“Episódio de Imperatriz é grave”, diz Sarney sobre ação da PF contra Lobão

Hora de paciência e água benta

Da Coluna do Sarney

O fenômeno da urbanização é mundial e desencadeou-se com a civilização industrial. Todos passaram a ter uma vontade: sair do campo e ir para as cidades. Aquela distribuição geográfica que tinha como modelo 10% das gentes nas cidades e 90% na área rural, inverteu-se, e hoje é o contrário, menos de 10% da população vive no campo.

Estive há 30 anos no interior da Paraíba para poder fazer com autenticidade o discurso em homenagem a José Américo de Almeida, a quem iria suceder na Academia. Fui percorrer incógnito o cenário da Bagaceira, seu célebre romance, que marcou a literatura brasileira. Chegando a Brejo de Areia, terra onde ele nasceu, notei que a cidade tinha um aspecto de solidão, um início daquilo que era Comala, a cidade fantasma que Juan Rulfo criou como cenário do seu genial romance Pedro Páramo, tão importante quanto Cem Anos de Solidão de García Márquez e fonte principal do realismo mágico. Sem Rulfo não existiria García Márquez. E ali, em Brejo de Areia, ouvi, num botequim de beira de estrada: “Aqui só se fica até tirar os documentos (18 anos), depois se vai embora para a capital.”

lobaoO interior do Nordeste definha, só ficam os velhos, ao contrário do Maranhão, onde o desenvolvimento caminha para os municípios estes se expandem de uma maneira desordenada, repetindo os problemas que hoje vivem as grandes cidades: falta de infraestrutura, esgoto, água, trânsito caótico, etc. O Brasil precisa – e tenho pregado isso – marchar, o mais urgente possível, para fazer uma reforma tributária que assegure aos municípios arcar com a solução desses problemas que enfrentam sem meios de resolver. O que mais ouço é a queixa de que os prefeitos vão mal, esquecendo-se de que eles não têm recursos, hoje concentrados no Governo Federal, que está, também, destruindo os estados e por consequência a Federação.

Veja-se a onda de intranquilidade que vive São Luís hoje, mergulhada em pânico com os boatos e as hipóteses mais absurdas de motivações, inclusive com a falta de responsabilidade de acusar homens públicos de notório conceito, que, embora possam ser adversários, são, a meu ver, incapazes de cometer atos de vilania do porte de incentivar o pânico e aliciar bandidos.

Claro que não se deve excluir a hipótese de terroristas radicais praticarem e estimularem atos de vandalismo por motivações políticas, como ocorreu e ocorre no Rio e em São Paulo.

Fim de campanha eleitoral é hora de nervosismo. Mas os líderes não podem perder a cabeça e criar um clima de terrorismo, que só favorece o banditismo e a selvageria.

Duas coisas matam o estado de direito e a democracia, e foram os instrumentos dos dois ditadores mais cruéis que teve a humanidade: Hitler e Stalin. Qual eram esses dois instrumentos que utilizaram? A polícia política – a Gestapo e a KGB. Elas criaram o medo e o terrorismo e extinguiram a liberdade. A partir daí, foi possível os campos de extermínio, o Holocausto. Esse episódio de Imperatriz é um exemplo e grave. Começa assim. Se antes de ser governador e ganhar eleições se procede com essa violência e intolerância, calcule o que pode ocorrer depois, se tiver o poder na mão – o que certamente o povo não permite. Sou acusado de mandar no Maranhão durante 50 anos. Mas ninguém me acusa de um ato de violência, de uma perseguição a ninguém. De ter utilizado o poder para ameaçar nem fazer mal a alguém. Eu não só prego a Democracia. Eu sou democrata e dei exemplo aqui, no Brasil, na presidência e em toda minha vida, pregando e assegurando as liberdades públicas. Mantenho a coerência e condeno a violência seja de quem for.

Como diz o ditado: “Calma e água benta não faz mal a ninguém”. Precisamos de paz.

“O que fiz está aí. Ajudar, ajudar e ajudar o estado e o povo”, diz Sarney em artigo

O roubo dos personagens

Da Coluna do Sarney

Erasmo Dias, um grande jornalista e talentoso intelectual da minha juventude, que deixou uma marca indelével do seu talento e da sua personalidade, que rompia todos os cânones da época, escreveu na revista A Ilha, fundada por Tribuzi, Bello Parga e eu, um conto antológico, “O roubo dos personagens”.

