Caso Décio: as balas que mataram o jornalista

No bojo das investigações que culminaram com o desencadeamento da “Operação Detonando”, a Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic) descobriu até o “percurso” feito pela caixa de balas de onde saíram os projéteis que atingiram o jornalista Décio Sá na noite do dia 23 de abril de 2012.

Em depoimentos à comissão que investigava o caso, dois envolvidos – um ex-presidiário chamado Ananias Aguiar, vulgo Nena, e a companheira de um presidiário, chamada Jacira Nunes – confessaram ter repassado a caixa que acabou chegando às mãos de Jhonatan de Souza Silva, assassino confesso do jornalista. Ele foi buscar pessoalmente o material das mãos de Nena.

Há ainda um terceiro envolvido, chamado Zé Hilton – ou Zé Wilton – a quem o pacote estava endereçado.

ananiasjaciraSegundo os depoimentos dos dois que foram ouvidos na Seic, Jacira foi buscar a caixa de balas nas mãos de uma mulher que chegou de moto-táxi, na esquina da casa de Zé Hilton. Depois, por telefone, o mesmo Zé Hilton pediu à depoente que levasse o pacote à casa de Nena, no mesmo dia. A entrega foi feita à noite.

Nena – que já havia sido avisado pelo mesmo Zé Hilton sobre a entrega do material por Jacira – diz ter ficado com as balas até a noite do dia seguinte. Foi quando um homem em um Palio chegou a sua residência e apanhou o pacote.

Era Jhonatan de Souza…

Caso Décio: definido relator de pedido de investigação contra Cutrim

guerreiroO presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão, desembargador Antônio Guerreiro Júnior, informou há pouco, em entrevista ao JMTV II, que o desembargador José Luís Almeida será o responsável por relatar o processo que definirá se a Polícia Civil pode, ou não, iniciar investigações sobre o suposto envolvimento do deputado estadual Raimundo Cutrim (PSD) no assassinato do jornalista Décio Sá.

“Eu não tinha nada até hoje. Agora tenho. Eu, como presidente do Tribunal de Justiça do Estado, recebi o inquérito policial. De posse dos documentos, determinei, em caráter de urgência, a distribuição do processo contra o deputado estadual Raimundo Cutrim. Despachei o processo desde o dia 18, que tem como relator o desembargador José Luís Almeida. Depois de avaliado por ele, o processo será levado ao Pleno do TJ”, disse.

Só depois desse trâmite o caso pode ser levado adiante.

Cutrim cai em contradição na AL

cutrimO deputado estadual Raimundo Cutrim (PSD) caiu em grave contradição hoje (25) ao reagir, mais uma vez, contra a menção do seu nome em fatos relacionados ao assassinato do jornalista Décio Sá e à agiotagem no Maranhão.

Em vários pontos de um inflamado discurso na Assembleia Legislativa, ele disse ser amigo de Júnior Bolinha – um dos acusados como mandante do crime. Mas ponderou que isso não significa que ele tenha sido conivente com qualquer ato ilícito.

“Eu conheci Bolinha, eu nunca neguei, o Cutrim não vai querer… se tu pratica um crime continua sendo meu amigo, eu não vou botar é panos quentes. […] A pessoa não pode se aconselhar com um amigo, é criminoso? […] Fiquem certos de que qualquer amigo meu continua sendo, embora bandido, mas eu não posso é ser conivente, mas amizade a gente conquista, amizade não se impõe”, disse, em trechos distintos do pronunciamento.

Mas o titular do blog tomou o cuidado de pesquisar nos arquivos e encontrou também um trecho de entrevista do mesmo Cutrim, em junho do ano passado, quando da primeira aparição do seu nome como suposto mandante do assassinato.

Disse ele à época: “Estou à disposição da Justiça, do Ministério Público e da Polícia. Se precisar, quebro meu sigilo telefônico dos últimos dez anos e meu sigilo bancário está à disposição. Eu conheci o Bolinha no final do ano passado e aluguei umas máquinas dele e, após isso, o relacionamento continuou, mas profissional”.

Como um relacionamento que era meramente profissional em junho do ano passado, virou de amizade em abril deste ano?

O blog está à disposição para os esclarecimentos do parlamentar. Mas sem insultos à imprensa, por favor.

Caso Décio: 1ª Vara do Tribunal do Júri tem segunda mudança de juíza

ariane_mendes1A juíza Ariane Mendes Castro Pinheiro não é mais a titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri, onde tramita o processo sobre o homicídio do jornalista Décio Sá. A informação consta de release da Corregedoria Geral de Justiça do Maranhão. A magistrada foi removida para a 13ª Vara Cível.

Por enquanto, quem responde pelo júri é a juíza auxiliar da capital, Patrícia Marques, segundo a assessoria de imprensa da CGJ. Mas um juiz definitivo será definido provavelmente na próxima semana.

