Opinião? Não na oposição

ttUm fato curioso reforçou, ontem (10), uma tese do titular deste blog: a de que, entre os esquerdistas do Maranhão, há um patrulhamento sem fim da atividade jornalística.

Partem deles, na maioria dos casos, as perguntas sobre como é exercido, por exemplo, o controle da produção de jornalistas empregados no Sistema Mirante. E quase nunca acreditam quando confrontados com o fato de que há um clima de absoluta liberdade dentro das redações – respeitando-se, claro, a linha editorial dos veículos.

Mas, como se disse acima, um outro fato tornou ainda mais clara essa percepção. No domingo (10), após ler um artigo de Cunha Santos no qual ele defendia o direito de “falar mal de Sarney” (veja), o titular do blog fez o seguinte comentário no Twitter: “Só posso dizer uma coisa: Cunha Santos é um gênio. O Mario Vargas Llosa do Brasil”.

Ato contínuo, o colega Robson Paz, secretário-adjunto de Comunicação da Prefeitura e filiado ao PPS, respondeu: “Cunha Santos realmente é um gênio do jornalismo, o que não o impede de fazer análise equivocada como essa sobre a saúde”.

Ou seja, por ser o titular deste blog um governista, pensou Paz que o elogio a Cunha Santos partira por causa do artigo “Parem de torturar o povo de São Luís. Repassem os pacientes dos Socorrões para o Estado” (leia).

O que acabou levando-o a pecar duas vezes: primeiro por criticar um aliado assim, publicamente, diante de uma simples demonstração de independência – prova de patrulhamento; depois, por julgar o comportamento deste que vos escreve pelas suas próprias atitudes.

É que, para Robson Paz – como para praticamente 100% da oposição -, seria inimaginável um governista elogiar a produção de um oposicionista. Ainda mais “falando mal de Sarney”.

Tsc, tsc…

COLUNA DO SARNEY: Ponte do São Francisco: 43 anos

Amanhecia o dia 14 de fevereiro de 1970. Eu comemorava uma grande vitória. Tinha feito tudo para não deixar o Governo do Estado sem inaugurar a Ponte do São Francisco que o governador Antonio Dino colocou o nome de José Sarney. Abri a janela da pequena casa da Avenida Beira-Mar, onde morava, ali no pé da muralha. Isso porque o palácio estava sendo restaurado por mim para entregá-lo ao meu sucessor. Abri a janela e olhei para a ponte, toda embandeirada, referência nova que alterava o visual da cidade de São Luís.

Era um dia de sol, em pleno fevereiro. Estava feliz. Tinha asfaltado toda a cidade, que encontrei esburacada e quase intransitável. Abri a Avenida Kennedy, ligando o antigo Galpão da Rua Grande, onde hoje existe uma Caixa d’Água (também feita por mim). Abri a Avenida dos Franceses (todos nomes colocados por nós), reformulei o sistema de água da cidade, coloquei a energia elétrica de Boa Esperança e renovei a rede de distribuição de energia elétrica na cidade. Fiz a Barragem do Batatã. E estava então concluindo a Barragem do Bacanga. Estava pronto o Porto do Itaqui. Abri e asfaltei a São Luís-Teresina. Deixava criada a Universidade Federal do Maranhão e as cinco faculdades que formaram a Uema. Implantei a primeira TV Didática e Educativa do Brasil (então Cema). Construí a ponte do Caratatiua, a primeira a cruzar o Rio Anil. Implantei uma escola por dia, um ginásio por mês e uma faculdade por ano. Tirei o Maranhão da letargia em que se encontrava. Era uma nova mentalidade. A certeza de que marchávamos para um novo tempo estava na cabeça de todos. E marchamos. O Maranhão mudou. Por isso hoje somos o 17º PIB brasileiro e o 2º porto do país, um dos 10 maiores do mundo.

Eu ia deixar o Governo naquele próximo mês de março, dali a um mês (estávamos em fevereiro de 1970). Todo o Maranhão cantava o hino do Maranhão Novo. Tivemos posteriormente um presidente da República que devolveu a democracia aos brasileiros, trouxe a Vale para o Maranhão e construiu a Norte-Sul.

