ARTIGO: A Grande Ilha do Maranhão

Por Adriano Sarney*

O fortalecimento da agricultura familiar foi o tema de meu último artigo da série “Desenvolvimento Regional Sustentável.” Hoje, vamos voltar nosso olhar para a metropolização da Grande Ilha do Maranhão, suas consequências e soluções.

adrianoComo todos sabem, a Grande Ilha apresenta vários problemas decorrentes do crescimento e da ocupação desordenada, principalmente de São Luís, mas também dos outros municípios que a compõem, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa. O trânsito caótico que tomou conta de nossa área metropolitana, a violência, a precariedade da destinação do lixo, assim como os baixos índices de cobertura dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, impactam diretamente na poluição do solo, das praias, dos rios e dos mananciais. Estas são algumas das consequências da falta de planejamento e de um instrumento de gestão participativa e compartilhada dos municípios da Ilha com o apoio dos governos Estadual e Federal.

Em 1987, o atual membro da Executiva Estadual do Partido Verde e ex-deputado, Nan Souza, propôs a Carta de Urbanismo da Grande São Luis, o pontapé inicial para a criação de leis e ações que regem a Região Metropolitana da Grande São Luís – RMGSL. Na época foi viabilizado um financiamento junto ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, para estruturação do Laboratório de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto da UEMA que monitora, inclusive com imagens de satélite, o crescimento da cidade e presta, até hoje, um importante serviço para a sociedade. O Laboratório precisa ser mais apoiado e valorizado como uma ferramenta importante para balizar o nosso crescimento. Contudo, após 27 anos, não se vê novas ações práticas no sentido de desenvolvermos de maneira sustentável a nossa região metropolitana apesar da homologação da lei de criação da Região Metropolitana – RM, Lei Complementar Estadual No 38 doze anos depois do lançamento da Carta.

Segundo o Prof. Jurandir Fernandes, da UNICAMP, um dos maiores especialistas da área, a “região metropolitana é o conjunto de problemas comuns a serem resolvidos por prestação de serviços comuns. Indo mais além, exige planejamento socioeconômico, territorial, controle do solo e ordem política institucional.” Ou seja, a solução é o planejamento e para isso é preciso uma gestão compartilhada dos municípios da Grande Ilha. A primeira etapa, então, passa necessariamente pelo campo político e é aí que estamos estagnados há quase 30 anos. A Prefeitura de São Luis, que é a cidade-sede da região e que deveria capitanear todo esse processo, nunca se interessou de fato em organizar um consórcio, uma agência ou um comitê gestor para tratar de assuntos metropolitanos. Outra questão é a eterna incompatibilidade política entre os governadores e os prefeitos da capital. As disputas políticas sempre falaram mais alto do que as parcerias institucionais. Soma-se a isso, as sobreposições de limites geográficos das cidades da Ilha, motivo de disputas judiciais entre os municípios, quase sempre com o objetivo de aumentar suas populações e receberem mais repasses federais.

Observam-se iniciativas isoladas do Governo Estadual como, por exemplo, a construção do Corredor Metropolitano para desafogar o trânsito pesado entre as cidades. Contudo, sem ações e políticas integradas e coordenadas, sem um comitê gestor que tenha autonomia e funcione, as forças públicas permanecerão competitivas em vez de cooperativas e nunca avançaremos. É primordial que os sistemas de transportes, de informação, de segurança, de saúde e os serviços de infraestrutura sejam planejados em conjunto para atender toda a região metropolitana, é preciso um planejamento integrado de políticas econômicas, sociais, habitacionais, ambientais, segurança e saúde que garantam qualidade de vida as pessoas. O desinteresse e desalinhamento político certamente já fizeram com que a Grande Ilha deixasse de captar importantes recursos federais que são destinados para áreas metropolitanas em todo o país. Deixamos passar também boas oportunidades de criar concessões, consórcios públicos e parcerias público-privadas visando uma maior flexibilização e agilidade na execução de obras e prestação de serviços públicos.

Nunca é tarde para começar um processo de cooperação no âmbito da esfera pública, acima dos interesses político-partidários e mais próximo das necessidades das populações dos municípios. O processo de metropolização deve ser, assim, orientado e conduzido sob a ótica do desenvolvimento regional sustentável, com a participação, não apenas da máquina publica, mas também da sociedade civil, do setor privado, das entidades, das organizações não governamentais. O cidadão consciente de seu dever e de seu lugar na sociedade é o motor desse processo de transformação e desenvolvimento.

No próximo artigo, discorreremos sobre uma paixão, o Centro Histórico de São Luis, e de que forma poderemos dar sustentabilidade a este Patrimônio da Humanidade com a necessária independência das ações do poder público. Acompanhe todos os artigos da série “Desenvolvimento Regional Sustentável” também no Facebook.

Fontes: IBGE, Governo do Estado, Sebrae, Prof. Lúcio Antônio Alves Macêdo,  Nan Souza membro da executiva do PV, Prof. Jurandir Fernandes.

*Adriano Sarney, economista, empresário e administrador, Coordenador Metropolitano do Partido Verde/MA, Mestrado em Economia na Université Paris I Sorbonne, Pós-Graduação em Gestão na Universidade Harvard. 

Fanpage oficial: www.facebook.com/adriano.sarney

Artigo: Traíras e trairagens

Por Fábio Câmara*

Zé Reinaldo traiu Zé Sarney – e não deveria ter traído nunca! Zé Reinaldo elegeu Flávio Dino, deputado federal, e viu seu pupilo trair nas eleições de 2012, Tadeu e Elisiane Gama para eleger o prefeito Edivaldo de Holanda Júnior.

flavio-e-reinaldo1Depois de trair os dois melhores colocados nas pesquisas para a sucessão 2012, Dino se tornou traíra contumaz. Se acostumou a trair. Traiu a presidente Dilma. Se serviu da boa fé da presidente Dilma. Deixou um rombo de milhões na carteira de turismo da Embratur e agora será cabo eleitoral de Aécio Neves.