Essa é a segunda mudança na Vara. Em junho do ano passado, uma semana após a prisão dos acusados pela morte do jornalista, a então titular, Alice de Souza Rocha, pediu, e o TJ autorizou, a remoção dela para a 5ª Vara Cível de São Luís.

À época, chegou-se a noticiar que a juíza teria sofrido pressão. Ela mesmo negou em nota.

Já Ariane Mendes também protagonizou um fato curioso nesse caso, como revelou este blog em janeiro deste ano. No final do ano passado ela marcou as oitivas das testemunhas caso para os dias 28, 29, 30 e 31 de janeiro. Mas justamente nesse período, não se sabe por que, marcou também suas férias.

No fim das contas, a primeira rodada de oitivas – suspensas por um habeas corpus concedido ao advogado Ronaldo Ribeiro – acabou sendo conduzida pelo juiz Marcio Castro Brandão.

Caso Décio: “Todos estão enrolados”, diz ex-namorada de delegado

A gravação de um conversa entre o advogado Ronaldo Robeiro e uma ex-namorada do delegado da Polícia Federal Pedro Meireles, identificada apenas como Andrea, foi uma das mais  estarrecedoras da reportagem exibida hoje (24) pela TV Mirante.

O diálogo foi travado logo após a prisão do agiota Gláucio Alencar. Na conversa, Andrea diz que Ronaldo, Pedro e próprio Gláucio não a enganam e que ela acredita estarem todos “enrolados”.

Ronaldo: Andrea.
Andrea: Oi, Ronaldo.
Ronaldo: Pois é. Tá todo mundo surpreso com isso, viu.
Andrea: Eu imagino. Eu também fiquei muito surpresa. Eu não imaginava não, viu.
Ronaldo: Não. Tu é doido, pô. Ele (Gláucio) tá desesperado, dizendo “Ronaldo, eu tô pagando uma coisa… Tão me chamando de assassino, cara. Eu não fiz isso.”
Andrea: Ronaldo, me desculpe, mas eu acredito que tenha feito. A minha surpresa é que eu não imaginava que ele fosse capaz de fazer isso, mas me desculpe, você, Pedro… Ninguém me engana que vocês todos estão enrolados.

Caso Décio: “grampos” revelam conversas de citados em inquérito

Áudios a que a TV Mirante teve acesso revelam  conversas entre membros da quadrilha que a polícia diz ser comandada pelo agiota Gláucio Alencar e pessoas citadas no inquérito que apura a morte do jornalista Décio Sá.

Na reportagem exibida na noite de hoje (24), a primeira conversa é travada entre o advogado Ronaldo Ribeiro e uma pessoa identificada apenas por Rodrigo, que passa o telefone ao Franklin Neto, de Raposa. Segundo a reportagem, Neto é definido pela polícia como uma pessoa de confiança dos agiotas e acusado de intermediar negócios com prefeituras da Região Metropolitana de São Luís

Ronaldo Ribeiro: “Cadê Franklin Neto?”

Rodrigo: “Tá aqui esse ladrão. Peraí”

Franklin Neto: “Esperando tu me ligar, até agora”.

Ronaldo: “Ainda nem almocei. Você tá onde, sô!”

Franklin Neto: “Nós estamos aqui, conspiraaaaaannnnndo.”

Num outro trecho, Fábio “Buchecha” cita o deputado Raimundo Cutrim.

Buchecha: “Deixa eu te dizer aqui, o menino me ligou aqui. Fizeram foi armar pra ele, aquele vagabundo do Gláucio.”

Pessoa não-identificada: “Foi mesmo?”

Buchecha: “Fizeram foi armar. Agora eles se f… porque acharam que o Bolinha não tinha costa quente também… Aí, eles não saíram com nadinha. O Bola ligou na mesma hora pro Raimundo Cutrim”.

Pessoa não-identificada: “Heheheh… se f…”

Ouvido pela TV Mirante, o deputado Raimundo Cutrim diz que nunca se envolveu com agiotas e que conhece pouco sobre os integrantes do grupo. “Eu só contratei o Bolinha para fazer um serviço. Quanto ao Gláucio, todo o Maranhão conhece”, Raimundo Cutrim.

Outros pontos revelam a proximidade do delegado da Polícia Federal Pedro Meireles com membros do grupo. Num deles, ele pede que um agente da quadrilha compre uma passagem aérea.

Juan: Oi.

Pedro: Oi, Juan. Pedro.

Juan: Oi, Pedro.

Pedro: Beleza, cara? Tá gripado, bicho?

Juan: Um pouco.

Pedro: Deixa eu te falar, véio. É o seguinte: é que eu vou descer em Imperatriz agora e aí eu queria saber se tem como tirar a passagem de imperatriz pra cá. Ou sábado ou domingo, o que tiver mais barato.

Juan: Tá. Eu vou olhar e já te ligo aí.

reuniaoNo segundo trecho, Pedro Meireles conversa com Ronaldo Ribeiro sobre a prisão de Gláucio Alencar.

