(Foto: @heberslz)

A reação da população às recentes manifestações ocorridas em São Luís denotam que já não se apoiam como antes os movimentos.

No início da semana, dois protestos na Avenida dos Africanos – em um deles cobrava-se pedágio para deixar alguém passar por um bloqueio – já se mostraram esvaziados e, mais do que suporte do cidadão comum, os manifestantes receberam sua repulsa.

Hoje (19), mais um episódio de interdição de avenida. Desta vez, foram bloqueados os dois sentidos da Avenida Daniel de La Touche no Ipase, por meio da interdição da Ponte do Caratatiua.

Os engarrafamentos ficaram quilométricos em questão de minutos, apesar da rápida desobstrução após negociação com pessoal da Prefeitura de São Luís. Nas redes sociais, no entanto, quem foi pego de surpresa acabou reagindo (veja ao lado uma pequena amostra).

O que tem ocorrido é que esses movimentos isolados já não correspondem mais àquele anseio geral que levou milhões às ruas em todo o país. As manifestações que se alastram pela capital do Maranhão representam apenas os anseios de pequenas parcelas da comunidade. Mas o modo escolhido para protestar – sempre com o fechamento de vias – prejudica o dia-a-dia de muito mais gente do que os que porventura estão reivindicando, muitas vezes, um direito legítimo.

E é essa desproporção que está fazendo com que os manifestantes percam o apoio do povo.

Um “manifestante” que comandava hoje (16) cedo o bloqueio da Avenida dos Africanos, no Coroadinho, aproveitou o protesto para faturar com os motoristas que precisavam passar pela barreira de paus e pneus formada por moradores do bairro.

Um leitor do blog precisou pagar para seguir seu caminho e, revoltado com a situação, decidiu registrar em vídeo o momento em que um rapaz pede para ele dar “cinco do refri” antes de liberar a passagem.

“Como é que faz pra passar aí?”, pergunta o motorista.

“Dá cinco [reais] do refri [refrigerante]”, responde o rapaz, que depois aparece nas imagens “coordenando” o tráfego numa pequena passagem ao lado da barricada.

“Pega aí e vê se tu libera lá pra eu passar. Fala lá”, conclui o leitor do blog, que depois emenda: Ësse é o Brasil!”.

Oficialmente, a manifestação teve como objetivo pedir por melhorias de infraestrutura, segurança, educação e saúde no bairro. Mas, pelo jeito, teve gente que aproveitou para ganhar uns trocados.

O dia promete ser caótico em São Luís. Três manifestações marcadas para esta quinta-feira (11) – uma delas iniciada às 8h da manhã – devem parar tudo na cidade. Todas fazem parte de uma mobilização nacional denominada “Dia Nacional de Lutas”.

No início do dia, trabalhadores do Porto do Itaqui interditaram a via de acesso ao local. O Trânsito ficou lento na entrada da cidade, pela Vila Maranhão, e também na Avenida dos Portugueses.

Eles exigem mais melhorias salariais, mais postos de trabalho e a revogação de um artigo da Nova Lei dos Portos, que exclui a possibilidade de contratação com vínculo empregatício dos trabalhadores cadastrados apenas no Órgão Gestor de Mão de Obra.

Ônibus

Às 15h os ônibus que circulam na região metropolitana da capital devem parar, já que os rodoviários farão paralisação no centro da cidade. Eles trambém aderiram ao movimento nacional, e já anunciam novo movimento para a semana que vem.

“Vamos dar apoio ao movimento nacional. Na próxima semana, temos um movimento só nosso, por maior segurança no transporte público. Mas hoje, às 15 horas, iremos parar as atividades na região do centro”, declarou Dorival Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário do Estado do Maranhão (STTREMA), em entrevista à TV Mirante.

E às 18h, nova concentração na Praça Deodoro para mais um ato de protesto por melhorias no transporte público, saúde e educação. Os grevistas da Caema e membros do Sindicato dos Comerciários devem se unir a essa manifestação.

Aos poucos, o “gigante” – metáfora criada pelos movimentos das ruas para simbolizar o povo brasileiro, que protagonizou um mês inteiro de manifestações por moralidade na política – vai adormecendo de novo.

Depois de forçar o Congresso Nacional a ter uma semana produtiva como nunca se havia visto antes, os protestos diminuíram de intensidade e os mesmos políticos que se mostraram acuados e responderam aos anseios da população há três semanas, voltam a a se posicionar como se nada houvesse acontecido.

Ontem (9) o Senado rejeitou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que, se aprovada, proibiria que senadores escolhessem parentes de sangue de até segundo grau (pais, filhos e irmãos), como suplentes – que assumem o cargo do titular quando há afastamento temporário ou definitivo.

No Maranhão, há uma caso assim. O senador Edinho Lobão (PMDB) é filho do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), e assumiu o lugar do pai assim que ele foi nomeado para a equipe da presidente Dilma Rousseff (PT).

Ainda para ficar no Maranhão, na segunda-feira (8) a Assembleia Legislativa aprovou, por unanimidade uma moção de repúdio ao Congresso e ao próprio Governo Federal pela proposta de reforma política via plebiscito. As not;icias que chegam de Brasília dão conta de que essa pressão política nacional sobre os ombros dos “nossos representantes” pode acabar surtindo efeito e a reforma ser discutida sem a participação efetiva da população.

Já no Rio de Janeiro, o Governo do Estado resolveu substituir, sem licitação, o helicóptero   que caiu no mar de Copacabana em 2012 (veja). A operação custou R$ 7 milhões e ocorre justamente no momento em que as viagens aéreas do governador Sérgio Cabral (PMDB), cujos gastos com esse tipo de transporte dobraram em seis anos, viram alvo de investigação no Ministério Público.

Em São Paulo, a Câmara Municipal da capital resolveu gastar R$ 20 milhões com publicidade “para atrair o cidadão”.

Hoje (10) a Câmara dos Deputados vota o texto final da proposta que pode definir a destinação de 75% dos royalties do petróleo para a educação e 25% para a saúde. A proposta já passou pelo Senado.

Se o povo não ficar de olho, surpresas podem acabar acontecendo. O problema é que o “gigante” parece cansado depois de um mês de trabalho duro, e vai adormecendo novamente aos poucos. Enquanto os mal-intencionados, esses continuam alertas 24 horas por dia, sete dias por semana.

Thiago Bastos
titular interino

às 14h50

Passageiros indo a pé em direção à BR-135, devido à manifestação (Foto -Imirante.com)

Manifestantes que interditaram os dois sentidos da BR-135, no início da manhã de hoje, mantém o protesto, mesmo após a reunião entre representantes da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Semosp), da Polícia Militar e das comunidade Recanto Verde e Vila Itamar, por volta do meio-dia de hoje.

Pessoas que chegam de viagem, por exemplo, em ônibus, com destino à São Luís, estão percorrendo a pé cerca de três quilômetros da rodovia, até chegar ao destino final.

Informações não-oficiais dão conta de uma nova interrupção da BR-135 amanhã.

É esperar para ver…