A Ponte do São Francisco era um dos meus sonhos realizados. Ela libertou São Luís de sua prisão histórica e abriu os braços para o outro lado, onde nada existia, possibilitando a criação da nova cidade – o bairro São Francisco, 400.000 habitantes em 40 anos – e dando condições de preservar o tesouro da cidade velha que a ponte salvou.

Quero soprar a velinha do seu 43º aniversário. Ela é minha querida filha, tem meu nome, mas, sobretudo ocupa um espaço de felicidade na minha vida. Ela é um marco na história da cidade de São Luís. Gerou uma nova vida para a São Luís, encheu os seus pulmões, tornando-se um exemplo que contrasta com o que aconteceu nos outros estados do Brasil. As terras do outro lado foram compradas para o Ipem, evitando a especulação. Um exemplo de honestidade e de seriedade na vida pública.

Floresceu o bairro Calhau, todo o conjunto que ficou na margem direita do Anil, com todos os equipamentos de uma cidade moderna e abriu as praias para os pobres.

A ponte é jovem. Vejo-a bonita e recordo os ventos e o povo que comigo atravessava a pé as águas do Rio Anil. Daqui a 100 anos vai ter a festa da ponte. Hoje, só eu lembrei-me dela, e Bandeira Tribuzi que está no céu está cantando em sua homenagem a Louvação a São Luís.

Então, se lembrará o que ela significou para a grande cidade que vai cada vez mais crescer.

COLUNA DO SARNEY: Eu te conheço Carnaval

Eu tinha um tio Ferdinand, funcionário do Banco do Brasil, que era completamente louco pelo Carnaval. Para ele, o reinado de Momo começava no dia 31 de dezembro, quando nos costumes do velho Maranhão, abriam os bailes populares, de dominó, em que as mulheres reprimidas pela discriminação tinham uma oportunidade de, sob o anonimato, ”rodar a baiana”, e outros, homossexuais banidos e martirizados pela segregação, vestidos de mulher, soltar “a franga”. O baile de máscara acabou e foi até uma marchinha do tempo do Cafeteira (Cafeteira não quer/ máscara neste Carnaval!) e começou a modernidade menos carnavalesca e mais luxuosa das escolas de samba.

Dos bailes populares o mais célebre era do Moisés, uma figura simpática e alegre que conhecia todos os segredos e desejos que nascem e morrem no Carnaval. O Moisés todo ano abria o seu baile, sempre num sobradão desalugado, com grande pompa. Não só meu tio, meu pai e eu também, éramos seus fregueses. Eu menos do que eles, porque sempre fui retraído para a folia.

Outro dia, escrevi aqui sobre os folguedos populares e sobre a identidade brasileira e afirmei que o forte do Brasil era a música e incluí o Carnaval entre as referências maiores. O Carnaval é a mais alta manifestação da cultura da alegria do brasileiro, momento para a picardia e o riso, além de outras coisas boas que ele desperta. Com algum exagero, hoje, tendem alguns radicais religiosos e o Ministério da Saúde a julgá-lo um bacanal. Veja-se os anúncios que o Ministério divulga nas campanhas dos preservativos: “Tenha um Carnaval seguro, use a camisinha”. É até uma negação do significado de Carnaval, que todos afirmam vir do latim CARNE VALE, adeus a carne, porque anunciava um período que precedia a quaresma, tempo de jejum, inclusive do corpo.

Não sei por que me lembrei associar este Carnaval ao meu tio Ferdinand. Ele me traz à memória o seu bloco “O Bando da Lua”, sua participação no Corso lendário de domingo gordo, quando desfilava no carro da Chicó, entre aquelas mulheres de saias grandes colocadas para fora das carrocerias dos carros enfeitados. Seu espírito boêmio incorpora uma estória que fazia parte da história da nossa família. Um tio-avô nosso morreu no sábado de Carnaval, em São Bento. Ele recebeu um telegrama com a triste notícia. Leu e disse à esposa: “Guarde este telegrama e não diga nada a ninguém. Na quarta-feira de cinzas abra e comunique os amigos. Feche a metade da porta – como era costume – e vamos começar o luto”.

