Pedras, Pedrinhas, pedradas
*Pedro Leonel
Esta crônica pede licença para deixar de ser simples crônica: voa mais alto e pretende exibir fragmentos ou idéias para futuro ensaio, produto desta pena ou de outra, altissonante, dotada de melhor gênio. Em suma, a crônica não quer ser pedante; pede vênia, apenas, para não ser pedestre.
Evidente é que versaremos a tragédia de Pedrinhas com a dor, cores fortes e drama que galvanizaram a opinião pública daqui e de além fronteiras. E por Pedrinhas entenda-se, por óbvio, não apenas certa penitenciária, senão que todo sistema prisional do país.
Desde quando a crise atingiu aquilo que se supunha seu paroxismo ― com a crase sanguínea do degolamento de presos produto da luta interna das facções criminosas ― esperamos a poeira baixar para só então emitir estes conceitos. É o que a seguir tentaremos, cuidando para não ser contaminados pela emoção.
Pedrinhas, com todo seu hediondo festival de horrores e barbárie, não passa de mero episódio, emblemático que seja, de um problema de superlativa magnitude em muito superior à carnificina intramuros de uma penitenciária estadual.
Com efeito, alguém dotado de uma consciente objetividade das coisas, que lhe permita ampliar o horizonte de visão, já deve ter percebido que outra, bem mais grave e sangrenta, é a realidade que transcende a desgraçada e fatídica Pedrinhas. E essa realidade se chama o império das drogas, com o narcotráfico ensejando prisões em massa; e, nos presídios, prolongamento e fortalecimento do crime organizado dividido em facções rivais em contínua luta pela dominação dos mercados.
Diante disso, pesa-nos dizer, corrupção nos presídios, péssimos serviços de carceragem, masmorras medievais, mortes de presos por presos, ônibus queimados, imolação de inocentes, o inferno ministrado em doses diárias ― tudo isso não passa de reles subproduto de um mal maior.
Esse mal maior, fonte geradora dessa cataclismo social, dele ninguém cogita: sobre ele, todos, silenciam. E o fazem por cegueira, cumplicidade ou medo moral. Entre esses todos, sem receio pela generalização, se situam sem exceção honrosa aqueles que já tiveram oportunidade de deitar falação sobre o assunto. Todos são unânimes em reconhecer que Pedrinhas é grande usina da morte; mas não dizem que essa usina tem por combustível principal o fator drogas. O silêncio se torna bem mais acentuado e comprometedor quando deveriam apontar a responsabilidade, próxima ou remota, pelos fatos.
O que agora será dito não são meras alegações, pedras escolhidas a esmo com a só intenção de lapidar o nome alheio. São, ao contrário, verdades colhidas no noticiário de hoje e de ontem: talvez sirvam de pedradas para atingir o coração do monstro.
Já foi dito, vezes sem conta, desta coluna, que o Brasil é hoje um grande refém do narcotráfico internacional. Que é a FARC a principal mantenedora da exportação das drogas para o Brasil. Que a FARC é o braço armado do partido comunista na América Latina. Que todos os partidos comunistas, inclusive o tupiniquim PCdoB, estão reunidos programática e ideologicamente pelo Foro de São Paulo.
Ninguém é dono da verdade, mas todos têm o dever moral de aceitar a fidelidade aos fatos ― e deles retirar a conclusão lógica necessária. Nesse caso, não será hiperbólico dizer que o PCdoB, em larga medida, é o grande responsável por quantas Pedrinhas estejam ocorrendo Brasil afora.
*Advogado