A desembargadora Nelma Sarney, do Tribunal de Justiça do Maranhão (TJMA), concedeu ontem entrevista ao Blog do Gilberto Léda. Ela falou sobre a eleição para a Mesa Diretora da Corte – algo inédito nas últimas décadas, marcadas por eleições protocolares, por aclamação – e dos seus planos caso seja escolhida a nova presidente.

Ainda em conversas com os colegas desembargadores em busca de votos – a disputa será como desembargador José Joaquim Figueiredo dos Anjos -, Nelma diz que foi pega de surpresa com a candidatura do colega.

“Foram dois meses de muita angústia, porque um momento que poderia ser de consagração, pela regra da tradição, que vem acontecendo há dois séculos no Tribunal, será de disputa entre desembargadores. Nunca pensei que eu fosse passar pelo que estou passando, porque são 30 anos de carreira, de dedicação, de amor a essa carreira pela qual eu sou apaixonada, me dedico”, disse.

A desembargadora afirmou que, como esperava respeito à tradição, não se preparou para um embate “corpo a corpo” pelos votos.

“Eu não estava preparada para esse tipo de disputa e acho até que o desembargador José Joaquim, que é magistrado de carreira, também não. Até porque não é da natureza da nossa profissão. O Poder Judiciário não está acostumado com as lutas, os conflitos que um pleito eleitoral traz embutidos em si”, comentou.

Ela se disse preocupada com o pós-eleição, seja qual for o resultado.

“É uma situação que eu vejo com bastante preocupação, porque tira toda a segurança do respeito à tradição, à antiguidade, que se vê nos tribunais superiores. Com certeza cria um clima de desarmonia entre os integrantes da Corte. De dois meses para cá eu me vi diante de uma situação para a qual eu não estava preparada, que é esse embate político dentro do próprio Tribunal”, reiterou.

A magistrada acrescenta que percebe um sentimento de preocupação em todo o Judiciário.

“A repercussão no seio dos funcionários também está trazendo uma insegurança. Não está sendo bom [o clima de disputa] nem para o corpo de funcionários do próprio Tribunal. E para os juízes também. Todos com os que eu tenho tido a oportunidade de conversar demonstram preocupação no que diz respeito a esse tipo de conflito interno. Não traz segurança para ninguém, não protege ninguém e o Poder Judiciário é o órgão de proteção dos direitos”

Gestão

Caso eleita, Nelma Sarney diz que pretende fazer uma “gestão compartilhada”.  “Só se pode administrar um órgão se for de forma compartilhada com seus pares. E é isso que eu espero, é isso que eu desejo: que esse meu trabalho seja reconhecido”, disse.

Segundo ela, além dos desembargadores, servidores e juízes também serão ouvidos na sua administração.

“A minha administração no Tribunal de Justiça será compartilhada com todos os meus pares, com todos os meus colegas, com todos os funcionários, os juízes, como foi na Corregedoria”, completou.

A desembargadora acrescenta que, apesar da iminente disputa, ainda acredita em alguma forma de consenso e ressalta que segue buscando apoio.

“Tenho conversado com todos, tenho procurado os desembargadores, com todos os colegas que estão me dando a oportunidade de conversar, eu tenho procurado conversar”, comentou. “Essa é minha proposta, de harmonia”.

Apoio

Durante a entrevista, Nelma Sarney também destacou o apoio que tem recebido de servidores do Judiciários. Em recente eleição simulada, realizada no site do Sindicato dos Servidores da Justiça do Maranhão (Sindjus), a desembargadora apareceu com mais de 95% dos votos.

Para ela, trata-se de reconhecimento ao trabalho desenvolvido “em prol do Poder Judiciário” maranhense alo longo dos último anos.

“Foi a resposta de um trabalho que eu venho ao longo do tempo desenvolvendo. É o reconhecimento, por parte dos servidores, do meu posicionamento e do meu trabalho em prol do Poder Judiciário do Maranhão. Acho que isso está plenamente demonstrado através dessa eleição simulada. A preocupação dos funcionários com o respeito à tradição”, concluiu.