Lembro-me dele quando vejo que muitos dos meus pensamentos, frases e iniciativas foram apropriados, sem o menor respeito, e nunca citaram a fonte. Não vou dizer que roubaram, mas se apropriaram.

(Foto: Sérgio Lima/Folhapress)

(Foto: Sérgio Lima/Folhapress)

O primeiro – e que motivou este artigo – é dizer que um programa é de “desenvolvimento com justiça social”. Quem primeiro falou isto no Brasil fui eu, no manifesto da Bossa Nova da UDN, ao tempo de Juscelino, que falava muito em desenvolvimento, mas nada em social. No Maranhão, em 1965, quando fui eleito, era esse o lema do governo. E como presidente da República adotei o slogan “TUDO PELO SOCIAL”.

Minha preocupação pelo social é uma coerência da vida inteira. Ao convocar a Constituinte, coloquei na Mensagem que a encaminhou que ela se destinava a assegurar “os direitos sociais”, até então esquecidos.

Congressista, coloquei pela primeira vez em debate em Brasília a necessidade de quotas para minorias negras, com projeto de minha autoria para entrada nas universidades e concursos públicos. Aprovaram as cotas e ninguém se refere a isto. Lutei 20 anos com numerosos projetos de incentivos à cultura e hoje tudo o que se faz decorre da lei de minha autoria e sancionada por mim. Tinha meu nome e o trocaram por Rouanet, para negar-me crédito.

Presidente da República, criei o vale-alimentação (hoje chamado auxílio-alimentação), este que você e até mesmo os funcionários públicos recebem. Criei o vale-transporte, este com que você, que viaja de ônibus, paga sua passagem. Fiz a impenhorabilidade da casa própria, isto é, a lei que assegura que você não pode mais ter sua casa penhorada por dívida, pois é bem de família, seu teto, que não pode ser tomado. Assim, também facilitei os instrumentos do seu ganha-pão, o automóvel do taxista (dispensei também o IPI na sua compra), a máquina da costureira, o computador do que trabalha com ele, enfim, tudo do seu sustento.

Todos os programas sociais de hoje, que discutem se foi FHC ou Lula, começaram comigo: farmácia básica, aposentadoria do trabalhador rural, cota a deficiente, extensão dos benefícios da previdência ao trabalhador do campo, o 13o salário para o funcionalismo público civil e militar, e o maior de todos, a UNIVERSALIZAÇÃO DA SAÚDE. Todos os brasileiros, inclusive os que até então não tinham onde tomar uma injeção e só encontravam amparo nas Santas Casas e associações de caridade, passaram a ter direito ao tratamento de saúde com a criação do SUS por mim – antes da Constituição, que só mudou o nome para SUS. Quem se lembra disso e agradece, quando recebe esses benefícios?

A correção do salário mínimo acima da inflação, a legalização dos partidos tidos como clandestinos, inclusive do PCdoB, a anistia aos líderes sindicais, inclusive Lula, e a liberdade sindical, possibilitando milhares de novos sindicatos.

O programa do leite, considerado pela Unesco o melhor combate à fome do mundo – quantas vezes encontro mulheres que me agradecem e dizem que seus filhos foram criados graças a ele. 113 mil bolsas científicas. Acesso à energia no interior, que FHC e Lula prosseguiram e hoje é o Luz para Todos. O SEGURO-DESEMPREGO, que o trabalhador recebe no período mais difícil para ele, que é quando perde o emprego.

Daria para escrever um jornal inteiro se eu fosse relatar tudo. Mas não posso encerrar sem lembrar o que mais me orgulha e enche de satisfação, porque diz respeito à humanidade inteira: foi criar – assim que em Vancouver os cientistas anunciaram sua descoberta – a distribuição gratuita do coquetel que detinha a Aids, considerado o melhor programa do mundo contra essa terrível epidemia, e que o Brasil exporta para outros países.

O que fiz está aí. Ajudar, ajudar e ajudar o estado e o povo. Basta refletir sobre essas medidas que tomei.

160 Anos da Associação Comercial

Da Coluna do Sarney

Na semana que passou, no dia 21, a Associação Comercial comemorou 160 anos de existência. Para quem estuda a História do Maranhão é uma data que tem uma importância extraordinária e magna. Nenhuma instituição prestou tantos serviços ao Estado quanto esta. Ali nasceram e foram discutidas as ideias que diziam respeito à economia e aos problemas do Maranhão.

