PCdoB quer regra para moderar o poder do PT em federação
O Globo
O PCdoB discute com o PT a formação de uma federação junto com o PSB e já tem em mãos uma proposta de estatuto que modera os poderes dos petistas, caso os partidos decidam mesmo se unir.
A ideia de lideranças do PCdoB é que o estatuto preveja que o comando da federação seja proporcional ao tamanho das bancadas desses partidos na Câmara dos Deputados na eleição de 2018. Mas as decisões deverão ser tomadas em consenso, senão por uma maioria de três quintos da cúpula.
Com isso, espera-se poder amenizar o poder do PT frente às demais siglas, que são menores. Em 2018, o PT elegeu 54 deputados; o PSB, 32 e o PC do B, 9.
O principal temor de integrantes do PC do B é ser engolido pelo PT na nova conformação. Membros como o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) e Manuela D’Ávila já expressaram internamente e também a colegas de outras siglas que preferiam se unir a siglas menores, como o PSOL e a Rede, em vez do PT, devido à disparidade de tamanho dos dois partidos.
“A assimetria entre os partidos seria muito grande. Como organizar o comando de uma federação com partidos tão desproporcionais?”, afirma Orlando Silva. “O PT já é uma federação”, diz, referindo-se às diferentes correntes que compõem o Partido dos Trabalhadores.
A opinião dele deriva da constatação de que, embora a aliança com o PT possa ajudar a aumentar a bancada do PCdoB em 2022, também significará uma união estável de quatro anos. Com a federação, as listas de candidatos a deputados e também os escolhidos para cargos majoritários, como governadores em 2022 e prefeitos em 2024, deverão ser elaboradas em conjunto.
O deputado diz preferir para além de 2022, quando o partido deverá apoiar a candidatura de Lula à presidência, uma militância à esquerda, com forte atuação na juventude, enquanto o PT migra para a centro-esquerda junto com o PSB.
A opinião encontra eco em membros do PSOL, cuja maioria por ora descarta integrar a federação com o PT.
“Para nós, faz mais sentido nos aliarmos à Rede, em uma federação à esquerda”, afirma o deputado Ivan Valente (PSOL-SP).
Luciana Santos, que é presidente do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco em uma aliança com o PSB, defende que todos os partidos de esquerda conversem para tentar fazer uma única federação, mas reconhece as diferenças entre as siglas, que calculam necessidades próprias nesta eleição.
Enquanto o PSB tenta negociar com o PT candidaturas a governador em estados-chave, como São Paulo, Pernambuco, Espírito Santo e Rio, para o PC do B a expectativa é compor listas competitivas de candidatos a deputados federais. Isso permitirá que a sigla possa superar a cláusula de barreira em 2022 e também lhe garantirá financiamento via fundo partidário e fundo eleitoral, que são liberados de acordo com o número de deputados eleitos.
Os partidos vêm conversando desde o ano passado. Na semana passada, Santos se reuniu com Carlos Lupi, presidente do PDT, que embora tenha como candidato a presidente Ciro Gomes participa das conversas sobre uma convergência da esquerda, que também envolve o PV.
Ela afirma que o desejo dos partidos é aumentar o número de representantes da esquerda na Câmara dos atuais 130 para algo em torno de 180, o que poderia dar sustentação a um eventual governo Lula.
“Este é o debate que os partidos estão colocando na negociação com o PT”, diz Santos.
Esse é o principal argumento para dobrar a resistência de petistas na federação. Alguns integrantes do partido já expressaram internamente desconforto em ceder espaço nas listas de deputados para aliados de outras siglas, abrindo mão de candidatos próprios.
Nesta semana, lideranças começarão a aprofundar as discussões sobre como será o comando das federações. Um dos componentes mais sensíveis neste cálculo é o prazo. Como a federação tem que estar pronta e oficializada em cartório já com estatuto até 1o de março, os partidos têm cerca de um mês para fechar as negociações. O cronômetro está ligado.