Ronaldo: Ei bicho.

Pedro: Oi.

Ronaldo: Acabaram de prender o Gláucio, ó.

Pedro: Quê?

Ronaldo: Acabaram de prender o Gláucio.

Pedro: Por que, cara?

Ronaldo: Rapaz. Eu to vendo aqui na televisão que foi por causa do Décio Sá, ó…

Pedro: Sério, bicho?

Ronaldo: Eu tô indo pra lá agora, qualquer coisa eu te mantenho informado tá?

Pedro: Beleza. Me liga aí qualquer coisa, cara.

Procurado pela TV Mirante, o delegado Pedro Meireles não quis gravar entrevista.

Polícia precisa divulgar nomes de quem fez negócios com agiotas

mapa_agiotagemNão basta à Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic) divulgar a relação das prefeituras envolvidas com agiotagem no Maranhão. Mais do que isso, é necessário que sejam conhecidos os gestores que usaram desse expediente.

Hoje (24), os 41 municípios citados pela reportagem da TV Mirante sobre o caso viraram um pandemônio, com grupos rivais acusando-se mutuamente de participação no esquema.

Comecemos pelo maior exemplo, São Luís. Que prefeito fez negócios com Gláucio? Foi Edivaldo Holanda Júnior (PTC)? Foi João Castelo (PSDB)? Ou teria sido Tadeu Palácio (PP)? Como só o município foi apontado, pode ter sido qualquer um.

Em Coelho Neto, por exemplo, o atual prefeito, Soliney Silva (PSD), reeleito ano passado, já reagiu. “Oficializarei ainda hoje à polícia pedindo informações. Garanto que não há envolvimento da minha gestão com agiotas”, disse ao titular do blog.

Em Pinheiro, aliados de Filuca Mendes (PMDB) garantem que os problemas da Prefeitura com agiotas são da gestão de José Genésio (PSB). Os socialistas tentam jogar a culpa em no peemedebista.

Um dos poucos citados nominalmente na reportagem, o ex-prefeito de José Cardoso Filho, de São Domingos do Azeitão, garante que o cheque supostamente assinado por ele foi fraudado. “Uma montagem grotesca”, declarou. Ele também afirmou que encaminhará ofício à polícia solicitando dados do inquérito para se defender, e cogita até processar o Estado.

Portanto, para evitar dúvidas como essas, garantir a isenção da apuração e o bem dos cidadãos/eleitores, é importante que se saiba, um a um, quem negociou com agiotas.

Caso Décio: o “dossiê” de Gláucio Alencar

glaucioDesde o início do mês passado, advogados do agiota Gláucio Alencar tentam abrir um canal de diálogo com o presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara dos Deputados, deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP).

Dizem ter um “dossiê” que comprovaria serem outros os mandantes do assassinato do jornalista Décio Sá. Como o parlamentar paulista ainda não os recebeu, apelaram, esta semana, para a deputada estadual Eliziane Gama (PPS), presidente da CDH da Assembleia Legislativa.

O “dossiê”, no entanto, nada mais é do que o fruto do trabalho de um detetive contratado pelo próprio Gláucio Alencar. Além de postagens em blogs e comentários, contém partes do inquérito policial que supostamente favorecem o agiota. Um recorte do todo que deve ser utilizado pela defesa do principal acusado de haver mandado matar o jornalista. Como fora produzido por alguém contratado por Gláucio, dificilmente apontaria sua culpa mesmo.

Ao buscar apoio das CDHs, os advogados do preso apostam no desconhecimento que os dois presidentes possuem sobre o caso para tentar algum vantagem.

Algo que parece ter funcionado com o também deputado federal Domingos Dutra, ex-presidente da CDH da Câmara, que chegou a pedir a federalização do caso no ano passado, e ainda ontem (23) falava em “inconsistência das investigações” (veja no vídeo acima).

Deve ter, como muitos, ficado impressionado com o conteúdo do “dossiê” entregue a ele em 2012.

“Fantástico” tentou “reaver” reportagem sobre agiotagem no MA

natimA produção do “Fantástico”, da Rede Globo, parece ter-se arrependido de não haver exibido no domingo passado (21) a reportagem produzida pela TV Mirante sobre a agiotagem no Maranhão.

Tomando como ponto de partida o assassinato do jornalista Décio Sá, a matéria fora produzida com o objetivo de ser apresentada no dominical dois dias antes do primeiro ano da morte dele.

Mas a ampliação da cobertura sobre o atentado em Boston acabou “derrubando” a pauta maranhense. Resultado: o assunto ganhou destaque nos telejornais locais e no Jornal Hoje.

Foi então que a produção do “Fantástico” resolveu entrar em contato com a direção da Mirante, para pedir que a última reportagem da série – exibida ontem e produzida especialmente para o programa da TV Globo – fosse apresentada apenas no domingo que vem (28).

Nada feito.

Se arrependimento matasse…