Na Praia Grande, na área do comércio, os comerciantes tinham o hábito de todo dia, no fim da tarde, reunirem-se para discutir seus problemas que, no fundo, eram os problemas do estado. Quando veio o Código Comercial, em 1850, que permitia o comércio organizar uma Comissão para opinar e assessorar os governos, os nossos comerciantes criaram, em 1854, a Comissão da Praça, ali junto à Casa das Tulhas, onde construíram sua sede. Era de três membros: João Gualberto da Costa, figura notável, que dia e noite pensava nos nossos problemas, Manoel Antônio dos Santos e Jorge Maria de Lemos e Sá. João Gualberto já fazia parte da Comissão do Governo para Administração de Interesse Público, que se encarregava dos problemas que então vivíamos. Como o maior deles era a navegação, único meio de transporte, entre suas atribuições estava tanto o lugar onde colocar faróis na costa e escolher os tipos de candeeiro, para economia de azeite como resolver o constante conflito entre índios e brancos.

josesarneyNa primeira reunião da Comissão da Praça, que depois transformou-se em Associação Comercial, tratou-se logo do porto do Itaqui e pasmem, para ver o nível dos debates, a necessidade de criar-se um órgão para fazer estatística. Criou-se um jornal, um grande jornal, O País, para ser o porta-voz do comércio, que dizia em seu primeiro número: “A maior riqueza de um estado é o seu povo”, valorizando os recursos humanos na criação de riqueza. A ACM estudou os rios, a navegação a vapor, os ciclos econômicos do algodão, do arroz, do babaçu, do açúcar, a ligação de rios, o Canal do Arapapá.

Os seus dirigentes sempre eram grandes inteligências, formadas na Europa e que vinham com ideias inovadoras e modernas. Os políticos tratavam só da politicagem. Onde se discutia os problemas em profundidade era na Associação Comercial, respeitada e ouvida.

Isto veio até os anos 50, quando a ACM criou a Campanha da Produção, que abriu estradas para o escoamento dos nossos produtos e ocupação das terras que eram entregues à lavoura.

Muitas vezes teve de enfrentar governos e o interventor Martins de Almeida mandou invadi-la, surrar e prender sua diretoria. Era o chamado Bando de Papai Noel. O interventor tinha o apelido de Bala na Agulha. O tio de minha mulher, Arnaldo Ferreira, presidente, foi um dos que estavam entre as vítimas. Coisas que vivemos!

Lembro-me de Clodoaldo Cardoso, Eneas Frazão, Arnaldo Ferreira e os do passado, gente como Teixeira Mendes que projetou a São Luís-Teresina e lançou a ideia da estrada da Barra do Corda ao Tocantins. Tive a felicidade de ajudar a construir as grandes três estradas de ferro do Maranhão: do Pará, trazendo Carajás para o Itaqui; evitando que acabassem pelo Geipot com a São Luís-Teresina; e construindo a Norte-Sul, que deixei pronta em Estreito. Lembremos Martinius Hoyer, o grande pensador que escreveu muitos livros de economia e lançou as grandes ideias do Maranhão que hoje são realidade. Tudo na Associação Comercial. Eles fizeram mais do que os políticos no século XIX.

Louvemos a data e a presidente Luzia Rezende, que está fazendo um grande trabalho de recuperação da Casa com sua equipe e tomou a iniciativa de reeditar a História do Comercio do Maranhão, de Jerônimo de Viveiros, também monumental trabalho da associação, que marca de maneira perene a atual administração.

Em artigo, Sarney destaca produção de alimentos no Maranhão

Maranhão na liderança de alimentos

Da Coluna do Sarney

O 11º levantamento da safra de grãos feito pela Conab – Companhia Nacional de Abastecimento – é de que o Maranhão deverá colher 4,3 milhões de toneladas de grãos no período 2014/2015. Estes números representam um crescimento na colheita de feijão, algodão, soja e milho de 20,4%.

A área plantada de soja cresceu este ano 13%, e a de milho 19,7%.

Na safra 2012/2013, o Maranhão plantou 1.615,7 mil hectares, e em 2013/2014 1,8 milhões de hectares, um crescimento de 9,5%. Já a produtividade subiu no mesmo período de 2,2 toneladas/ha para 2,5 toneladas/ha, um aumento de 14,3%. Isto representou um aumento na produção de 3,6 milhões de toneladas para 4,5 milhões de toneladas, subindo 25,2%.

sojaSomos o segundo produtor de grãos do Nordeste, atrás somente da Bahia, e em arroz somos o terceiro produtor do Brasil, atrás somente de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.

