Joaquim Haickel*
Meses atrás fui convidado para uma conversa com um grupo de pessoas que gostaria de debater sobre a atual conjuntura política e eleitoral de nosso estado e falar sobre suas atuais circunstâncias e sobre as possíveis consequências decorrentes delas.
Depois de vários encontros resolvemos que deveríamos suspender as reuniões, pois mesmo que a conversa em nosso âmbito fosse muito produtiva, na prática não levava a nada, já que estávamos completamente fora no núcleo das decisões. Eu, no entanto, acredito que o simples fato de um grupo de pessoas influentes, cada um em seu segmento, como eram aquelas, sempre acabam ganhando ao se reunirem para conversar sobre os rumos pelos quais o nosso estado pode e deve seguir.
Desde nossa última reunião não mantive mais nenhum contato em conjunto com aqueles amigos, apenas falei individualmente com um ou com outro, mas sei que todos continuam preocupados com o rumo que a coisa tomou.
Constatamos que o grupo do qual fazemos parte, que mais tem se mantido o poder no Maranhão nesses últimos 48 anos (34 anos contra 14, fazendo uma diferença de 20 anos), vem, ao longo do tempo, cometendo erros graves.
Em nome de uma renovação, necessária e indispensável, jogou-se fora o manual da boa e antiga política. Antiga, jamais velha. Antiga, porém sábia e experiente. A boa prática dos dois dedos de prosa na porta da casa do cabo eleitoral, do chefe político, a visita pura e simples, sem ser preciso alarde, comitiva, entrega de obras…
Nos últimos anos faltou-nos a vontade de conversar com os políticos, até porque os políticos também mudaram, passaram a não querer apenas conversar ou simples promessas, ou compromissos não cumpridos. Passaram a exigir participação no governo, nas decisões, emendas parlamentares…
Mas deixemos os entretantos e entremos logo nos finalmentes.
Do jeito que as coisas estão, elas não podem ficar. Chegamos a um impasse que nos coloca em uma situação bastante delicada, mas acredito que ainda haja uma saída. Uma única.
Bem, como tive que me afastar por alguns dias para acompanhar minha mãe em São Paulo, que teve que se submeter a uma importante cirurgia cardíaca de emergência, vou quebrar a promessa que fiz a mim mesmo, quando disse que não me meteria nesse parangolé se não fosse chamado. Lá vai.
Aprendi muito cedo que em política existe uma coisa indispensável, de tempos em tempos. O fato novo, com o qual se muda as circunstâncias para fazer com que as consequências desejadas sejam alcançadas. Sem fato novo tudo fica mais difícil.
Primeiro, não vou dizer nada que todos os envolvidos já não estejam carecas de saber.
O melhor caminho para elegermos o nosso candidato a governador é colocá-lo desde já à frente da administração deste mesmo governo. Para sua eleição ficar mais leve ele deve ter um candidato a senador que o ajude nesse intento.
Logo, para que Luís Fernando seja o governador eleito pela Assembleia e para que Roseana, o melhor nome para disputar o Senado ao seu lado, possa realmente fazê-lo, precisa-se que o presidente da ALM entenda e aceite que, se ele não abrir mão de sua candidatura de governador para um mandato de nove meses, isso não irá acontecer e aí… Nem mel nem cabaça. Talvez um pouco ao contrário. Um pouco de má vontade por parte de quem se sentir prejudicado.
Bom, mas o que Arnaldo Melo e seus fiéis escudeiros deputados estaduais, que na verdade são os detentores do poder de decisão sobre a eleição governamental e senatorial de outubro próximo, ganham com tudo isso? Conversa eles não aceitam mais. Quando aceitariam não tiveram. Agora só há uma saída e não há como enganar nem ser enganado nesse jogo, o que é uma grande vantagem.
Precisa-se de um acordo de cavalheiros. Entre pessoas honradas. Com fiadores de crédito reconhecido na praça e no mundo político, capazes de garantir com segurança que Roseana possa deixar o governo para se candidatar ao Senado; que Luís Fernando seja eleito governador na ALM; que o vice seja indicado por Arnaldo e por seus deputados mais chegados; que no novo governo, se abra espaço para que o presidente da ALM e esses deputados indiquem alguns importantes secretários de estado; que no ano que vem, depois do governador eleito, da Assembleia refeita, fique desde logo acertado a recondução de Arnaldo Melo para a presidência do Legislativo maranhense.
Em minha modesta opinião não há outro acordo que possa ser feito ou aceito por nenhum dos lados desse imenso e hoje paquidérmico grupo político. Não vejo hoje nenhuma outra saída. Nenhuma que nos possibilite mais chance de vencermos as eleições de outubro próximo.
Alguém poderia perguntar se é possível confiar nas partes envolvidas nesse acordo. Tenho certeza absoluta que sim, pois ambas conseguiram uma coisa inédita na vida política maranhense. Não ter saída. Se correrem o bicho pega, se ficarem o bicho come.
Se Arnaldo e os deputados que o querem ver nos Leões, não abrirem mão de suas posições, Roseana permanecerá no cargo e tentará eleger Luís Fernando. É claro que esse não é o melhor cenário, mas é menos pior que os outros que se apresentam. Se Luís Fernando não cumprir os acordos estará dando motivo para os demais descumprirem sua parte nele, se bandeando para o lado adversário, fato que muito possivelmente decidiria a eleição.
Estão no mesmo barco. Numa dança cigana de lenço e faca.
* Secretário de Esportes e Lazer e membro das Academias Maranhense e Imperatrizense de Letras e do IHGM