Traiu o PDT pra quem prometeu a vice. A prática da trairagem está tão forte e presente no Dino que ele chega a ‘trairar’ a si mesmo. Sim! Ontem, para Dino, Castelo era a imagem do atraso. Hoje, traindo a si mesmo, Dino posa para a foto abraçado com Castelo e o exalta como sendo uma importante força política de libertação do Maranhão.

Dino está traindo o prefeitinho que ele mesmo elegeu fortalecendo dois outros potenciais candidatos à prefeitura de São Luís em 2016 – Elisiane e Neto Evangelista.

Ao avaliar os números de Castelo para o Senado, Dino que vem se saindo um ‘mestrado em trairagem’, irá preterir Roberto Rocha, escolhido por ele para disputar o cargo de senador. Quem viver verá!

E, se Flávio Dino perder a eleição para o governo do estado? Então ele concluirá o seu ‘doutorado’. Será ele mesmo candidato a prefeito de São Luís, traindo Holandinha, Elisiane, Neto Evangelista e a todos os que não interessarem mais ao seu projeto egoísta de poder.

Mas, o pior de tudo isso é que a trairagem infecta, contamina, contagia como um vírus fatal. O que passou de Zé Reinaldo para Dino já contaminou Elisiane Gama. Ela jurou que seria candidata à governadora e que não cairia mais na lábia do juiz. Acreditando nela, a maioria da família do Dr. Jackson Lago se filiou ao PPS. Elisiane que não aprendeu ao ser traída, aprendeu rapidinho a trair.

edivaldoHolandinha, que foi eleito por Dino, também aprendeu rapidinho a ser traíra. E no caso do prefeito do PTC vale destacar que ele comete a pior de todas as trairagens.  Edivaldo também traiu a presidente Dilma, seguindo os passos do seu mestre. De conselheiro da Dilma ele passa agora a acusador da presidente. Ele afirma que os cortes orçamentários que está fazendo e que pretende fazer se devem à diminuição de repasses por parte do governo federal. Mentira! Os repasses federais seguem normais e até tiveram aumento. A máquina local é que é incompetente, desajustada e ineficiente para arrecadar e gerir bem a coisa pública, como já mostrei recentemente durante uma audiência pública na Câmara. Porém, a maior autoridade traída aqui, não é a presidente Dilma. A trairagem sem perdão que comete o prefeito Edivaldo é contra o povo. O povo jovem que acreditou na renovação e na mudança. Traído!

O povo que compõe a mocidade e que acreditou na criação de uma Secretaria de Juventude com políticas públicas projetadas para eles. Traídos! O povo que se serve do transporte coletivo que acreditou no Bilhete Único, na licitação para o sistema de transportes, no GPS nos ônibus e em um VLT com destinação outra que não o desmonte, o sucateamento e o enferrujamento num galpão abandonado. Traído!

(Foto: Hilton Franco)

(Foto: Hilton Franco)

O povo que acreditou nas subprefeituras. Traído! O povo que confiou em dias melhores para o sistema de saúde da capital maranhense; que acreditou na construção do Hospital DR. Jackson Lago e nas UPAs Municipais. Traído! Todos nós sabemos que traíra é peixe de água doce. Mas, aqui em São Luís e sob o comando de Dino e companhia a trairagem, infelizmente, nada de braçada num verdadeiro mar de lama.

Oxalá que a nossa gente não se deixe enganar novamente pela incompetência travestida de mudança. Dessa mudança traíra, já basta o prefeito Edivaldo Júnior o preço que São Luís está pagando é grande demais para castigar o nosso querido Maranhão.

*Fábio Câmara é vereador de São Luís

José Reinaldo e suas “previsões” furadas

flavio-e-reinaldo1O ex-governador José Reinaldo (PSB) apareceu esta semana com mais uma “previsão” sobre o processo eleitoral maranhense e o grupo Sarney.

Disse em artigo publicado no Jornal Pequeno que a pré-candidatura do senador Edison Lobão Filho (PMDB) não passa de um “balão de ensaio”.

“No momento essa candidatura é para valer, mas poderá não ser no final de junho, que é a data limite das convenções partidárias que definem os candidatos. Se assim acontecer, pelo menos terá servido para animar a turma com a possibilidade de aparecer uma ‘ajuda de campanha'”, avalia o socialista.

José Reinaldo e essa mania de supervalorizar José Sarney. Acha sempre que há um grande plano, mesmo por trás das decisões mais simples.

Até o final do mês de março, por exemplo, o ex-governador tinha certeza de que a governadora Roseana Sarney (PMDB) deixaria o governo para ser candidata a senadora – alguns comunistas foram na dele e acabaram até perdendo uns uísques em apostas por aí.

Como se sabe, entretanto, ela segue no comando do estado, onde ficará até o fim do ano.

E a José Reinaldo, com sua previsão furada, só restou impressionar-se com a postura da peemedebista. “Nunca antes nesse estado, quiçá no país, tivemos a desistência de uma chapa majoritária toda, candidatos a governador e senador, exatamente por ocasião da data legal limite para sair do governo e se tornar pré-candidato”, escreveu, para justificar o tremendo erro de cálculo.

Cuidado, Zé…

Um cenário político onde vale tudo

berenicePor Berenice Gomes da Silva *

Um dia, o tema vai se exaurir pela repetição e cansaço que causa aos leitores. É sempre o discurso anti-Sarney e fora Sarney.  O ex Presidente sairá da cena política, pois chegará aos 84 anos. E o que restará à esquerda do Maranhão? Sintomaticamente, os ataques se acentuaram a partir do instante em que o senador fez a opção em apoiar o presidente Lula, esse operário e líder sindical que ousou chegar à Presidência da República e a Presidente Dilma Rousseff, sua sucessora.