Temos crescido em produtividade e produção, com uma expansão que se estende pelo estado a partir do Sul, área já consolidada como principal núcleo de produção.

Para isto tem sido necessário um grande investimento na infraestrutura de armazenamento e transporte dos grãos. O novo terminal de grãos do Itaqui, o Tegram, está entrando em funcionamento, enquanto a Vale investe no transporte, acrescentando novas locomotivas ao sistema que opera na Ferrovia Norte-Sul. Este mês chegaram mais quatro locomotivas que vieram se somar a sete adquiridas no início deste ano e às 12 que já estavam em funcionamento. No corredor Centro-Norte, que compreende Maranhão e Tocantins, já são 877 vagões.

Com a conclusão da primeira etapa do Tegram, o volume de compra de soja já teria aumentado em 30% nos polos do Maranhão. O jornal Valor Econômico prevê que o volume de grãos poderá chegar a 7,5 milhões de toneladas/ano até 2017.

O Terminal de Grãos do Maranhão, no Porto do Itaqui, representa uma quebra de paradigma, oferecendo um roteiro mais eficiente para os produtores do Centro-Oeste, que podem fugir do congestionamento e da dificuldade de acesso aos portos do Sul e do Sudeste, e do Oeste da Bahia, além do Maranhão. O Tegram terá capacidade estática de armazenamento de 500 mil toneladas, distribuídas em 14 armazéns. Em sua segunda fase (em 2019) deve oferecer uma movimentação final de 10 milhões de toneladas.

Mais uma vez lembro as dificuldades que a Ferrovia Norte-Sul e o Porto do Itaqui enfrentaram e que superei graças a minha convicção de sua importância para o Maranhão e para o Brasil. O Porto do Itaqui há muito é uma realidade, que se pode acompanhar olhando a fila de navios que desfilam diante das praias de São Luís. Tanto na exportação de minérios quanto de grãos representa um dos trunfos da vocação do estado para ocupar um papel de destaque nas exportações do Brasil para o Mundo.

A Ferrovia Norte-Sul, que levou tanto tempo para se tornar realidade, e que em breve será uma das mais importantes do Brasil, foi uma teimosia em que insisti desde a Presidência da República e para a qual consegui atrair o presidente Lula, que a retomou. Ela representa uma mudança no eixo das exportações do Brasil, ligando o coração do Brasil com o Itaqui e com rotas marítimas privilegiadas.

O Maranhão mostra, a cada dia, sua face de sucesso, com as iniciativas nas mais diversas áreas, do gás à celulose, da siderurgia à exportação de minérios. Os grãos do Maranhão são um dos caminhos do destino para o nosso povo.

São com estes avanços que nós nos orgulhamos do Maranhão e os que só pensam em política ficam tristes, porque perdem o discurso do estado atrasado. Por estes números verifica-se que, além de sermos o 16° mais rico do Brasil, estamos entre os três primeiros estados que produzem alimentos para o povo do nosso país. Essa revolução só foi possível com a infraestrutura construída por Roseana e a confiança que ela assegura ao empresariado.

COLUNA DO SARNEY: O Liceu e sua glória

É uma notícia animadora verificar que este ano o aniversário do Liceu foi lembrado. Esse fato não é somente motivo de relembrar o velho e tradicional estabelecimento de ensino que, com 176 anos é orgulho do nosso estado. Perguntado por um repórter o que tinha a dizer sobre essa data, fui sucinto e procurei dizer tudo: “A História do Maranhão passa pelo Liceu. Sinto grande orgulho de fazer parte dessa história”.

É que por ali passaram como alunos e como professores os maiores nomes que fizeram a glória do nosso estado, desde o seu primeiro diretor, Sotero dos Reis, o grande gramático, autor da História da Literatura Portuguesa, hoje uma raridade bibliográfica, em cinco volumes.

Em 1945 entrei no Liceu Maranhense e fiz parte da primeira turma que se diplomava no prédio novo, onde até hoje funciona, depois de sair de sua velha morada na esquina da Rua do Giz com a Rua Henrique Leal. Mas o Liceu teve muitas casas. Foi fundado em 1838 numa sala do Convento do Carmo, na Praça João Lisboa. Para obras passou hospedado sete anos no Convento das Mercês, em 1898.

