Há uns 15 anos, eu participava de um debate em Xangai, na China, de uma reunião do InterAction Council – organização que congrega 40 ex-presidentes da República e chefes de governo e tem por objetivo estudar e refletir sobre os problemas mundiais -, que tinha como agenda dois pontos: 1) “Segurança da Ásia”; 2) “Problemas do Futuro da Humanidade.”
Essas reuniões, que se realizam anualmente em diferentes países do mundo, convidam também para participar experts dos assuntos debatidos. Em Xangai estavam presentes, dentre outros, Henry Kissinger, ex-secretário de Estado, e McNamara, ex-secretário da Defesa dos Estados Unidos. Da Ásia estava o Lee Kuan Yew, que faleceu no último março, fundador de Singapura e grande autoridade em assuntos do Oriente. Eles discutiam a primeira parte da agenda. Sustentava Kissinger que a China, que nunca tinha sido potência naval, estava armando-se nesse rumo, comprando porta-aviões da desmontada União Soviética e construindo submarinos nucleares e outras armas, o que certamente constituía uma ameaça ao Ocidente, uma vez que, tornando-se uma presença hegemônica no Pacífico, repetiria o Japão de 1940. Daí surgiu um longo debate sobre a necessidade de defesa do Oriente, com o problema da rivalidade secular Japão-China. O Lee Kuan Yew teve uma participação brilhante, enfrentando os pesos-pesados Kissinger e McNamara.
O outro tema, “Problemas do Futuro da Humanidade” foi mais fascinante. Começaram a ser arrolados: 1) o controle de armas nucleares e foguetes transportadores (vetores); 2) as doenças desconhecidas que iriam aparecer e as transformações no corpo humano, inclusive a maior de todas as ameaças, modificações no DNA, capazes de destruir por acaso a espécie humana; 3) conflitos localizados de difícil controle; 4) o crime organizado; 5) o narcotráfico; 6) o problema da água; 7) o balanço alimentar em países pobres, notadamente na África; 8) o desenvolvimento da tecnologia das armas; 9) o controle demográfico; 10) um sistema de organizações supranacionais encarregadas de coordenar esse problemas; 11) Migrações massivas. Este último tema foi introduzido pelo brilhante ex-chanceler da Alemanha, Helmut Schmidt, que, como um profeta, descrevia o que estamos vendo agora, e que enche de lágrimas os olhos de todos os homens que assistem ao desespero dos que fogem de morrer numa guerra para morrer no mar.
Cada um colocou uma preocupação e a lista foi se alongando, sem deixarem de ter predominância as armas nucleares, as doenças desconhecidas, a explosão demográfica, as migrações massivas e o balanço alimentar.
Mas não me sai da cabeça, quando vejo o que acontece diariamente na Europa, no desespero dos refugiados, o erro da invasão do Iraque, estopim para desestabilização do Oriente Médio, com uma conflagração incontrolável, inclusive com o exército cruel e demoníaco do EI – Estado Islâmico -, ensinando às crianças a degola – e aquele soldado com o menino inerte nos seus braços, entregando-o àquele pai que perdeu tudo o que tinha: esposa e filhos.
Assim, com a violência diária que assola nossas cidades, os crimes mais hediondos, a insegurança total e a fuga massiva que termina afogada no mar, só nos resta dizer: “Que mundo triste!”