É muito evidente o horror que causa à grande mídia a pessoa da Presidenta Dilma. Até mesmo a Copa, que foi motivo de comemoração o Brasil sediá-la, passou a ser um evento negativo para muita gente. Decidisse o senador José Sarney declarar seu apoio ao presidenciável Aécio Neves e todos os seus pecados estariam perdoados.  Relegar Lula ao ostracismo e tentar impor uma derrota ao PT é o grande objetivo de setores da mídia. Comprovadamente, não basta o famoso atestado de bons antecedentes e vida pregressa aos políticos, de atuação mais duvidosa e até mesmo escabrosa. Rompeu com Sarney, corre o risco de ser canonizado.Até os mais duvidosos ou os que dantes foram alvo de ataques de setores progressistas, agora a onda é ser contra o Sarney para parecer bem na fita.

Análise semelhante se encontra na entrevista do escritor Joaquim Haickel ao traçar características de políticos do Maranhão que apóiam o candidato Flávio Dino e Edson Lobão Filho. Quem são os que mudam de lado? Onde estavam? A que grupo pertenciam?  Qual o seu passado?

Agora, o candidato a governador Flávio Dino vem apenas legitimar uma relação que já vinha sendo construída com os tucanos. Após deixar a Magistratura, Dino buscou conversar com o PT, seu antigo partido. Sua opção pelo PC do B, onde teria um espaço sem ter que enfrentar disputas internas, não o impediu de ser acolhido e muito bem acolhido pelos antigos companheiros do PT. Seu nome para disputar a Prefeitura de São Luís havia deixado seqüelas em alguns petistas, como o ex filiado, Bira do Pindaré.

A indicação de Flávio Dino para a presidência da Embratur não se deu apenas pela sua referência no PC do B ou pela sua competência, mas certamente, deu-se, também, pela boa relação com a cúpula do PT nacional, pela sua atuação como parlamentar e jurista.  Mas os sonhos políticos não medem consequências para voos mais altos. E mais uma vez, o PC do B igorou a dialética como método, fazendo uso da forma pragmática ao considerar o projeto local acima do nacional.

 Pela análise da história, não foi a primeira vez. Em 1995, o PC do B apoiou e compôs o Governo Roseana quando a governadora era do PFL, portanto, da base do governo Fernando Henrique. Quando o grupo Sarney rompe com o PSDB, coincide com o momento em que o PC do B faz a ruptura com o grupo Sarney, tornando-se oposição.

A candidatura do PC do B consolida uma aliança com setores mais conservadores com as chamadas “oligarquias” regionais, herdeiros da política patrimonialista em âmbito regional ou local, muitos dos quais que se utilizam do poder para perseguir lideranças progressistas em seus municípios, com o mesmo método de poder de mando com que criticam o grupo Sarney.

Tentam “justificar” e até comparar a adesão do candidato do PC do B ao PSDB, com a aliança que houve no Acre entre o PT e o PSDB. Só esquecem de citar que, no Acre, foi uma aliança contra o tráfico e o crime organizado e aprovada pela direção dos dois partidos. Na realidade, a aproximação entre os neocomunistas e os tucanos têm raízes locais. Querer culpar o PT talvez seja a “desculpa” que interessa ao candidato do PC do B, pois o mesmo nunca explicitou o desejo de querer aliança com o PT. Aliás, quando o grupo do PT bancou a aliança e apresentou Flávio Dino como candidato à prefeitura de São Luís, em 2008, foi com a intenção conjunta de dar prosseguimento à aliança para 2010. Após as eleições, o candidato, talvez, não tenha aceitado a derrota ou talvez tenha tido receio de “compartilhar” com os companheiros que o apoiaram. Mas os companheiros petistas históricos nunca se pautaram em mandatos e muito menos por cargos.

Ao deixar de lado o projeto nacional do qual fez parte até recentemente, o candidato do PC do B joga em todas as frentes, de Aécio Neves a Eduardo Campos, no afã de eleger-se governador do Maranhão. Mais ainda,  dando sustentação ao projeto político de Partidos contrários aos interesses nacionais, como é o caso do PSDB e dos que se mantiveram aliados dos governos Lula e Dilma,  somente no momento em que interessava aos seus projetos locais ou individuais, como é o caso do PSB, de Eduardo Campos e Bira do Pindaré, além  do Solidariedade, do Paulinho da Força Sindical, onde o Dutra foi buscar guarida.

Pelo visto, pouco se fala de programa ou propostas nestas eleições no Maranhão. No lugar de aliança programática, o ódio e o adesismo a personalidades.

Por outro lado, a aliança com o PMDB tem um custo político muito grande. E ela não se sustenta no romantismo, mas na opção daqueles que não abrem mão do projeto que está em curso no Brasil e que tem mudado a vida de milhões de pessoas. Se o PMDB pode ser aliado no plano federal, o PT pode se manter aliado em nível local. Mas as bases para uma aliança política é o programa, são as ideias e propostas.

É claro que temos várias questões de divergência programática com o PMDB. Defendemos um modelo de desenvolvimento com sustentabilidade econômica e social, distribuição de renda e justiça social. Não abrimos mão da participação e do diálogo com a sociedade civil. Esta foi a marca do PT no governo estadual. Mas é preciso ir além do simbólico e avançar em ações concretas, caso contrário não se justifica a reedição de uma aliança. É inadmissível, por exemplo, que o Maranhão, um estado com forte característica rural e agrícola, não tenha um Plano Estadual de Apoio à Agricultura Familiar que inclua a assistência técnica e Extensão rural, como temos o da Segurança Alimentar e Nutricional, resultante da forte atuação e apoio dado ao CONSEA. O PT propôs a criação da Secretaria de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar, em 2010, proposta acatada pela Governadora Roseana, tão logo assumiu o governo, em 2009. A SEDAGRO foi criada nos mesmos moldes do MDA, da estrutura do Governo Federal, mas houve uma reforma unilateral, sem que o PT fosse consultado, o que descaracterizou esta área. Isto enfraqueceu a política de desenvolvimento rural e ainda complicou a área de direitos humanos, com a fusão da SEDES, quebrando, inclusive, a lógica do sistema e da política de Assistência Social. Isto afetou diretamente a relação com os movimentos sociais que vinham dialogando com o Governo, por meio da Vice-Governadoria.

