‘Fomos incapazes de aprofundar a democracia’, diz José Sarney

A política é o permanente

Coluna do Sarney

A política, não só no Brasil, mas em toda parte, tem andado numa maré de desprestígio. Isso é da maior gravidade, pois gera um círculo vicioso: os jovens que se preocupam com a sociedade e com a justiça social se afastam da vida pública, que passa a ser ocupada cada vez mais por pessoas incompetentes que trabalham por seus interesses pessoais, esquecendo o Estado e o bem comum, aumentando o desgaste da política.

Sem a política, é impossível que as instituições democráticas funcionem. Se onde elas existem a coisa é difícil, imaginem onde não existem.

Aristóteles dizia que o discurso, próprio do homem, serve para distinguir o justo e o injusto, e assim buscar o bem. Daí a criação do Parlamento e da representação política. O Parlamento é a maior instituição política já criada pelo homem na busca do autogoverno. Nele o povo detém o poder de questionar, de protestar, de fiscalizar, de mudar. Deve ser sagrado na cabeça do povo. Ele é a essência das liberdades. Quando o Parlamento é fechado ou nulo, o sistema se abala.

Há bons políticos e maus políticos. Não vamos generalizar. Uma das excelências da democracia representativa é que ela se constitui sempre de mandatos transitórios, e o povo tem o poder de mudá-los, expulsá-los da política.

No Brasil, queremos fazer que a democracia funcione sem partidos, sem políticos, sem política. Ela está a cada dia descambando mais para uma ação concentrada entre amigos e inimigos que se reúnem em questões tópicas para gerir crises e administrar o cotidiano. Não existe nenhuma visão prospectiva da solução dos problemas do País.

Fomos incapazes de aprofundar a democracia que conquistamos e construímos. O desenvolvimento estagnado e medíocre do neoliberalismo mostrou-se incapaz de assegurar um mínimo de justiça social e oportunidade de melhor qualidade de vida.

Eu fico preocupado. Não com a democracia, mas com a qualidade e a saúde de nossa democracia. Já muito foi dito que ela é mais um estado de espírito do que um regime. Com o exercício de eleições passamos a julgar a democracia unicamente por estas. Não bastam instituições democráticas, mas é preciso educação democrática.

O Brasil perde gradativamente o respeito pelos valores da democracia, que passam a ter o crivo da circunstância, sem a noção de que um sistema de valores é perene e aspira à eternidade. Acumulamos um retrocesso. Destruíram-se os partidos, acabaram-se as ideias, sumiram os programas, a ética e a moralidade foram banidas do processo político. É o caos.

O problema, assim, é político. O resto é conjuntura. A política é o permanente.

4 pensou em “‘Fomos incapazes de aprofundar a democracia’, diz José Sarney

  1. O presidente deve estar se referindo à chapa Lula-Alckmin. Gosta do neoliberalismo? É contra? Vote nos dois. Demais, não dá pra fazer “a boa política” do jeito de hoje, botando os eleitores pra se insultarem por causa de gente que depois vira aliado. Esse artigo (muito bom) leva à conclusão que política, para a maioria, é esse joguinho direita x esquerda, onde nem sequer se sabe as regras.

  2. A tal “ditadura ” foi mil vezes melhor que esse regime fascista de extrema ESQUERDA . O resultado é esse que conhecemos, por isso eles não aceitam a direita no PODER.

  3. Aqui no Maranhão a política, a politicagem, as pilhagens do dinheiro público dos últimos 57 anos afundou ainda mais o nosso estado que já vinha alquebrado pelas práticas do vitorinismo. O mais desanimador é que não temos hoje nomes novos para nos dar alguma esperança, os que estão aí, lamentavelmente, apenas fazem e se propõem a fazer no íntimo as mesmas práticas dos antigos políticos desta província.

  4. Aqui no Maranhão a política, a politicagem, as pilhagens do dinheiro público dos últimos 57 anos afundaram ainda mais o nosso estado que já vinha alquebrado pelas práticas do vitorinismo. O mais desanimador é que não temos hoje nomes novos para nos dar alguma esperança, os que estão aí, lamentavelmente, apenas fazem e se propõem a fazer no íntimo as mesmas práticas dos antigos políticos desta província.

Os comentários estão fechados.