E esbaldou-se na farra durante o Carnaval. Algum abelhudo descobriu a morte do velho e cobrou dele, que pulava e não cantava no Bloco: “Canta Ferdinand!”, e ele respondia: “Não posso, estou de luto”.

Todos à folia.

COLUNA DO SARNEY: Exportar ou morrer

Há certas afirmações fortes e bombásticas que são ditas e ficam. No geral, sínteses de emoções momentâneas. Delas é feita a história dos homens e a estória da História.

A mais célebre das nossas palavras-gestos foi a de dom Pedro e está ligada à fantasia da Independência. Para fixá-la, num tempo em que a imagem era a pintura, Victor Meirelles nos deu aquele cavalo fogoso, montado por um jovem ardente que desembainhava a espada na colina do Ipiranga, perto de abandonada pousada, e gritava aos ermos para não ser escutado por ninguém, apenas pelos ouvidos do futuro: “Independência ou morte”.

Esse dom Pedro é uma figura. Se quiséssemos defini-lo na linguagem popular do Nordeste, diríamos que era um “arretado”. Sangue quente, tocado pelos calores do Brasil, não atendeu à determinação das cortes de Lisboa de ir para Portugal, bradou o “Fico”, cortou vínculos de pátria e família e fundou o único império que existiu nestas Américas.

Otávio Tarquínio de Sousa, seu biógrafo, nos diz que a viagem paulista em que tomou a decisão da independência está ligada também aos sofrimentos do imperador, que, além da contrariedade às ordens de Lisboa, tinha o desconforto e a saudade dos amores da Marquesa de Santos. Assim, antes do grito, escrevia à amada que estava “pingando”. Não tinha nada do pai, dom João VI, nunca banana, esperto, com idéias arrumadas, pensando num reino sólido, preocupado com as artes e com as ciências.

Dom Pedro puxara mais à mãe, Carlota – estouvada, liberada, metida sempre em complôs e confusões contra o marido e sonhando ser a rainha do Prata. Como sua mãe, ele era aventureiro, estabanado e tinha compulsão para ter amantes.

Gostou do Brasil. Ao modo da antiga nobreza, ávida de sentimento de posse. Abdicou para não perder o trono, salvando-o para seu filho. Ao embarcar para o exílio e ouvir os lamentos do Marquês de Barbacena, que reclamava por estar abandonando os amigos, reagiu indócil: “Você não pode se queixar. Está de bolso cheio – cheio do dinheiro que roubou para tratar do meu casamento com dona Amélia.” Era o mesmo dom Pedro que dissera ao Marquês de Quixeramobim sobre Gonçalves Ledo, quando este o defendia: “É a terceira vez que o compro e de todas me tem servido bem.”

Em terras lusitanas, dom Pedro salta no Porto, inicia a luta contra seu irmão dom Miguel, vence a parada e torna-se Dom Pedro I do Brasil e Dom Pedro IV de Portugal. Morre no Palácio de Queluz – onde nascera – aos 34 anos, de tuberculose, doença que o acompanhava desde as lutas do Porto. Deixa os filhos – Dom Pedro II, no trono do Brasil e, no de Portugal, Dona Maria da Glória.

“Independência ou morte” é a mais forte das mensagens brasileiras. Caxias comandou na ponte de Tororó: “Sigam-me os que forem brasileiros”. Fernando Henrique, “Exportar ou morrer”. Washington Luís, “Governar é fazer estradas”, e o Barão de Itararé, “Quando pobre come galinha, um dos dois está doente”.

Fiquemos com o padre Xavier, que, no dia 7 de setembro de 1822, gritou três vezes, no Teatro Ópera de São Paulo, para dom Pedro: “Viva o primeiro rei do Brasil”. Depois, vieram o Pelé e o rei Momo.