O maior desafio para o PT não será nestas eleições, mas após as mesmas. Construir a unidade interna, sabendo que é na hora da guerra que sabemos quem são os aliados e os adversários. Outro desafio é desconstruirmos a imagem de desgaste que tem o PT do Maranhão, superarmos a disputa entre suas ex-lideranças que foram importantes para o PT, mas já deram a sua contribuição. Isto sim é reinventar a política, ao invés de negá-la ou desconstruí-la. Apostar em novas lideranças, na capacidade dos jovens e das mulheres e sonhar que a reforma política possa motivar as pessoas, assim como a arte, a cultura, o esporte e o lazer. Reinventar é, ao mesmo tempo, despertar nas futuras gerações a credibilidade na política e o prazer de estar nas ruas com as bandeiras nas mãos e o coração vermelho.

* Membro do Diretório Nacional do PT; Bibliotecária, mestre em Sociologia pela UnB; professora universitária.

Joaquim Haickel: “Em política, mais sucesso tem quem erra menos”

Já comentei, em outra oportunidade, sobre a verdade na política e volto a esse assunto agora, adiantando que, se ela pode ser bastante relevante, quando vista de um determinado ponto de observação, por outro, pode ser vista como mero adereço. Explico: no ambiente pragmático da política, a verdade é uma mera questão de tempo ou de angulação do observador. O que é de um jeito hoje, amanhã poderá ser de outra forma. O que se vê de uma certa latitude, não é o que se observa de outra. Ainda assim, as duas coisas, nos dois casos, serão verdades que não se contradizem.

Devo ressaltar que há uma diferença importante entre a prática política e seu pressuposto filosófico. Neste caso, a verdade, além de ter as importantes componentes de espaço e tempo, possui uma indissociável componente ideológica, poderosa o suficiente para mover os espíritos dos homens.

As verdades sobre as quais gostaria de comentar hoje são verdades que em condições normais de temperatura e pressão deveriam ser constantes, independentes de tempo ou espaço. Se não são totalmente ideológicas, ou em sua totalidade, pragmáticas, possuem características comuns a ambas.

Vejamos.

Como deve se comportar um político?

Muito já foi dito a esse respeito, mas pouco foi tão bem dito como o que disse um certo florentino chamado Nicolau.

Tratado pejorativamente pelos incautos e pelos incultos, os ensinamentos de Maquiavel são tidos como abjetos, asquerosos, pútridos, quando são simplesmente humanos, antropológicos, sociológicos e psicológicos.

O tempo e o espaço em que foi concebido “O Príncipe” faz com que, hoje o vejamos com maus olhos.

Se bem observado e interpretado de forma tolerante, esse manual pode contribuir muito para o nosso correto entendimento de fatos bastante atuais.

O que de melhor deve fazer um candidato a príncipe?

Deixar-se ungir por uma poderosa liderança, isolando-se dos demais atores em cena? Ou já ungido, misturar-se aos contracenantes, fazendo com que eles criem consigo laços de companheirismo e amizade capazes de fundir os metais necessários para a confecção das boas armas da batalha?Não deveria ele fazer com que o líder que lhe ungiu dependesse dele mais que ele dependesse de seu ungidor? Manter esse vínculo indispensável, mas buscar vincular-se também a outros companheiros?

Sendo o único opositor capacitado a enfrentar os situacionistas, este outro candidato a príncipe deve agir exatamente igual àqueles a quem tanto critica, ou seja, de forma sectária, excludente, às vezes até messiânica…?

Qual deve ser a postura de um candidato a príncipe em relação aos políticos e ao povo? Deve tratar os primeiros com distância e os segundos como se fossem seus filhos queridos? Ou no caso do outro candidato, como se os políticos fossem meras peças de uma engrenagem capaz de levá-lo a conseguir o seu intento e o povo o combustível capaz de queimar para fazer mover essa máquina, algo que depois de usado evapora?

De quem deve se cercar um candidato a príncipe? De meia dúzia de convivas, pessoas que o isolem dos políticos e do povo? Que dê a ele uma aparente segurança e tranquilidade, mas que não deixe entrar as corretas e indispensáveis percepções do mundo e sair de suas reais necessidades e seus anseios básicos, capazes de fazê-lo chegar aonde deseja?

Ou aquele candidato oponente está certo ao cercar-se por todos, ao aparecer sempre rodeado de gente, como se comungasse com aqueles de todas as coisas, quando na verdade, aquilo que está mais interno em si, não repassa a ninguém?

Tudo isso está dito e esclarecido no manual do Nicolau!

Poderia passar horas relacionando posturas e posicionamentos políticos que estão certos para uns e menos certos para outros, e ainda assim não se chegaria a uma conclusão sobre quais são os certos e verdadeiros e quais os errados e os falsos.

Se o que está contido nos ensinamentos antigos sobre o homem, sobre suas formas de ser e de agir, suas circunstâncias, e sobre as consequências destas não puderem ser adaptados e utilizados nos dias de hoje, de nada valem para nós. Se nós não somos capazes de aprender uma lição que nos é ensinada há milhares de anos ou mesmo uma especifica que nos é doutrinada faz meio milênio, melhor largarmos esse ofício.

Em minha opinião, em termos de política, a diferença entre um indivíduo e o outro é mínima. Ocorre que só é possível se ter essa visão quando colocamos em perspectiva aqueles dois fatores citados no início de nossa conversa de hoje. O tempo e o espaço.

Esse nosso papo de hoje bem que poderia ter sido sobre física, mas como eu sou ruim em ciências exatas, fico mesmo com a política que pouca gente acredita ser ciência, que nada tem de exata e que pode nos dar a dimensão equivocada de sermos seres maiores do que realmente somos.

Semanas atrás, em uma conversa com amigos, disse que havia verdades insofismáveis e que uma delas era que em termos de política, mais sucesso tem quem erra menos, pouco importando se em qualidade seus acertos são relevantes. Em política um acerto é pura casualidade, pois o universo político conspira contra o certo. O erro é comum.

Estamos vivenciando isso. Estamos em um imenso jogo de erros. No final, vencerá quem errar menos!

