Essa é difícil de acreditar! O Bradesco afirmou ontem (4) ao titular do blog, por meio de mensagem eletrônica, que desconhece o caso envolvendo duas de suas gerentes – ambas já demitidas – e pelo menos 14 vereadores de São Luís num esquema de agiotagem com recursos públicos.
“Bom dia, Gilberto! As áreas responsáveis, através da assessoria de imprensa, informaram que desconhecem este caso”, diz a instituição financeira no comunicado encaminhado na quarta-feira, não informando, contudo, porque as duas funcionárias foram demitidas, então.
O escândalo estourou depois que a gerente Raimunda Célia Abreu, que controlava as contas da Câmara Municipal no banco, foi demitida por suspeitas de envolvimento com o esquema. Ela já foi indiciada por estelionato e apropriação indébita (reveja). A polícia ainda não conseguiu ouvi-la. Ela chegou a ser rastreada até São Paulo, mas depois “sumiu do mapa”. Há suspeitas de que ela esteja em Portugal.
O advogado de Raimunda Célia, José de Alencar Júnior, garante que a cliente está em São Luís. “Ela está aguardando a intimação para prestar os esclarecimentos necessários. Ela vai colaborar com as investigações”, disse.
O presidente da Câmara em exercício, vereador Astro de Ogum (PMN), confirmou que esteve ontem à tarde no Bradesco tratando do assunto. Ele nega, no entanto, que exista algum esquema de agiotagem envolvendo os parlamentares.
“O que eu sei é que tem vereador que tira empréstimo para pagar as contas. Tem gente que tirou R$ 10 mil, R$ 20 mil, até R$ 80 mil, mas tudo dentro de uma legalidade, todo mundo pagando normalmente, como qualquer trabalhador que recorre a um empréstimo”, disse.
Contrato
Um requerimento do vereador Marquinhos da Vila Luizão (PRB) pedindo a rescisão do contrato entre a Câmara e o Bradesco deve ser votado na segunda-feira (9). O pedido entrou em pauta na semana passada, mas foi retirado por um pedido de vistas do vereador Alencar Gomes (PDT).
“Nós vamos até o fim. Meu requerimento vai para a pauta na segunda-feira. Não existe recuo, não. Da minha parte, não. A gente vai defender a quebra do contrato com o Bradesco”, afirmou o autor do requerimento, que classifica o caso como “confusão grande”.
“É uma confusão grande, com esse negócio de banco, uma situação bem complicada. Mas já existe uma investigação tramitando e vamos ver no que vai dar. Há suspeita sim de algumas irregularidades, alguns empréstimos que foram feitos. Alguns funcionários da Casa fizeram alguns empréstimos lá e esse empréstimo está sendo descontado do recurso da Câmara direto”, declarou.
Estratégias
Ao que tudo indica, os vereadores envolvidos no escândalo já têm pelo menos duas estratégias definidas para a sua defesa. Em um frente, tentarão culpar a ex-gerente Raimunda Célia por toda a operacionalização do esquema, tentando passar-se, todos eles, por vítimas de uma estelionatária.
Na segunda, a intenção é culpar funcionários pelo negociação com a representante do banco. O problema, neste caso, é encontrar uma forma de culpar servidores “fantasmas”.
Esquema
No total, estima-se que foram desviados pelo menos R$ 26 milhões das contas do Legislativo Municipal. O dinheiro era desviado por meio de empréstimos consignados. A Câmara Municipal autorizava créditos milionários em nome de vários funcionários da Casa de uma vez só, mas não descontava deles nos contra-cheques.
O apurado era emprestado a terceiros, mediante o pagamento de juros de até 7%. Com o que era arrecadado, pagavam-se as parcelas dos empréstimos e o lucro era dividido entre os participantes da jogada.
Há, ainda, suspeitas de que Raimunda Célia dava cheques da Câmara – ela teria talões do Poder Legislativo assinados e em branco – como garantia em empréstimos tomados de agiotas. Nesse caso, ela operava, ainda de acordo com o que apuram a polícia e o MP, esquemas com clientes privados do banco.