Começou como Liceu de Artes e Ofícios, mas logo suas cadeiras abrangiam todos os ramos do conhecimento, a começar pelo “Marítimo”, naquele tempo da navegação à vela, onde se estudava “navegação, trigonometria esférica e observações astronômicas”, para se aprender aquilo que hoje se compra por 200 reais, um GPS…

Entrei no Liceu em plena Segunda Guerra Mundial e o Maranhão era uma base dos aliados, com a cidade cheia de americanos e eu ajudava o padre Sales, reitor do Seminário de Santo Antônio, na celebração da Missa Dominical, que ele celebrava para poucos soldados americanos, na Base do Tirirical. Fui duas vezes presidente do Centro Liceísta, comandei o Colégio com José Maria Cabral Marques, no desfile com espada desembainhada, nos 7 de Setembro em que o Colégio desfilava.

Grandes nomes no Maranhão ainda

eram professores. Nascimento de Morais, que só dava 10 nas provas orais (tinha prova oral, com ponto sorteado!), de quem fui companheiro de redação no Imparcial e ele escrevia com o pseudônimo de Bras Sereno. Antonio Lopes, a quem sucedi no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. A professora de História da Antiguidade, Flor de Liz Nina e o nosso diretor, o velho Mata Roma, poeta, cujos sonetos eram recitados e faziam lágrimas nos corações românticos, como o Martírio de Tântalo: “Tão perto desse corpo e não te abraço/ Tão perto dessa boca e não te beijo”.

Eu fazia o curso clássico. Estudava-se latim, grego, italiano e o padre Newton, o grande mestre, nos fazia traduzir os poetas latinos Catulo e Ovídio, dos Tristes.

Ah! Haja saudade, na definição de Cassiano Ricardo, vontade de ver de novo, da nossa classe, meus colegas, Dayse Falcão, Maria da Graça Jorge. Elimar Figueiredo, Terezinha, Regina Borges, Djanira, Chafi, Carlos Alberto, Deomar Desterro e todos os que começavam a aventura da vida. Gerações passadas, berço de gerações futuras. Como eram belas as moças de saia azul e blusa branca, os meninos como eu, de farda de talabarte e túnica comprida ao modo militar. Liceu de glórias… Por ali passaram muitos que fizeram a história do estado: professores, governadores, cientistas, políticos e até um presidente da República.

Parabéns, meu Liceu, pedaço de mim, amor de mármore, que é eterno.

Agora é “saber as consequências políticas”, diz Sarney após fiasco da Seleção

As bolas só queriam rede

Da Coluna do Sarney

Não adianta a gente querer forçar as coisas. Na minha Baixada querida tem um ditado popular que diz “Quando boi não quer beber não adianta assoviar”. Sobre o problema que vivemos no jogo da Alemanha e Brasil, e a vergonha que passamos, ouvi quase todas as pessoas entendidas em futebol – técnicos de ocasião, técnicos profissionais, jogadores, bandeirinhas e pais de santo – afirmarem que o fatídico resultado de 7 x 1 não tinha explicação, era inexplicável.

O diabo é que quase todos examinavam o jogo, as jogadas, as táticas e os craques. Mas o problema era outro. Não estava nas pessoas nem no gramado.

20140708-184811.jpgO problema foi a bola. Colocaram para jogar uma bola que estava exausta, cansada, e só queria rede, estava louca para dormir, e resolveu que o melhor lugar era a rede da trave do Brasil. E quando a colocavam para fora dessa área a bicha voltava louca atrás da rede do Brasil. E não deitou mais graças à Alemanha, que a segurou para não nos envergonhar mais e acabar com o futebol no mundo.

Logo com o Brasil, país do futebol, em que o Nelson Rodrigues teve a ousadia de comparar a Pátria com a chuteira e dizer que a seleção “era a Pátria de chuteira”. A mesma coisa de comparar o Can-Can do Moulin Rouge, em Paris, tão tradicional e perfeito com aquelas mulheres lindas jogando as pernas e mostrando as coxas de frente para a platéia num ritmo sensual, com a Marselhesa.

Agora, vem a ressaca. O técnico da Holanda já tinha dito que não devia haver jogo para terceiro lugar, 2º vice. Só ser 2º vice já é uma desmoralização. Calculem o Brasil 2º vice da Argentina.

Já meu chofer dizia que com o Messi e o papa Francisco devíamos tirar o cavalo da chuva, pois era impossível a vitória, ainda mais tendo em Castel Gandolfo aquele ex-papa, o Bento XVI, alemão, mergulhado em rezas e colocando soníferos na bola.

dilmaAs especulações agora ficam por conta de saber as consequências políticas. Uns dizem que virão distúrbios, o povo querendo achar culpados e dona Dilma, mesmo sem querer nem ter culpa, colocada na berlinda para receber os insultos mais chulos e as coisas mais injustas. Afinal na sua mão só chegou o abacaxi. Não inventou Copa, nem sempre foi fanática pelo futebol e nunca se meteu na luta de catch do futebol gaúcho entre o Grêmio e o Internacional.