ARTIGO: Desincompatibilização eleitoral

Flávio Braga*

Entende-se por desincompatibilização o ato pelo qual o pré-candidato se afasta de um cargo, emprego ou função, cujo exercício dentro do prazo vedado em lei consubstancia uma causa de inelegibilidade. A legislação eleitoral prevê que, conforme o caso, o afastamento pode se dar em caráter temporário ou definitivo.

Conforme a pacífica jurisprudência do TSE, os servidores públicos em geral se afastam, provisoriamente, no prazo de três meses antes da eleição, mediante licença remunerada para atividades políticas. De sua vez, os magistrados, os membros dos tribunais de contas e os do Ministério Público devem afastar-sedefinitivamente de suas funções para se candidatarem a cargo eletivo.

A razão de ser do instituto da desincompatibilização é tutelar a isonomia entre os candidatos, protegendo a normalidade e legitimidade das eleições contra a interferência do poder econômico e o abuso do exercício de cargo, função ou emprego. Assim, impede-se que o prestígio político ou a utilização da estrutura da organização conspurquem a higidez da eleição.

O instituto abrange cargos públicos e privados. Um secretário municipal, por exemplo, ocupa cargo público. Já um presidente de associação desempenha um serviço de natureza privada.

O exame da necessidade, ou não, de afastamento está vinculado ao risco de desequilíbrio da disputa eleitoral, a depender do múnus exercido pelo pretenso candidato. Nesse quadro, consoante a jurisprudência do TSE, o afastamento de fato prevalece sobre o formal. Assim, a concessão do registro de candidatura exige a comprovação cabal da situação fática do interessado.

Segundo o artigo 1º, VII, § 2° da LC nº 64/90, o vice-presidente, o vice-governador e o vice-prefeito poderão candidatar-se a outros cargos, preservando os seus mandatos respectivos, desde que, nos últimos 6 meses anteriores ao pleito, não tenham sucedido ou substituído o titular. A mesma regra se aplica aos detentores de mandato parlamentar.

Entretanto, para concorrerem a outros cargos, o presidente da República, os governadores e os prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.

A falta de desincompatibilização no prazo legal pode ser arguída em sede de Ação de Impugnação de Registro de Candidatura, que pode ser manejada por candidato, partido político, coligação ou pelo Ministério Público Eleitoral.

* Flávio Braga é Pós-Graduado em Direito Eleitoral, Professor da Escola Judiciária Eleitoral e Analista Judiciário do TRE/MA.

“Quase todos os políticos estão pensando unicamente em si”, diz Joaquim Haickel em artigo

joaquimJoaquim Haickel*

Semanas atrás publiquei aqui um texto no qual falava sobre a verdade na política. Nele discorria, por um lado, sobre a importância da verdade e por outro sobre a necessidade que alguns políticos têm denegá-la.

O tema verdade será uma constante quando se falar de filosofia, religião ou política, pois a verdade é propriedade do sujeito que a constrói com ação ou com palavras. Ela pertence a ele. Toda vez que ele a profere, a todos ela deve contaminar.

Sendo a verdade objeto de quem detém o discurso, como fazer para descobrirmos qual verdade é a real?

Acredito que haja três possibilidades de analisarmos isso:

1) Quando acreditamos na tese de alguém. Quando temos um discurso como verdadeiro, ele passa a ser nosso e aquilo vira uma verdade para nós.

2) Quando discordamos de uma tese, de um discurso ele passa a ser falso e quase sempre nosso cérebro nos dá uma alternativa para aqueles posicionamentos.

3) Em matéria de política, quando se analisa com profundidade a tese contida num discurso, quando se observa as circunstâncias nas quais ele é proferido, analisam-se suas intenções, seus objetivos, e ponderam-se suas consequências, se chega à conclusão de que quase tudo é possível. Só não deveria ser possível o que fosse moral e eticamente incorretos, mas até nesse ponto, quanto à qualidade moral e ética da verdade, também será uma questão de opinião, mesmo que haja um padrão para isso.

Feito esse preâmbulo, entremos no assunto específico de hoje.

Parece que a maioria dos personagens da atual cena política maranhense só sabe conjugar os verbos na primeira pessoa do singular.

Nem eu, mesmo não sendo personagem principal, posso me excluir dessa lista. Muitas vezes me pego pensando nas ações, nas palavras que as exprimem, nos verbos, a partir da conjugação verbal na primeira pessoa do singular. Luto muito contra isso, mas a natureza humana é mais forte e nem sempre consigo me libertar, não consigo conjugar os verbos na segunda ou na terceira pessoas do singular, ou mesmo do plural. Quando muito o faço na primeira pessoa do plural, o que é menos pior (atenção patrulheiros, usei menos pior porque quis. Não quis usar “melhor” para enfatizar o fato de ser pior, porém menos).

Vamos aos fatos concretos. Quase todos os políticos estão pensando unicamente em si. No seu eu. Até aqueles que não estão pensando unicamente em si estão pensando em si de forma indireta. Mas como já disse essa é uma condição humana e não pode ser incluída na lista de nossos pecados ou defeitos mais graves.

Em minha opinião, Roseana, por incrível que pareça, é um dos pouquíssimos personagens da cena política atual que não está pensando exclusivamente em si. Eu não sou idiota, muito menos puxa-saco para não reconhecer que ela está em última análise pensando em si, mas como ela está prestes a permanecer no governo até o final de seu mandato, coisa que nove entre dez consultados jamais faria, isso significa que ela pensa em si de uma maneira diferente dos demais. O eu pra ela, neste caso, é quase um nós, é a tentativa de garantir a eleição de Luís Fernando ao governo, mesmo que para isso tenha que abrir mão de uma eleição certa para o Senado.

Arnaldo pensa em si quando coloca como meta ser governador por nove meses acima dos interesses verbais conjugados na primeira pessoa do plural, nós, arriscando-se a acabar por conjugar os verbos na terceira pessoa do plural, eles.

Aqueles que cercam Roseana querem que ela permaneça no governo até dezembro. Isso é melhor para estes. Eles pensam individualmente conjugando o eu, e em um grupo muito restrito, o nós. Eles.

