O Espaçoporto de Alcântara recebeu o presidente da Agência Espacial Brasileira, Carlos Moura, integrantes da indústria espacial nacional e do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) para a realização do teste de um dos projetos estratégicos da Força Aérea Brasileira (FAB), o PropHiper.
A operação Cruzeiro realizou o lançamento do experimento para viabilizar o teste em voo do 14-X S, primeiro demonstrador brasileiro da tecnologia hipersônica aspirada, conhecida pela sigla em inglês Scramjet. O 14-X S foi acelerado a uma velocidade seis vezes superior à velocidade do som, a mais de 30 km de altitude, por meio de um Veículo Acelerador Hipersônico (VAH).
“Este é um exemplo de que a indústria nacional tem como se engajar, de forma eficaz, em projetos científica e tecnicamente desafiantes, o que as qualifica para alçar outros voos nas cadeias de valor do mercado espacial”, disse Carlos Moura, após o sucesso da operação.
Após a realização do ensaio, o conjunto seguiu a trajetória prevista, atingindo o apogeu em 160 km, percorrendo um total de 200 km de distância, até seu impacto numa área segura no Oceano Atlântico. O Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), berço do Programa Espacial Brasileiro, construído há 60 anos, atuou como Estação Remota de Rastreamento.
Após esse primeiro teste, o Brasil ingressa no seleto grupo de nações que detém o conhecimento técnico e os meios para projetar, construir, lançar e rastrear um sistema hipersônico aspirado. O Projeto PropHiper teve início em 2006, com o objetivo de capacitar o Brasil na área estratégica e prioritária da hipersônica, em sinergia com a Estratégia Nacional de Defesa (END).
Para cumprir os objetivos traçados anteriormente, o projeto foi dividido em quatro grandes metas associadas aos ensaios em voo dos demonstradores de tecnologia designados como:
I. 14-XS: demonstração, em voo ascendente balístico, da combustão supersônica;
II. 14-XSP: demonstração, em voo ascendente balístico, da propulsão hipersônica aspirada;
III. 14-XW: demonstração, em voo planado (sem propulsão), de um veículo hipersônico controlável e manobrável com sistemas de guiamento, navegação e controle (GNC), emprego de materiais avançados, durante o voo hipersônico na estratosfera; e
IV. 14-XWP: demonstração, em voo autônomo, de um veículo hipersônico controlável e manobrável com propulsão hipersônica aspirada ativa.
Até o presente momento, foram capacitados recursos humanos, construídos laboratórios e os únicos túneis de vento hipersônico na América Latina, além da realização de diversos ensaios em laboratório. O Nível de Maturidade Tecnológica da tecnologia de propulsão Scramjet nacional é atualmente TRL 6. Isso significa que a tecnologia constitui um protótipo funcional, qualificado e aceito para operação fora do ambiente laboratorial. Após a Operação Cruzeiro, a tecnologia de propulsão hipersônica avançará para o TRL 7, com a comprovação e demonstração de seu funcionamento em voo atmosférico.
O coronel aviador Marcello Corrêa de Souza, diretor do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), observou que “o Centro de Lançamento de Alcântara, ao receber uma operação de grande porte, como a Cruzeiro, se habilita cada vez mais para receber empresas estrangeiras e consolidar a capacidade operacional do Brasil, no segmento solo do Programa Espacial Brasileiro”.
Para o diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), brigadeiro do ar César Augusto O’Donnell Alván, o desenvolvimento do Veículo Acelerador Hipersônico, pelo IAE, para viabilizar o lançamento do 14-X S, demonstrou que as tecnologias espaciais dominadas pela FAB são pilares indispensáveis na inserção do Brasil em novos projetos espaciais.
O coordenador-geral da Operação, coronel aviador Eduardo Viegas Dalle Lucca, revelou que a Operação Cruzeiro permitiu ao país dar um salto qualitativo no domínio da tecnologia hipersônica aspirada. Ele ressaltou o ineditismo de lançar uma carga útil tecnológica nacional, empregando um veículo idealizado e fabricado no Brasil e usando infraestrutura dos centros de lançamento brasileiros. “A sinergia dos vários atores evidenciou a capacidade do DCTA de realizar um ensaio em voo desse nível de complexidade”, destacou.
O diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEAv), coronel engenheiro Fábio Andrade de Almeida, afirmou que “testar tecnologias hipersônicas em condições reais de voo é o auge das pesquisas que são desenvolvidas no IEAv. Na Operação Cruzeiro, testamos um motor aeronáutico em voo hipersônico utilizando o hidrogênio como combustível, algo inédito na aviação nacional”.