Mas, hoje à tarde, depois do que acontecer no Maracanã, vamos ver o que vai acontecer ou não acontecer nas ruas. Afinal, uma coisa eu já sei. Vai surgir uma nova polêmica: Felipão sai ou não sai? Lembremos Ovídio nos Tristes: “tempora si fuerint nubila, solus eris…” (“se os tempos nublarem estarás só”).

“Não vou abandonar a política”, garante José Sarney

De convenção em convenção

Da Coluna do Sarney

Há 60 anos, exatamente em 1954, eu comparecia à primeira convenção partidária, para concorrer a uma cadeira de deputado federal. Ontem, 2014, eu comparecia a outra convenção, para dizer que não desejava mais ter cargos eletivos. Foi, talvez, o discurso mais difícil da minha vida. Em Macapá, era esperado no aeroporto por mais de cinco mil pessoas, bandas de música, faixas e a militância de quase todos os partidos a gritar e exigir de mim: “Fica Sarney”. Muitas vozes se diziam órfãs, que o Amapá vai desaparecer da presença nacional e o Estado vai parar, porque as obras que ali existem fui eu quem as fez – três hidrelétricas, universidade, colégios do antigo Cefet, hospital da Rede Sarah, Zona de Livre de Comércio, Zona Franca Verde, estradas, ponte para a Guiana Francesa, no Oiapoque, recursos para escolas, saúde, saneamento e o porto de contêineres, entre outras. O povo é reconhecido pelo que fiz. Na convenção, comovido, vendo tanta gente chorar, pedi que me ajudassem compreendendo minha decisão, e com o coração de joelhos aceitassem que depois de 60 anos de mandatos, Deus me pedia que eu desse mais tempo para cuidar da minha saúde, da minha mulher e da minha família, e concluísse os livros inacabados.

Não vou abandonar a política. Ela, como eu disse ao ingressar na Academia Brasileira de Letras – onde sou o decano, o mais antigo membro -, que a política só tem uma porta, a da entrada. Virgilio Távora me dizia que só se saia da política quando o povo largava a gente, ou a gente largava o povo. Eu descobri outra maneira, a idade. Já não tenho o vigor dos meus 24 anos, do primeiro ano da primeira campanha.

Ocupei todos os cargos políticos da República, chegando mesmo a ser presidente. Sou o senador que mais tempo passou no Senado, do qual fui presidente quatro vezes: 38 anos. Atrás de mim vem Rui Barbosa com 33 anos.

Dividindo a política com a literatura, publiquei 142 títulos, alguns deles traduzidos em 12 línguas. Sou das Academias Maranhense e Braziliense de Letras, da Academia de Ciências de Lisboa, doutor por algumas universidades estrangeiras, entre as quais muito me orgulham a de Lisboa e a de Pequim. A França me condecorou com a mais elevada honraria mundial, a Grã-Cruz da Legião de Honra, criada por Napoleão. O que eu quero mais senão agradecer a Deus a vida que me deu, as estrelas que colocou em minhas mãos. Vou dar qualquer importância aos que me insultam? Eles daqui a alguns anos, e eu desejo que Deus lhes dê muitos e muitos, serão apenas o esquecimento dos ossos. Não tenho direito de odiá-los nem de ter ressentimentos. Encerro uma etapa da minha vida, vitorioso e sem mágoas.

Com a obrigação de ir à convenção do PMDB no Amapá, estive ausente da festa de sexta-feira, em São Luís, que consagrou Lobão Filho nosso candidato, uma revelação como líder da nova geração. Em um mês, sem propaganda e sem nada, apenas com o seu talento político, chegou aos 29% na última pesquisa, obrigando a empáfia do adversário a entrar em linha descendente e cair até a derrota. Sabe-se que agora, definido o quadro o que conta é a tendência. Lobão Filho está subindo, o outro está caindo. Recentemente, os analistas de pesquisas me afirmaram que quando começar o programa eleitoral, estas linhas se cruzarão. Edinho na frente, o atraso para trás. O “novo”, como dizem, é o mais antigo pensamento político de dois séculos, o comunismo, concebido por Marx e Engels como uma ideia da igualdade, generosa, que data da metade do século XIX, quase 200 anos, fracassou, e sua última lembrança são os milhões de mortos da tirania do Stalin. Chávez, da Venezuela, aqui veio pregá-la, como se o Maranhão fosse o fóssil político do Brasil e agora é o “novo” dos 200 anos!