Alguns do que rodeiam Arnaldo querem que ele não contemporize, pois se Arnaldo assumir o governo pelo prazo de uma gestação, a vida, a reeleição deles fica mais fácil. Eles, por seu lado, pensam individualmente conjugando o seu eu e em um grupo também restrito, o nós deles.

Sarney e algumas pessoas muito ligadas a ele sabem que não sendo mais candidato ao Senado pelo Amapá, precisam ter uma voz que os represente na câmara alta do Congresso Nacional. Querem que Roseana deixe o governo até 4 de abril. Pensam em si. Este é o seu eu.

Os possíveis candidatos ao Senado deste grupo, Gastão Vieira e Edson Lobão Filho, pensando em si, querem que Roseana permaneça no governo até o fim de seu mandato, só assim podem sonhar em uma candidatura.

Para o adversário de Luís Fernando, Flavio Dino, poderia ser indiferente. Ele deve estar preparado para competir contra qualquer um, sob qualquer circunstância, mas com toda certeza ele tem sua preferência. É lógico que ele não é diferente dos outros. Ele pensa em si antes de qualquer coisa. No que é melhor para ele, no eu dele.

Os adversários ao Senado querem que Roseana fique no governo, pois sabem que vencer dela é mais difícil que de outros. Pensarão em si e em ninguém mais.

Existem até alguns políticos, Manoel Ribeiro e Hélio Soares, que reivindicam a candidatura ao Senado. Essa espécie de verdade é a mais fácil de desmistificar. É mentira. Jogo de cena da pior qualidade. Frágil como uma pétala de rosa e nem tem seu agradável perfume.

Qual dos três caminhos indicados acima você trilhará para descobrir qual é a verdade que há nas palavras, nas ideias contidas neste discurso político dos tempos correntes?

Qual é a verdade de tudo isso?

A minha é a seguinte. Estamos indo por um caminho difícil. As alternativas de um lado e de outro, não dão margem para manobra e quem conhece um pouco de política e de baliza sabe que não dá para colocar um Dodge Dart ou um Galaxie na vaga de um fusca ou de um Gol. É preciso espaço.

Não é hora para apontar os culpados por estarmos nessa situação. É hora de decidirmos o que fazer, e o que for decidido, que seja feito à risca.

PS: Tenho um texto pronto há semanas falando sobre cinema, sobre o Oscar 2014, mas enquanto a política me entretiver ele vai ficar aguardando.

* Secretário de Esportes e Lazer e membro das Academias Maranhense e Imperatrizense de Letras e do IHGM

Quase na hora de vaca desconhecer bezerro, diz Joaquim Haickel sobre sucessão de Roseana

Joaquim Haickel*

haickelMeses atrás fui convidado para uma conversa com um grupo de pessoas que gostaria de debater sobre a atual conjuntura política e eleitoral de nosso estado e falar sobre suas atuais circunstâncias e sobre as possíveis consequências decorrentes delas.

Depois de vários encontros resolvemos que deveríamos suspender as reuniões, pois mesmo que a conversa em nosso âmbito fosse muito produtiva, na prática não levava a nada, já que estávamos completamente fora no núcleo das decisões. Eu, no entanto, acredito que o simples fato de um grupo de pessoas influentes, cada um em seu segmento, como eram aquelas, sempre acabam ganhando ao se reunirem para conversar sobre os rumos pelos quais o nosso estado pode e deve seguir.

Desde nossa última reunião não mantive mais nenhum contato em conjunto com aqueles amigos, apenas falei individualmente com um ou com outro, mas sei que todos continuam preocupados com o rumo que a coisa tomou.

Constatamos que o grupo do qual fazemos parte, que mais tem se mantido o poder no Maranhão nesses últimos 48 anos (34 anos contra 14, fazendo uma diferença de 20 anos), vem, ao longo do tempo, cometendo erros graves.

Em nome de uma renovação, necessária e indispensável, jogou-se fora o manual da boa e antiga política. Antiga, jamais velha. Antiga, porém sábia e experiente. A boa prática dos dois dedos de prosa na porta da casa do cabo eleitoral, do chefe político, a visita pura e simples, sem ser preciso alarde, comitiva, entrega de obras…

Nos últimos anos faltou-nos a vontade de conversar com os políticos, até porque os políticos também mudaram, passaram a não querer apenas conversar ou simples promessas, ou compromissos não cumpridos. Passaram a exigir participação no governo, nas decisões, emendas parlamentares…

Mas deixemos os entretantos e entremos logo nos finalmentes.

Do jeito que as coisas estão, elas não podem ficar. Chegamos a um impasse que nos coloca em uma situação bastante delicada, mas acredito que ainda haja uma saída. Uma única.

Bem, como tive que me afastar por alguns dias para acompanhar minha mãe em São Paulo, que teve que se submeter a uma importante cirurgia cardíaca de emergência, vou quebrar a promessa que fiz a mim mesmo, quando disse que não me meteria nesse parangolé se não fosse chamado. Lá vai.

Aprendi muito cedo que em política existe uma coisa indispensável, de tempos em tempos. O fato novo, com o qual se muda as circunstâncias para fazer com que as consequências desejadas sejam alcançadas. Sem fato novo tudo fica mais difícil.

Primeiro, não vou dizer nada que todos os envolvidos já não estejam carecas de saber.

O melhor caminho para elegermos o nosso candidato a governador é colocá-lo desde já à frente da administração deste mesmo governo. Para sua eleição ficar mais leve ele deve ter um candidato a senador que o ajude nesse intento.

Logo, para que Luís Fernando seja o governador eleito pela Assembleia e para que Roseana, o melhor nome para disputar o Senado ao seu lado, possa realmente fazê-lo, precisa-se que o presidente da ALM entenda e aceite que, se ele não abrir mão de sua candidatura de governador para um mandato de nove meses, isso não irá acontecer e aí… Nem mel nem cabaça. Talvez um pouco ao contrário. Um pouco de má vontade por parte de quem se sentir prejudicado.

