‘Deplorável espetáculo’, diz Sarney sobre eleições nos Estados Unidos

(Foto: Reprodução/O Globo)

Péssimo exemplo

Da Coluna do Sarney

Deplorável espetáculo estão dando os Estados Unidos, com repercussão mundial e consequências para a democracia que ninguém pode avaliar a profundidade.

O sistema eleitoral americano está defasado no tempo e tem hoje procedimentos que não entram na cabeça de ninguém que desconheça a história americana. É um legado da história, e os americanos não desejam perder essa perspectiva. Seu sistema eleitoral partiu de longo processo de construção, já que o país era uma Confederação com Estados independentes, que abdicaram de sua independência para juntar-se em uma Federação, sem perder essa mesma independência. Então, para aderirem, fizeram exigências que foram consolidadas na Constituição, aprovada em 1789, mesmo ano da Revolução Francesa. Daí surgiram os votos estaduais — delegados — e, para evitar que fossem tragados pelo voto geral, criaram o Colégio Eleitoral.

Com o tempo, evidentemente, essas circunstâncias desapareceram, mas na verdade é a Constituição mais antiga do mundo, que funciona admiravelmente há 240 anos.

Foi feita na Filadélfia, por 55 homens, sob a presidência de Washington — e não podiam dizer nada do que discutiam ali nem a suas famílias. Eram muito religiosos e muitas vezes interrompiam os trabalhos, quando o assunto era de difícil consenso, para pedir a Deus que os iluminasse.

Partiu-se de projetos estaduais, e hoje se sabe como foi construída. Renovam-se a cada ano os livros sobre o processo constituinte americano, principalmente a partir das anotações de Madison, em que se pode ver quase todas as ideias fundamentais que fizeram o texto final.

A democracia exemplar, que se baseou na vontade do povo — na expressão de Lincoln, “do povo, para o povo e pelo povo” —, foi uma ideia e um sistema tão poderoso que se difundiu e foi capaz de construir o maior país do mundo, a maior economia e assegurar a defesa da liberdade e dos direitos humanos como bandeira fundamental da Humanidade.

Agora, surge esse Trump e, em pleno século XXI, resolve desmoralizar seu país, ameaçando fazer aquilo que nem os caudilhos da América do Sul, nem os sobas da África fazem mais. Ameaça não respeitar o Estado de Direito, contesta as eleições, faz acusação de fraude na contagem dos votos, expõe seu país à vergonha internacional e incentiva os ditadores e a força a voltarem a fazer parte do processo de escolha do governo nos países.

O pior é que o perigo de se confundir Trump com o sistema americano das liberdades tira todo o argumento que ele mesmo usa contra Putin e Jiping.

Quem contesta o regime não são seus inimigos, mas o próprio presidente.

É claro que mesmo nos Estados Unidos muito se discute sobre o processo eleitoral arcaico. Basta ver que Biden já tem quatro milhões de votos à frente — Hillary obteve três milhões; Biden, quatro! — e ainda se discute quem ganhou.

Numa análise simplista isso choca e é um absurdo, mas por outro lado há que se respeitar a lição da História. O Padre Vieira diz que a política é a repetição do passado. E essa nação exemplar, sociedade complexa, cheia de grandes defeitos, cumpre a marcha de sua formação. E tem dado certo.

Só deu errado ao produzir um Trump, que jamais teve a noção da responsabilidade que pesa sobre seu país perante o mundo, como exemplo, como guia e como certeza de que a democracia, como dizia Churchill, “é o pior regime, mas não existe outro melhor”.

Escrevo sexta à tarde. Espero que amanhã, quando os meus leitores lerem esta crônica, Trump já seja o passado e Biden volte à retomada gloriosa do “sonho americano”.

11 pensou em “‘Deplorável espetáculo’, diz Sarney sobre eleições nos Estados Unidos

  1. “A pressa em aplaudir Biden como presidente é o blefe mais cínico de todos os tempos, destinado a fazer, de antemão, com que a eventual impugnação da sua candidatura por crime de fraude se torne um escândalo maior do que a opinião pública possa suportar”.

    • Enquanto aqui brincamos de votar, lá se exerce democracia seriamente. Então se houver fraude a mídia pode até tentar disfarçar mas não será tratado como uma eleição de grêmio estudantil, que é a que ocorre por aqui.

  2. “Agora, surge esse Trump”… é Sarney, que coisa não? Enquanto Trump contesta a validade das eleições americanas que de fato tiveram inúmeras dúvidas em seu processo eleitoral, inclusive quanto à possibilidade de contagem de votos apresentados via Correios após o dia própria eleição, a ausência de identificação dos próprios votantes ( não se pode saber se há o respeito à máxima “um homem um voto”), a apuração de votos em um número maior do que de eleitores em determinado estado….enquanto isso, enquanto o senhor contesta “esse Trump”, por aqui, e há pouco, o senhor e o seu grupo, não satisfeitos com a eleição para governado do Maranhão, e não respeitando à vontade popular, o que fizeram?? Tiraram o governador eleito e empossado Jackson Lago do exercício do mandato para nele ocupar um dos seus não? E tudo isso em pleno século XXI.
    É inegável que a qualquer candidato seja possível contestar as eleições; aliás, essa impugnação constitui uma das vias de controle do processo eleitoral, o que todos estão acostumados à assistir, inclusive nas eleições presidenciais americanas, onde os candidatos passados também foram a Suprema Corte contestar o processo eleitoral. Em resumo, as instituições norte-americanas detêm a palavra final e serão capazes de dizer e dar um ponto final coml sempre deram!

  3. Esse texto é sim de Sarney sem ilustrados copy desks ou revisores. No seu estilo peculiar, peca na estilística deixando por hora até ininteligível.

  4. Trump me faz lembrar o saudoso Dr. Jackson Lago, quando não queria sair do Palácio pra entregar o governo a Drª Roseana Sarney Murad, no golpe judiciário que lhe tirou o governo, dando a quem não obteve maioria dos votos, desrespeitando a vontade da maioria do eleitorado maranhense.
    E aí Drª Roseana Sarney Murad, tá bem ser cabo eleitoral ignorada de Neto/Wêverton?

  5. Sarney esta gaga como biden. Perdeu a nocao de tempo, espaço e politica. Aposta em um maniqueísmo simplório entre o biden do bem e trump do mal. A imprensa americana, institutos de pesquisa e os democrtatas fizeram absurdos nesta eleição e o errado e so trump.
    Trump ganhou em estados pobres do sul, cheios de negros e latinos e, apesar da provável derrota, teve muitos votos. E votos impensáveis para os democratas, que como a esquerda brasileira, pensa que e dono dos negros, pobres e gays.
    Resumindo, tanto la como aqui não há o culto a personalidade, mas quem pensa como nos. Não existe o trumpismo como existe o peronismo, existe uma indignação grande com a representatividade politica e o que a imprensa prega.
    Para pensar: trump perdeu ate agora e o mundo não acabou. Se fosse o contrario, como estaríamos de protestos violentos?

  6. Sarney é engraçado eles esqueceram como tiraram Jackson Lago do governo por não aceitar a derrota ém 2006 quem lembra, quem te viu quem te ver.

  7. Pingback: Em telegrama, Sarney diz que eleição de Biden traz 'alívio à humanidade' - Gilberto Léda

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