Lula e Dilma estão com Edinho e com eles o povo do Maranhão. Nenhuma paixão tenho maior do que pela minha terra. Foi aqui que Deus abriu meus olhos para o mundo, fazendo-me nascer. Foi do povo maranhense que recebi o primeiro impulso. Retribui, devolvendo ao estado o que realizei, e tudo do que aqui foi feito passou pelas minhas mãos, até os adversários.

Vejo a felicidade dos meus anos e a mão da Deus.

“Certo estava o Lula quando lutou e trouxe a Copa para o Brasil”, diz Sarney

A Copa e a copa

Da Coluna do Sarney

Cheguei a Macapá e fui perguntando a dona Maria, encarregada da minha casa: “E a Copa?”. Ela foi logo me respondendo: “Doutor Sarney, não sei o que aconteceu, mas com a ajuda do senhor Alvarenga conseguimos estancar a água, mas ficou tudo inundado na copa e a água escorreu por todo o corredor e foi até a varanda, escritório e toda a casa. Mas, graças a Deus, já está tudo resolvido. Apenas estragou o armário, molhou o estufado das cadeiras, manchou a tinta das paredes e agora só resta concertar o forro de gesso que veio abaixo. O resto está bem”. É que por estas artes do diabo que vive criando problemas dentro das residências, um cano estourou na saída da caixa d´água e veio o dilúvio. Chamado o encanador tudo foi estancado, mas o estrago ficou.

copaO estranho é que eu perguntei a dona Maria pela Copa do Mundo, coisa que todos falam e é assunto predominante no Brasil. Expliquei a ela que não sabia do estrago na casa e queria saber da Copa do futebol: “Dessa coisa eu não entendo e só vejo o jogo do Brasil e eu não sei dessas outras terras. Só sei que ganhamos da Acácia (Croácia) e não ganhamos do Mixicu (México).

Ao bom Deus agradecemos que com a Seleção não aconteceu o que aconteceu com a minha copa. A Fifa, que melhor seria Rifa, que só trata de dinheiro, sorte e prêmio, toda hora dá palpite, tabela preço, exige banheiro limpo e fica todo tempo como bicho papão e dragão da maldade dando ordem ao governo e falando grosso. O calmo e doce Aldo Rebelo, educado e culto tem sofrido no bafo dela.

A Copa entra nas minhas lembranças, porque a primeira vez que fui ao Rio de Janeiro foi no dia em que o Brasil tomou aquele gol do Uruguai, que justamente aconteceu quando o nosso avião, um Curtiss Comander do Loyd Aéreo do Borgi, misto de passageiro e carga, com os assentos laterais, que saia de São Luís às cinco da manhã e chegava ao Rio às seis da tarde. Parava em Formosa, em Goiás, para apanhar carne que vinha em fardos amarrados no meio do avião, dos quais escorria um fio de salmoura.

A cidade estava triste. Todos arrasados.

Outra vez que ouvi sobre Copa no Brasil foi do presidente Figueiredo. Disse-me ele “Ora veja, o Havelange, que então era presidente da Fifa, veio me oferecer a Copa no Brasil e eu respondi-lhe “Não quero”. “Só faltava essa. Isso ia me dar muita dor de cabeça, o que já tenho de mais”. Eu considerei o Figueiredo tapado, recusando a Copa no Brasil, que era um acontecimento desejado por todos. E agora eu penso, com os problemas vividos pela Dilma e as encrencas que estamos vivendo desde a Copa das Confederações que o tapado era eu. O sabido era o Figueiredo.

brasilMas, black bloc à parte, a Copa está sendo um sucesso, cheia de surpresas inusitadas como o sucesso da Costa Rica, o fracasso da Espanha, que tomou aquele Lexotan que o Ronaldo tomou quando entrou em campo no jogo do Brasil com a França e saímos de Paris de calções molhados.

