E MONÓLOGO JÁ É PROVA?
A investigação contra Roseana na “lava jato” é que é um escândalo
Marcos Coutinho Lobo, advogado
Vi – e acho que estão muito boas – as peças produzidas pelo Kakay em defesa do arquivamento da investigação contra Roseana Sarney na “Lava Jato”.
Não obstante, arranjei um tempo para ver e ouvir com mais atenção e cuidado o vídeo e ler a última peça do Kakay.
Encontrei algo – para mim – ABSOLUTAMENTE ESCANDALOSO.
É que em determinada parte do arremedo de depoimento o Paulo Roberto afirma que – sem ser chamado – foi até onde Roseana se encontrava e “(…) TEVE ESSE DIÁLOGO MONÓLOGO (…)”.
Veja-se a transcrição do depoimento do Paulo Roberto feita pelo pessoal do Kakay: “– Eu… Agora que tô, tô tentando me lembrar aqui. Acho que foi num determinado momento do almoço que ela tava lá num canto, eu fui lá e teve esse diálogo “monólogo”, praticamente, aí com ela. Não foi na frente de todo mundo não.”.
Friso: foi exatamente isso que também ouvi, com todas as letras, quando assisti ao vídeo.
Ora, se Paulo Roberto fez o monólogo “tá tudo certo, tá tudo certo?”, parece claro que falou sozinho, ou simplesmente ele não sabe o que é um monólogo.
Mais: Paulo Roberto demonstra na fala que naquele momento é que teve lembrança de detalhes, a saber: deslocou-se até onde estava Roseana sem ser chamado e fez o tal monólogo.
O que eu entendi – e essas são as palavras do Paulo Roberto – é que ele foi até onde não foi chamado – “lá num canto” – e indagou “ta tudo certo?”, não ouviu nem sim nem não, e por ai encerrou o monólogo, a “conversa sozinha”.
Diante dessa afirmação, o mínimo que o procurador que interrogava deveria ter indagado era se Paulo Roberto sabia o significado da palavra monólogo. Como não o fez, ou não sabe o significado, ou simplesmente ignorou porque o objetivo do interrogatório era incluir Roseana na “Lava Jato”.
Além de todas as manifestas provas de desvirtuamento feito pelo Ministério Público do depoimento errático de Paulo Roberto – como bem apresentadas pelo Kakay – este fato que ora apresento é a prova escandalosa de interesse de incriminar Roseana de qualquer jeito.
Diz-se isso porque é de se presumir que os procuradores da “Lava Jato” têm suficiente instrução para conhecer o significado da palavra monólogo e, Paulo Roberto, pelas demonstrações de erudição que tem demonstrado quando trata de gestão pública, reforma política e tantos outros assuntos, certamente, também sabe o significado da palavra monólogo.
Entendo que isso deve ser “denunciado” nos autos, sobretudo porque vejo ai indícios contundentes de uma trama que deve ser denunciada e investigada. Basta recordar que o Juiz Moro – antes mesmo de compartilhar provas com CPI e dar acesso a parte das provas da investigação aos advogados de defesa – compartilhou com o Governo do Estado do Maranhão, atualmente na gestão de adversários políticos de Roseana, e “fez de tudo” para que o relator devolvesse para ele o processo que chegou a tramitar no STJ contra Roseana.
O que pode estar por traz disso? Eis uma boa pergunta republicana.
E a investigação deve continuar? Segundo a Constituição da República – tão desmerecida nesses tempos de “Lava Jato” – e a considerar o tal “monólogo”, sequer deveria existir. É que a presunção de inocência ainda não foi extirpada da Constituição, embora pareça ser a regra nos processos da “Lava Jato”.
Ainda há juízes no Brasil? Quando existiam, e ainda acho que há, não se abria investigação criminal quando ausente indício cabal de autoria ou prova da materialidade do delito e, monólogo, não preenche esses requisitos legais.
Quiçá o monólogo já é prova e eu não sei.
Bem, mas isso aqui é só um monólogo de um advogado que deve estar desatualizado das novas regras vigentes na República Federativa do Brasil.
E, antes que eu esqueça, no meu tempo – que não é mesmo tempo da “Lava Jato” – habeas corpus era o remédio para esses males.