso nos reuníamos em conversas intermináveis, varando as noites, entre poesia, sonho e desejo de mudar o Maranhão, a sorte de nossa cidade, a humanidade.

Hoje, as novas gerações têm outros valores, alcançaram bens materiais e estão insatisfeitos com a qualidade da vida. E assim, são melhores do que nós que pregávamos na escuridão enquanto eles, hoje, têm instrumentos à mão para que seu pensamento seja ouvido. A internet veio para ficar. É um mundo não mais em transformação, mas transformado. O perigo é a infiltração da bandidagem e de radicais políticos, saqueando, quebrando e banalizando a violência que nada tem com as motivações dos moços.

Comecei este artigo com o desejo de falar sobre o Vale Festejar, o São João fora de Época, sobre Duarte Pacheco Pereira, que está nos Lusíadas de Camões como o Aquiles Lusitano, que escreveu um livro sobre suas viagens, Esmeraldo de SituOrbis, e que eu estou desconfiando que passou pelo Maranhão, na altura de Turiaçu, em 1498.

Mas voltei ao presente e quero parabenizar os cantores do Maranhão pela lei do direito autoral que acabamos de votar.

Julho, boas férias, começa a soprar o “vento leste” de João do Vale e a “que todo mundo quer cheirar”.

8 pensou em “COLUNA DO SARNEY: Julho do Vento Leste

    • Idiotice! Sarney está muito alem da mediocridade de seus críticos sem visão real das coisas.

  1. Abram as porteiras, PAI FRANCISCO chegou!!!
    Que bom, caboclo!!!
    Tem muita coisa pra você comentar.
    O caboclo que você deixou no seu lugar é muito bom, deu conta do recado.
    Ele só errou por divulgar nossos comentários…PAI FRANCISCO tava carregado de causos…

  2. Com toda essa crise que assola o pais os únicos que tem condições de cheirar e atua família sarney.

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