O espetáculo belíssimos da alegria dos visitantes-torcedores de outros países, nossas ruas enfeitadas, o povo feliz participando de todos os jogos, enchendo todos os estádios (me recuso a chamar de Arena) e o Brasil sendo noticiário no mundo inteiro, com o testemunho de quantos aqui vieram que esse negócio de baderna é coisa de poucos arruaceiros que existem em todos os lugares, mas o Brasil é o mais pacífico dos países, com gente boa, hospitaleira e que transformou o futebol para além do esporte sendo uma cultura da alegria, um veículo de aproximação entre os povos e de confraternização de todos, sem preconceitos de raça, religião e ideologia. Transformou-se numa festa latino-americana, a maior de todos os tempos. De certo modo, revelando ao mundo esse lado bom e extraordinário do nosso Continente.

Errado estávamos eu e o Figueiredo e o certo estava o Lula quando lutou e trouxe a Copa para o Brasil. Até os estádios estão bonitos e educados. Feia estava a minha copa, que tinha mais água do que Natal no jogo de México e Camarões.

Sarney: “A cidade se expandiu, os prefeitos diminuíram e as obras de drenagem desapareceram”

Em defesa do inverno

Da Coluna do Sarney

Foi o padre Antonio Vieira quem primeiro falou que no hemisfério sul não tínhamos as quatro estações. Aqui o inverno austral, que devia começar com o solstício de 21 de junho, não se sabia quando iniciava nem quando acabava. Só tínhamos duas estações: o período das chuvas chamado de inverno e o sem chuvas, chamado verão, que começava em junho ou julho, quando chegavam os ventos gerais, os alísios soprando do leste, com o céu azul, o mar encrespado e a temperatura mais amena. Era a época melhor, no tempo da navegação à vela, para viajar. Nesses meses vinha-se de Lisboa ao Maranhão em 28 dias, o mais perto trajeto de Portugal para o Brasil. Terminam as chuvas, sopram os ventos.

tunelAs nossas chuvas marcam a vida e a terra. São os aguaceiros que nos dão uma sensação de força da natureza. Na África chama-se a esse período de tempo das monções e aqui não pegou, ficou inverno mesmo. Por incrível que nos possa parecer a palavra tem origem árabe que embarcou nas caravelas, dessas que vinham da África e da Índia.

Aqui os nossos invernos são sempre marcantes. Em geral chuva quase todos os dias, chuva de pingo grosso. Mas São Luís sempre teve um sistema de drenagem perfeito. As chuvas não alagavam nada. As águas desciam as ladeiras rápidas, caíam nas nossas famosas “bocas de lobo” que eram abertas nas ruas mais íngremes. Agora, depois que a cidade se expandiu e os prefeitos diminuíram, as obras de drenagem desapareceram e começaram a encher ruas, alagar bairros e obrigar os automóveis a virarem lanchas.

Neste ano, depois da ameaça de que não choveria, veio maio e trocando as tradições, por mistérios deste mundo, em vez de “trovão e raio”, foi chuva – que nunca é demais -, e então a cidade que já estava esburacada, transformou-se num só buraco cheio d`água. Culpa de quem? Do bom inverno, que em vez de ser louvado, apanhou e até foi responsável por ser decretado “estado de calamidade”. E o inverno que é bonança, água que é divina, passou a ser culpado de tudo. Eu quero protestar e defender o inverno que está na alma de todos nós, é responsável pelos bons anos, fartura no campo, água nos lagos e campos, peixes e açudes cheios, poços e capim, protetor do arroz brabo, andrequicé e canarana. Ninguém que me fale do inverno, ele é nosso e por milagre de Deus, todos os anos, séculos e séculos, nos chega e nos ajuda.

20140510-202135.jpgAgora querer botar culpa no inverno é uma injustiça que merece nosso repúdio. Estou vendo uma coisa folclórica e digna de gozação. Faz-se propaganda de um grande trabalho: fazer pintar a faixa de ruas e até um sinal de trânsito é motivo de progresso e “avançar”. Lembro do Jornal de Pinheiro quando publicou uma nota: “Pinheiro está progredindo. Dona Maria comprou uma máquina de costura que faz pontajur”.

Calcule se tivesse televisão no tempo do Cabrinha, que foi um governador do Maranhão. Onde hoje tem o farol de São Marcos, para orientar a navegação, mostrando que o rumo da terra existia uma fogueira em São Marcos e quando ela apagava era uma reclamação imensa. Então o Cabrinha colocou no seu relatório de governo entre suas grandes realizações acender a fogueira de São Marcos! Agora, as grandes obras são faixas de tinta branca nas avenidas e um sinal de trânsito.

E elogio para essas grandes obras e pau no inverno pelas benditas chuvas que chegaram! É demais!