Política ultrapassada, reações enérgicas
Por Andrea Murad
Caro Joaquim,
Tenho em você uma referência importante e sempre estou atenta às suas declarações opinando sobre os passos que tenho dado neste início da minha carreira como parlamentar. Confesso que, quando anunciei essa candidatura, já imaginava que viria algum comentário seu. Respeito a sua opinião, mas penso diferente. Agradeço a sua preocupação, mas vou aproveitar pra falar à todos que pensam que, por eu ser mulher e filha de político, sempre vou tomar decisões influenciadas pelo meu pai, Ricardo Murad. Está na hora da nossa classe política parar com esse pensamento machista de achar que uma política, por ser mulher, sempre tem um homem mandando por trás. Isso é um engano, eu, por exemplo, tomo as minhas decisões de acordo com as minhas vontades. De fato, tenho muito respeito e admiração pelo meu pai. Ele sempre viu em mim características para ser uma grande política, acredita em mim, mas o meu mandato e o meu desempenho não dependem de Ricardo Murad. Aliás, ele ficaria profundamente decepcionado se minha atuação dependesse dele. Este pensamento é ultrapassado e uma fuga para não admitirem que precisamos fazer o que é certo.
Constrangimento? A minha ‘anticandidatura’ foi uma escolha minha e jamais será motivo de constrangimento para mim. Nem estou preocupada se terei apenas o meu voto. Mais uma vez, a classe política se mostra cada vez mais amedrontada com a nova política que se forma. Lancei uma candidatura pra marcar posição diante desse cenário porque nenhum outro teve a coragem de tomar a frente do que realmente nós representamos para o nosso eleitorado. Não é vergonha alguma ser oposição, defender uma causa, uma ideia e manter um posicionamento. Quem entra na política sabe muito bem que ela tem dois lados e que em algum momento terá que ser oposição e isso é natural. A alternância de poder é fundamental para a democracia e temos que respeitar a vontade do povo. Mas esse mesmo povo escolheu que eu ficasse na oposição e eu escolhi seguir e ser fiel aos compromissos assumidos com meus eleitores. E se meu amigo Joaquim me observar um pouco mais, verá que não sou mulher de ser comandada porque na política, acima de tudo, precisamos ter personalidade, caráter e palavra.
Exposição? Não estou expondo o meu grupo a uma derrota desnecessária até porque o meu grupo já se expôs o suficiente. Agora, se faz muito necessário o partido se posicionar onde realmente é o seu lugar, na oposição e, infelizmente, alguns acham que ainda não é o momento de enfrentar a realidade. Prova disso é o PMDB nunca pedir a minha opinião sobre a presidência da AL. Apenas decidiram sem levar em conta o meu pensamento e só se manifestaram porque eu fui à imprensa protestar pela candidatura única. Eu fui rebatida, prontamente, pelo meu próprio grupo. Nem assim, diante das divergências, fui chamada para opinar a respeito e quando fui chamada já estava tudo praticamente definido. Desde o início desse debate venho dizendo que o partido precisa se alinhar e dialogar. Não sou arrogante, não sou prepotente, não sou autoritária, respeito opiniões contrárias às minhas e acho o diálogo fundamental para resolver qualquer questão. Fui eleita como todos os outros, fui a deputada mais votada do partido, não acredito que o meu posicionamento não tenha que ser levado em conta, assim como o de qualquer outro membro.
Respeito a opinião de cada um, na política aliados também divergem, mas quero que o respeito seja recíproco. Ninguém vai mandar por mandar, achando que eu devo obediência pq comigo não irá funcionar assim. O partido agiu da mesma forma que o governo, impondo. Por isso, a minha candidatura é uma forma de protesto também contra o meu próprio grupo político e contra Flávio Dino, que quer calar a oposição atraindo todos os deputados com acordos pessoais para não ter oposição na AL. Agora, nem que seja apenas um deputado, a AL terá oposição. E na minha posição de candidata terei voz e atitude para dizer o que realmente penso sobre o que está acontecendo no cenário atual da nossa política.