Bom, mas o que Arnaldo Melo e seus fiéis escudeiros deputados estaduais, que na verdade são os detentores do poder de decisão sobre a eleição governamental e senatorial de outubro próximo, ganham com tudo isso? Conversa eles não aceitam mais. Quando aceitariam não tiveram. Agora só há uma saída e não há como enganar nem ser enganado nesse jogo, o que é uma grande vantagem.

Precisa-se de um acordo de cavalheiros. Entre pessoas honradas. Com fiadores de crédito reconhecido na praça e no mundo político, capazes de garantir com segurança que Roseana possa deixar o governo para se candidatar ao Senado; que Luís Fernando seja eleito governador na ALM; que o vice seja indicado por Arnaldo e por seus deputados mais chegados; que no novo governo, se abra espaço para que o presidente da ALM e esses deputados indiquem alguns importantes secretários de estado; que no ano que vem, depois do governador eleito, da Assembleia refeita, fique desde logo acertado a recondução de Arnaldo Melo para a presidência do Legislativo maranhense.

Em minha modesta opinião não há outro acordo que possa ser feito ou aceito por nenhum dos lados desse imenso e hoje paquidérmico grupo político. Não vejo hoje nenhuma outra saída. Nenhuma que nos possibilite mais chance de vencermos as eleições de outubro próximo.

Alguém poderia perguntar se é possível confiar nas partes envolvidas nesse acordo. Tenho certeza absoluta que sim, pois ambas conseguiram uma coisa inédita na vida política maranhense. Não ter saída. Se correrem o bicho pega, se ficarem o bicho come.

Se Arnaldo e os deputados que o querem ver nos Leões, não abrirem mão de suas posições, Roseana permanecerá no cargo e tentará eleger Luís Fernando. É claro que esse não é o melhor cenário, mas é menos pior que os outros que se apresentam. Se Luís Fernando não cumprir os acordos estará dando motivo para os demais descumprirem sua parte nele, se bandeando para o lado adversário, fato que muito possivelmente decidiria a eleição.

Estão no mesmo barco. Numa dança cigana de lenço e faca.

* Secretário de Esportes e Lazer e membro das Academias Maranhense e Imperatrizense de Letras e do IHGM

“O Maranhão é o retrato do Brasil”, diz Luis Fernando em artigo na Folha

Luis Fernando Silva, na Folha de S. Paulo

luis_fernandoO Maranhão é o retrato do Brasil: quadro de crescimento econômico, geração de oportunidades, maior acesso aos bens e serviços públicos e um programa de investimentos em infraestrutura que já apresenta sensível melhoria na qualidade de vida da população. Mas o desafio de reduzir as desigualdades sociais e econômicas continua.

A diferença é que o Maranhão já cresce mais do que o Brasil. Os dados mais recentes do IBGE estimam que o Produto Interno Bruto maranhense teve um crescimento real de 10,3% em 2011, enquanto o Brasil alcançou 2,7%. É o Estado que mais cresceu no Nordeste; o quinto maior crescimento entre os 27 estados brasileiros.

O caminho está traçado: mais de 1.400 quilômetros de novas estradas asfaltadas estão aumentando em mais de 25% a extensão da atual malha rodoviária pavimentada do Estado. Todos os municípios maranhenses estarão, ainda este ano, ligados por rodovias asfaltadas.

As novas estradas –e a recuperação das demais rodovias– facilitarão a distribuição da produção da agricultura familiar, que ainda sustenta 40% da população, e o escoamento das crescentes safras de grãos pelo porto do Itaqui, um dos maiores do país em volume de carga e que recebe mais de R$ 1,3 bilhão de investimentos em obras de infraestrutura e logística.

O Governo do Estado também investe R$ 800 milhões na melhora da mobilidade urbana e qualidade de vida na área metropolitana da capital, São Luís. Os demais municípios estão recebendo R$ 300 milhões com a pavimentação de mais de 1.000 quilômetros de ruas e avenidas em áreas urbanas.

São obras e ações que tornam o Maranhão ainda mais atrativo para a implantação de investimentos privados, nacionais e internacionais, que hoje somam R$ 120 bilhões, gerando mais de 250 mil empregos diretos e indiretos.

O ciclo de crescimento econômico sustentável é acompanhado de investimentos maciços na área social, visando a redução da pobreza extrema. Só no programa Viva Maranhão, destinado à inclusão sócio-produtiva da população mais humilde, são aplicados R$ 500 milhões. Outros R$ 150 milhões vêm dos recursos do Fundo de Combate à Pobreza.

O programa Maranhão Profissional treina e capacita mais de 350 mil jovens maranhenses para o mercado de trabalho, enquanto investimentos em educação básica e saúde são feitos com o objetivo de elevar o Índice de desenvolvimento Humano (IDH).

Muito já se fez e se faz, mas é preciso perseverar e fazer mais, com planejamento estratégico, participação social na formulação e implementação das políticas públicas; manutenção do equilíbrio fiscal do Estado e dos programas de atração de investimentos, geradores de emprego e renda; na redução das desigualdades sociais e econômicas e no aperfeiçoamento de instrumentos que garantam os direitos humanos.

Somente o olhar obtuso dos que rejeitam um Maranhão melhor não levaria em conta as profundas mudanças que ocorrem na realidade econômica e social do Estado e que exigem condução firme para sua consolidação e aperfeiçoamento. Vamos caminhar nesse processo de transformar para melhorar. Nossa convicção é a de que honestidade de propósitos, trabalho, responsabilidade e discurso político verdadeiro constituem fatores indispensáveis para alicerçar a construção de um futuro cada vez melhor para os maranhenses.

* LUIS FERNANDO SILVA é secretário de Estado de Infraestrutura do Maranhão

O impeachment no Maranhão

Do blog do Buzar

Foi com a chegada do regime republicano no país, que o impeachement, como dispositivo de lei, passou a ser introduzido nas Constituições federal e estaduais do Brasil.
No Maranhão, em três momentos de nossa vida democrática, o impeachement ou impedimento, foi tentado, como arma política, para catapultar do Poder Executivo três governadores.

Das três tentativas, apenas uma chegou a ser materializada: a que levou Getúlio Vargas a decretar a intervenção federal no Maranhão, em julho de 1936. As outras, contra o governador Newton Bello, em maio de 1964, e a governadora Roseana Sarney, em janeiro de 2014, foram malogradas.

A primeira vez ocorreu em 1935, quando governava o Estado o cientista maranhense, de Cururupu, Aquiles Lisboa, eleito por via indireta pela Assembleia Legislativa. Tudo começou por inabilidade política do próprio chefe do Executivo, que deixou a Assembleia Legislativa, em fase de elaboração da nova Carta Magna do Maranhão, dividir-se por não cumprir um acordo acertado com um dos partidos que o apoiavam – a União Republicana Maranhense, de Genésio Rego e Clodomir Cardoso.

O acordo rezava que o nome indicado para o cargo de prefeito de São Luis seria o genesista Francisco Costa Fernandes. Contrariando o acertado, o governador nomeou o marcelinista, Manoel Azevedo, pessoa de sua integral confiança. Com isto, a URM abandonou a base governista e aliou-se aos partidos de oposição a Aquiles: PSD, LEC e PSB, que passaram a mover contra ele uma agressiva campanha, com vistas a afastá-lo do poder.

Com a Assembleia Legislativa em crise, dois deputados a presidiram simultaneamente: Salvador de Castro Barbosa e Antônio Pires da Fonseca. O grupo de deputados, que constituía a minoria, alegando falta de condições de trabalho, homizia-se no 24º Batalhão de Caçadores, de onde impetra à Corte de Apelação um habeas corpus para lhe garantir o livre exercício do mandato, não sem antes aprovar uma emenda estabelecendo que, promulgada a nova Constituição, considerava-se desde logo terminado o mandato do governador.

A despeito de toda essa confusão, a 16 de outubro de 1934, a nova Constituição foi votada e aprovada, mas Aquiles Lisboa, além de não reconhecê-la, requer mandado de segurança para continuar à frente do Governo.

A crise, que até então envolvia os Poderes Executivo e Legislativo, invade a seara do Judiciário, também dividido entre governistas e oposicionistas, que começa a receber recursos dos grupos políticos em choque e a julgar conforme as conveniências de cada desembargador.

As decisões judiciais, em vez de arrefecerem o tumulto, complicam mais ainda a harmonia entre os poderes, fato que veio perturbar a vida institucional, econômica e social do Maranhão, há mais de um ano esperando uma solução para pacificá-lo e desarmar os espíritos dos políticos.

Em março de 1936, um deputado oposicionista denuncia o governador pelo cometimento de crime de responsabilidade e pede o seu impeachement. Cria-se então uma Comissão Especial que considera Aquiles Lisboa incurso na penalidade, mas o governador consegue no Tribunal de Apelação, por mandado de segurança, garantir o seu mandato.

Se a situação já era confusa, mas caótica fica. No afã de acabar com o emaranhado político e jurídico reinante, a Associação Comercial solicita ao Presidente Getúlio Vargas a sua interferência no caso através do remédio da intervenção federal. Como não havia outro caminho para contornar a crise, o Presidente da República a 5 de julho de 1936 nomeia o major Roberto Carneiro de Mendonça interventor federal no Estado do Maranhão.

A segunda vez que o impecheament tentou obter êxito no Maranhão, como remédio para satisfazer interesses políticos, deu-se em maio de 1964, logo depois da eclosão do movimento militar que derrubou o presidente João Goulart do Governo.

O fato gerador do impeachement foi uma carta do general Anacleto Tavares da Silva endereçado ao general Justino Alves Bastos, comandante do IV Exército, que veio a São Luis receber o título de Cidadão Maranhense, a ele conferido pela Assembleia Legislativa.

Na carta, divulgado na imprensa, o general Anacleto alertava o seu companheiro de farda, que a Revolução cassara mandatos de alguns políticos maranhenses, por motivos ideológicos, mas “deixara livre os administradores públicos implicados com a corrupção, negociatas, contrabandos, fraudadores e responsáveis pela desastrosa situação em vivia o Maranhão”.

Essa carta assumiu imediatamente conotação política e os oposicionistas a aproveitaram para culpar e incriminar os aliados do governador Newton Bello. Os deputados que apoiavam o governador sentiram-se de tal modo ofendidos, que através de nota pública, rebateram as acusações a eles imputadas.

Em seguida, os deputados federais Ivar Saldanha, Alexandre Costa e La Rocque Almeida leram a carta no plenário da Câmara Federal, e os deputados estaduais Manoel Gomes, Francisco Figueiredo, Antenor Abreu e José Mário de Araújo Carvalho apresentaram denúncia contra o governador Newton Bello pela prática de crime de responsabilidade, tais como: “desrespeito às decisões judiciais, falta de pagamento de dívidas do Estado e retardamento na publicação de leis e resoluções do Poder Legislativo”.

A Assembleia cria Comissão Especial para emitir parecer à denúncia contra o governador. Em duas sessões extraordinárias, a primeira em 24 de maio, a maioria governista aprova parecer da Comissão Especial “pelo arquivamento da denúncia por considerá-la frívola e improcedente”; a segunda, em 27 do mesmo mês, por 29 contra 7 votos, rejeita a denúncia apresentada pela bancada oposicionista, que pretendia enquadrar o governador em crime de responsabilidade.

A terceira tentativa veio à tona recentemente, quando um Coletivo de Advogados em Direitos Humanos, inspirado em objetivos essencialmente eleitoreiros, ingressa com um pedido de impeachement na Assembleia Legislativa, com o fito de detonar a governadora Roseana Sarney, sob a justificativa de praticar crimes contra os direitos humanos, tomando por base fatos acontecidos na Penitenciária de Pedrinhas.

Sustentado em parecer da Procuradoria-Geral da Assembleia Legislativa, segundo a qual o pedido era destituído de “pressuposto válido para o prosseguimento do procedimento parlamentar”, além da “ausência de justa causa para início da persecução por crime de responsabilidade” o presidente Arnaldo Melo (16-01-14) fulminou aquela ação sem propósito com um despacho simples, mas altivo: o arquivamento.